Estilo & Cultura

Casa centenária de artista plástico curitibano é revitalizada com projeto moderno

Luciane Belin*
27/11/2018 20:47
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Foto: Divulgação MCAA/ Marcel Kriegl | MKrieglMIII

O Museu Casa Alfredo Andersen será reaberto ao público no dia 07 de dezembro, depois de passar por uma revitalização. Com realização da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (SEEC-PR), o projeto foi realizado com recursos de R$ 700 mil destinados pela Renault do Brasil por meio do programa Paraná Competitivo.
Localizada no bairro São Francisco, a construção centenária de arquitetura eclética foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná em 1971, tornando-se uma instituição administrada pelo poder público estadual, vinculada à Coordenação do Sistema Estadual de Museus (COSEM) da SEEC-PR. Somente como museu, a casa completa 60 anos em 2019, mas antes disso, foi utilizada como residência e escola de artes pelo pintor, importante nome das artes plásticas paranaenses, além de uma sociedade recreativa alemã, na qual eram realizados bailes e encontros.
De acordo com o secretário de Estado da Cultura, João Luiz Fiani, a figura de Alfredo Andersen e o significado dele para a cultura é fundamental. “Ele deixou um legado gigantesco. Grandes artistas foram formados dentro de sua escola, a qual desenvolveu há mais de 100 anos. Portanto, esse espaço é uma referência para as artes brasileiras”, comenta, explicando que, embora a casa estivesse em bom estado de conservação, necessitava de reparos de estrutura e de uma reorganização na forma como as exposições eram feitas.
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
Num primeiro momento, de acordo com ele, foi feita uma revisão da parte estrutural da residência, com a troca do piso e renovação da rede elétrica, bem como a adaptação para tornar o prédio acessível. Segundo Fiani, a ideia é reforçar no conceito do local o estilo de “museu-casa”, uma tendência nos ambientes museológicos ao redor do globo. “Tenho muita admiração pela história dele, a forma como veio da Noruega para o Brasil e se estabeleceu na Matheus Leme. E o Paraná precisava de uma referência como esta, a localização é perfeita, no meio do centro histórico da cidade, então decidimos trazer este conceito”, explicou.

Como se faz um museu? Entenda como funcionou a expografia

Diferente de alguns dos museus que seguem a linha de resgatar a história das casas de seus moradores, o Museu Casa Alfredo Andersen não vai replicar os cômodos como eram na época em que servia de morada ao artista. Cada sala terá uma finalidade de exposição, porém sempre dialogando com seu uso histórico, por meio do uso da expografia – um conjunto de técnicas para o desenvolvimento de uma exposição.
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
“A expografia combina formas e materiais que conferem leveza a um espaço facilmente decifrável e compreensível, utilizando técnicas e materiais contemporâneos, como aço e vidro. Nessa proposta, buscamos um diálogo cuidadoso com a biografia da casa, buscando destacar a memória presente nos detalhes construtivos originais e na sua estrutura expressiva”, explicam os coordenadores da empresa Ato1Lab, a arquiteta e cenógrafa Gabriela Biba Bettega e o designer e cenógrafo italiano Richard Romanini. Para a implantação do Museu Casa Alfredo Andersen, a Ato1Lab convidou Rafaela Tasca para a coordenação do projeto e os curadores Adolfo Montejo Navas e Eliane Prolik.
No caso desta construção, “o projeto não se freou na expografia, virou um grande projeto multidisciplinar”, conforme explica Bettega. “Tivemos que fazer uma pesquisa super alongada das obras do acervo, recuperamos papéis em estados que não daria para expor. Então fizemos um trabalho enorme em volta da expografia”.
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
Segundo Romanini, o trabalho de repensar como as obras serão expostas foi feito em sintonia com outras necessidades de remodelação da casa. “São vários pontos que sempre ficam dentro de um processo de uma mostra e, nesse caso, ainda mais porque é uma remodelação espacial que vai em conjunto com o design, iluminação e todos os aparatos expositivos”, diz.
A remodelação incluiu a redistribuição das obras do museu entre as salas, com a construção de aparatos para abrigá-las, utilizando peças de vidro, aço e drywall, e a inclusão de placas indicativas sobre quais eram as finalidades daquele espaço nas décadas anteriores e de QR Codes que oferecem mais informações sobre os mesmos. Porém a estrutura do local permanecerá a mesma: salas do acervo no térreo, com a obra de Andersen e objetos de seu ateliê; salas alternativas no térreo e primeiro andar, com mostras de artistas contemporâneos e convidados.
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
“A expografia incluiu entender um percurso artístico, mas não chega a incluir questões estruturais da casa em termos arquitetônicos”, explica Romanini. “Não foi feito um restauro da casa. O que foi feito foi uma nova expografia para o ambiente, que toca além de aparatos expográficos, mesas expositivas, cúpulas, paredes de drywall, mas abrange no projeto também uma nova leitura da obra do artista”, diz Bettega.
Ela detalha ainda que, por se tratar de um imóvel antigo e tombado, o projeto teve o acompanhamento da coordenação do Patrimônio Cultural. “É inevitável que iremos esbarrar em questões estruturais, porque temos que fazer um novo projeto luminotécnico, justamente pensando em como vamos mostrar estes objetos de arte. Vimos que as instalações elétricas eram totalmente deficitárias, não respondiam ao que a gente queria, e neste caso a gente toca em questões estruturais, mas porque é derivada da questão expográfica”, justifica Bettega, explicando que a rede elétrica foi inteiramente substituída.
Para isso, a revitalização também contou com recursos adicionais de R$25 mil doados pela Sociedade Amigos de Alfredo Andersen. A entidade autônoma, que deu origem ao então Museu Alfredo Andersen, tem como objetivos principais cultuar a memória do artista e oferecer suporte nas mais diversas atividades do espaço.
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves
Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves
Há 26 anos, a Sociedade é presidida pelo bisneto do pintor, Wilson José Andersen Ballão. “Desejamos reverenciar todas as gerações Andersen que passaram pela casa. Não só os familiares, mas também os diretores, professores e funcionários, que, com muita dedicação, fizeram e fazem do museu a continuidade da obra de Alfredo, meu bisavô”, diz Ballão, via comunicado oficial da assessoria de imprensa.
A estrutura do museu Alfredo Andersen conta com três edificações. Além da principal, que é a casa do artista e que concentra as obras, o complexo conta com uma segunda construção construída em 1989 – onde estão localizados o setor administrativo, a reserva técnica, a coordenação de acervo e documentação, o auditório e ateliês dedicados a cursos e atividades educativas – e uma terceira que abriga o Centro Juvenil de Artes Plásticas.
O Museu Casa Alfredo Andersen fica na Rua Mateus Leme, nº 336, do bairro São Francisco, em Curitiba (PR), e tem entrada gratuita para o público.

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Fotos: Divulgação MCAA/Mariana Alves<br>
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*Especial para Haus.

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