Estilo & Cultura

O frei gaúcho que devolveu música para o órgão da igreja Bom Jesus

Luan Galani
17/07/2017 21:30
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O físico e frei Lauro Both conduziu o restauro de órgão raro da Igreja Bom Jesus dos Perdões, no Centro da cidade. Fotos: Hugo Harada/Gazeta do Povo

“Só sendo meio louco pra fazer isso”, dispara o frei gaúcho de Erechim que já consertou até órgão diante do altar de Maria Madalena no Santo Sepulcro, em Jerusalém. Agora em Curitiba, Lauro Both, 71 anos, que abraçou a missão de cuidar desses instrumentos gigantescos, conduziu o restauro do órgão alemão de 93 anos da Igreja Bom Jesus dos Perdões, bem no centro da cidade, na Praça Rui Barbosa.
O exemplar bem debaixo da nossa barba é um dos últimos da marca Speith em funcionamento no Brasil. Só existem outros na Catedral de Florianópolis, na Basílica Velha de Aparecida do Norte e em Amparo, interior de São Paulo. A recuperação do órgão foi feita com auxílio de estudantes do curso de Luteria da Universidade Federal do Paraná, onde o frei leciona.
Além da vida religiosa, frei Lauro também é físico formado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Fala de teorias de Newton e partículas subatômicas com o mesmo entusiasmo que recita os salmos. Quando coloca os óculos para tocar o órgão, não é difícil confundi-lo com o pequeno Sr. Fredricksen, da animação Up – Altas Aventuras (Pixar, 2009). “O órgão é pequeno, não serve para grandes peças”, diz, sem perceber que, para quem entende bulhufas do instrumento, ele parece uma formiga ao lado de uma caixinha de música monstruosa.
O órgão todo em pinheiro alemão claro com console em carvalho passa dos quatro metros de altura e guarda 12 fileiras de tubos metálicos, motor e fole. O som que produz parece de um exército angelical. Mas, pelas mãos do frei, o coral de tubos fica mais democrático e canta até o tema de Titanic.

Sem aptidão para as palavras, agarrou-se à música

Frei Lauro é envergonhado. Bate na tecla de que não sabe costurar bem as palavras. “Não falo bem. Sou mais ligado à chave de fenda, ao serrote”, conta. Justamente por isso caiu na organaria, que demanda um conhecimento avançado de marcenaria. “No início, quando soube que precisava estudar alemão e mais de três anos para se tornar organeiro, desisti na hora”.
Anos mais tarde, no final da década de 1980, percebeu que por meio da música conseguia se conectar com o céu, coisa da qual poucos podem se gabar. Aprendeu a se virar nos artigos intermináveis da língua de Goethe e meteu a cara nos estudos. Foi para a Alemanha e passou quase quatro anos estudando nas empresa Stockmann e na Escola de Ludwigsburg.
Hoje é organeiro reconhecido internacionalmente, mas não vê interessados em manter seu legado. O mestre não tem discípulos. Nem mesmo dentro da comunidade franciscana. Ele até acha natural. “Tem de ser meio louco para gostar disso”, brinca, dando de ombros. Aos interessados de plantão, o frei passa seu e-mail: frlboth@gmail.com.

Saiba qual o próximo órgão que ele vai restaurar

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