Estilo & Cultura

Exposição revela o arquiteto Key Imaguire que não estava no Google

Sandro Moser
09/09/2018 15:00
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Exposição de obras inéditas, algumas guardadas há quase 50 anos, revelam um Key Imagure Junior para muito além da arquitetura e do urbanismo. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Na abertura da exposição de suas obras de artes visuais na Bienal de Quadrinhos, Key Imaguire Jr. tirou um relógio da parede da sala do Museu Municipal de Arte (MuMA), em Curitiba, e pediu um minuto de silêncio pela morte da Cultura no Brasil, lembrando o incêndio no Museu Nacional no Rio de Janeiro, na noite do último domingo (2).
Na foto que abre a exposição, ele empunha uma espada de samurai por ele mesmo entalhada em madeira.  Ao fundo, sua incalculável biblioteca de gibis. O gesto, a foto e as demais obras da mostra revelam o lado performático, bem-humorado, contestador e criativo do arquiteto.
Uma faceta escondida por quase 46 anos, ofuscada pela persona pública austera do professor e pensador do urbanismo. A exposição fica em cartaz no MuMA (Av. República Argentina, 3432, Portão) até o mês de novembro. Depois as obras devem voltar para a casa do artista a não ser que alguma iniciativa pública ou privada decida outro destino.
Na mostra há colagens, desenhos, quadrinhos, fotonovelas e composições gráficas que tratam de temas da cultura pop como música, fotografia e cinema aliadas a reflexões sobre estética e urbanismo.
Em uma delas, por exemplo, Key compara o monólito da abertura do filme 2001, Uma Odisseia no Espaço (1969), do diretor Stanley Kubrick, a um edifício modernista do arquiteto teuto-americano Mies van der Rohe (1886-1969).
Em algumas das fotonovelas há crítica politica aos canalhas da época (cada época tem os seus). Em outras, ele próprio é protagonista de mensagens tragicômicas de liberdade. Há também um conteúdo erótico-fetichista na série de objetos que criou.
“Os desenhos foram feitos em 1972. As fotos são da década de 1980. Os objetos, faço até hoje quando me dá vontade”, resume o artista.
Um dos destaques da mostra é a reprodução da cena final do filme “O Planeta dos Macacos” (1968), quando o personagem de Charlton Heston descobre enfim a dimensão da tragédia que o envolve. Uma tela reproduz a cena sem parar atrás da escultura. O canto de sua casa onde passa horas em leituras foi reproduzido no meio da sala expositiva.

Vida secreta

Canto de leitura de Key Imaguire Jr. foi reproduzido na exposição que fica em cartaz até novembro no MuMA. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Canto de leitura de Key Imaguire Jr. foi reproduzido na exposição que fica em cartaz até novembro no MuMA. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Key admite que a criação de arte plástica seja uma espécie de vida paralela, de identidade secreta. “De vez em quando, me vem na cabeça e eu faço. Eu sempre gostei de experimentar as coisas, fazer para ver como é que fica”.
Todo o trabalho escondido de Key só veio à tona pela intervenção da curadora da Bienal, Mitie Taketani. “Ela foi lá em casa e queria  saber o que eu tinha feito. Eu mostrei isso e ela gostou  por causa do caráter inédito inclusive”, disse.
A proprietária da loja de quadrinhos Itiban Comic Shop conta que além de amigo, o arquiteto é  um de seus clientes fiéis há mais de 30 anos. Ela explica que quando a curadoria decidiu que o tema da Bienal seria “A Cidade em Quadrinhos”, o nome de Key emergiu por “razões óbvias” como o personagem que melhor une as duas pontas em Curitiba.
“No dia em que visitei a casa dele a primeira vez e vi a produção achei que ia desmaiar. Era muita informação para a minha cabeça. Fiquei com medo de não dar conta”, disse.
Depois de discutir com os colegas da curadoria, Mitie voltou a se encontrar com a obra de Key já como o projeto definido.  “Queria revelar o que as pessoas não sabem. Quem é o Key? A gente sabe que ele é professor e arquiteto, participa da vida da cidade. Tudo isto está no Google”, explica.
“Queria buscar o que não estava lá. O criador, o artista inquieto que ele é até hoje. Um artista nato que tem a coragem de ser o objeto da própria arte”.
Mitie destaca a parceria artística de Key com a esposa, Marialba — ou só Mari — musa e personagem de muitas das obras. Para a curadora, o mais importante da exposição é descortinar o homem sempre à frente de seus tempo, por trás da figura pública de Key
“Ele tem há décadas uma relação “crumbiana” de parceria e amor com a esposa. Ele faz os móveis com materiais honestos. Vive sem luxo, só consome cultura. Gasta dinheiro em viagens e arte. Faz a própria comida. Não desperdiça. Lava a louca ouvindo musica. Ele está mais atualizado com a vida que qualquer homem da minha geração”, reflete.

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