Estilo & Cultura

Mural icônico de Kobra em SP é substituído por painel polêmico de projeto de marca de sapato

Luan Galani e Sharon Abdalla
10/01/2018 20:56
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Fotos: Facebook/Reprodução e SHN/Divulgação

Um dos grafites mais icônicos de São Paulo, o mural que retratava o físico Albert Einstein andando de bicicleta na Rua Oscar Freire, assinado pelo muralista Eduardo Kobra, foi apagado no último final de semana. O fato gerou comoção nas redes sociais e, ao contrário do que ocorreu com o painel da Avenida 23 de Maio, também de autoria do artista e apagado há cerca de um ano, não teve relação com o projeto “Cidade Limpa”, tocado pela gestão do prefeito João Doria (PSDB). Foi, sim, uma iniciativa da marca de calçados Schutz, que tem loja no endereço.
Com um paredão de 77 m² (5,5 m x 14 m) como fachada lateral, a marca tem nele um espaço para a promoção da arte de rua, como destaca em nota encaminhada à reportagem. Desta forma, a proposta é que, de tempos em tempos, as street arts sejam substituídas por outras de diferentes autorias.
“Depois de dois anos com a obra de Kobra, um dos mais reconhecidos artistas do Brasil, [o grande mural] cede espaço agora para outros artistas exporem os seus trabalhos [a partir da inauguração da] obra do coletivo de arte SHN”, completa a marca.
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Autor do painel que inaugurou o projeto, em 2015, Kobra disse ao jornal O Globo que estava no interior de São Paulo quando soube, por meio de inúmeras marcações que recebeu em diferentes redes sociais, que o grafite estava sendo apagado. Ele acrescentou ainda que não questiona a decisão da marca e que é grato por ela ter cedido o espaço e custeado o material do mural, mas disse que gostaria de ter sido informado com antecedência da decisão. “Era um mural pelo qual eu tinha muito carinho”, completou ao periódico.

Novo painel

Executado em pouco mais de três dias, o novo mural foi inaugurado nesta quarta-feira (10), data que marca a reinauguração da loja da Oscar Freire dentro do novo conceito de experiência de compra da Schutz. Ocupando toda a extensão do paredão, ele traz um fundo de tom avermelhado que emoldura a palavra “Love”, escrita em branco, e é assinado pelo SHN, coletivo de arte formado por Eduardo Saretta, Haroldo Paranhos e Marcelo Fazolin, que já executou outros trabalhos para a marca.
“Explicar uma obra não faz muito sentido, mas ela traz uma mensagem simples a partir de uma palavra universal”, destaca Saretta.
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Sobre a polêmica criada em relação ao projeto, ele lamenta o fato de a ênfase referir-se quase que exclusivamente ao apagamento do antigo mural e afirma que isto não teve nenhum impacto sobre a execução da nova obra. “O projeto foi realizado da forma como previmos. Estamos acostumados a trabalhar na rua e sabemos que nosso trabalho tem um tempo de duração, não é para sempre. Não temos muita preocupação com isso. Hoje em dia tiram-se fotos, preserva-se de outra maneira”, avalia Saretta.
Opinião diferente tem  o arquiteto Ciro Pirondi, da Escola da Cidade, considerada uma das faculdades de arquitetura mais promissoras e inovadoras da América Latina. Mesmo reconhecendo a efemeridade da arte de rua e o fato de se tratar de uma obra em uma propriedade privada, ele destaca que o painel assinado pelo muralista Kobra já fazia parte do imaginário coletivo, do patrimônio geral da cidade.”É uma manifestação das artes e, como sempre foi, ela não pertencia nem ao artista, mas à cidade”, completa.

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