Estilo & Cultura

Artista plástico curitibano assina obra rara em uma das vias mais movimentadas da cidade

Roberta Braga*
07/01/2019 09:54
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Se você é de Curitiba – ou mora há algum tempo na cidade –, certamente esteve visitando algum recém-nascido na Maternidade Nossa Senhora de Fátima, uma das mais antigas e tradicionais do Paraná, e que fica em uma das vias mais movimentadas da cidade: a Visconde de Guarapuava.
É bem provável que nessa visita tenha passado despercebido um dos quase 200 bens tombados pelo Patrimônio Cultural do estado: bem em frente à entrada do hospital fica um painel de azulejos assinado pelo artista plástico curitibano Arthur Nísio (1906-1974).
Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Foi para a inauguração da maternidade, em 1966, que as irmãs da congregação de São José do Cajuru encomendaram a obra ao artista. O objetivo era representar simbolicamente na fachada a designação do hospital: o painel retrata a aparição da Virgem Maria, em 1927, a pastores da cidade de Fátima, Portugal.

Criatura e criador

O pedido de tombamento da obra foi feito pela Coordenação do Patrimônio Cultural, em 1990, com a alegação de que “o painel ‘Nossa Senhora de Fátima” seria uma rara obra nessa técnica do grande artista paranaense e que, por isso, deveria ser preservado como documentação e para maior entendimento da obra do artista”, conforme consta no requerimento oficial.
O historiador da Coordenação do Patrimônio Cultural do Paraná, Aimoré Índio do Brasil Arantes, explica que mais do que pela obra, o tombamento se deu pela grande importância da figura de Arthur Nísio para as artes. “Ele foi um dos mestres da pintura paranaense e um dos maiores animalistas brasileiros. O painel é uma obra singular do artista, destoando de sua produção. Além disso, na época do tombamento, foi observado que o bem corria risco, então foi também uma forma de zelar pela sua preservação”, observa.
A professora de História das Artes da FAP – Faculdade de Artes do Paraná, Rosemeire Odahara Graça, corrobora a opinião do historiador. “O Nísio não era um pintor de painéis. Suas obras consistiam mais em retratar a fauna e foi essa característica que fez com que ele se destacasse no cenário local e nacional, já que não tínhamos muitos artistas com interesse ou habilidade para esse tipo de pintura”, observa.
No painel, é possível observar a imagem da Virgem, a de uma criança de costas ajoelhada e a de um cordeiro. “São dois os elementos nos quais podemos identificar algumas características do artista: a representação do animal e o fato de percebermos nas figuras retratadas o uso de técnicas de profundidade e movimento, que ele dominava”, diz Rosemeire. A professora ressalta, ainda, o fato de o restante do painel trazer uma composição geométrica que, ao que tudo indica, é fruto de uma livre criação do pintor. “Esse é outro ponto que destoa da produção do Nísio, que não teve um contexto de abstracionismo em suas criações”, pondera.
Segundos documentos anexados ao processo de tombamento, a contribuição do pintor para o painel consistiu na realização do esboço em papel da obra, enquanto a execução ficou a cargo da Sociedade Paranaense de Cultura. Medindo 3,45 m por 6,75 m, traz um total de 68 azulejos em uma composição de peças brancas e azuis.

Quem foi o artista

Arthur José Nísio teve uma vida conturbada e, mesmo nos momentos mais difíceis, viveu exclusivamente de sua arte. Teve uma ascensão em sua carreira ao expor suas obras pela primeira vez em Curitiba, no ano de 1928, e ganhar como prêmio uma bolsa de estudos na Europa. Escolheu ir para a Alemanha.
Lá, dedicou-se a pinturas de animais, como vacas e cavalos, e participou de exposições importantes, como a “Glaspalast”, em Munique. Estava na Alemanha durante a 2º Guerra Mundial, o que fez com que precisasse deixar às pressas sua casa, perdendo tudo o que tinha – incluindo mais de 40 obras que foram confiscadas e se perderam. Voltou ao Brasil em 1946 e retomou sua carreira de prestígio no Paraná. Ao final da vida, passou por problemas de saúde decorrentes de lesões pulmonares e também sofreu com dificuldades financeiras. Morreu em 1974, em Curitiba.
*especial para a Gazeta do Povo

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