Estilo & Cultura

A história da igreja polonesa que já reuniu os exorcistas de Curitiba

Stephanie D’Ornelas
13/01/2018 14:30
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“W Imię Ojca i Syna i Ducha Świętego”. Com essas palavras, o Padre Casimiro Dlugosz inicia mais uma missa dominical do horário das nove da manhã na Paróquia Santo Estanislau, no centro de Curitiba. Homens e mulheres que ocupavam os bancos da igreja em um domingo de janeiro ouvem atentamente fazendo o sinal da cruz e o respondem em polonês. “Amen”. A maioria dos fiéis presentes são filhos ou netos de imigrantes poloneses. Reúnem-se toda semana, sempre no mesmo horário, para participar da única missa realizada em polonês na capital paranaense nos dias de hoje.
Até a década de 1990, essas celebrações enchiam o recinto. Com o passar do tempo, o número de participantes começou a minguar. “Aos poucos foram se mudando para o céu”, diz o aposentado Ricardo Droszcz, que frequenta a paróquia há cerca de quatro décadas. Na juventude, Droszcz, hoje com 68 anos, ia às celebrações acompanhando seus pais, que mantinham a língua polonesa viva transmitindo-a à prole. Em sua infância, frequentavam a Igreja de São Vicente de Paulo, onde também havia missas naquela língua.

Raízes

Apesar de ter saído da Polônia, sua pátria natal, há 26 anos, o Padre Dlugosz esteve sempre ligado à comunidade de imigrantes e descendentes, celebrando missas em polonês em várias cidades do sul do Brasil que receberam um grande contingente de imigrantes a partir do fim do século 19, como Erechim, no Rio Grande do Sul, e Cruz Machado, no Paraná. “Em Curitiba, uma grande porcentagem da população tem raízes polonesas, mas pouca gente fala polonês. Por isso, poucas pessoas frequentam essas missas. O grupo não é muito grande, todo domingo fica em torno de trinta pessoas. Mas quando há alguma festa religiosa ou nacional da Polônia, participam bem mais”, revela o sacerdote. Durante a Quaresma, a celebração em polonês é às 14 horas, quando o grupo faz orações tradicionais.
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As celebrações quase sempre terminam com uma confraternização, em que o grupo, composto principalmente por idosos, toma café e aprecia quitutes conversando em português e polonês.  Apesar da raiz europeia, o Pároco da Igreja Santo Estanislau, Mário José Steffen, faz questão de frisar que a igreja acolhe todas as pessoas, independentemente da descendência. “A igreja é de todo o povo de Deus”, afirma. Ao todo, cerca de 700 pessoas frequentam a paróquia, que também tem missas diárias em português. Nas solenidades e no terceiro domingo do mês, nas missas das 9 horas e das 10h15, a igreja ainda tem como atrativo o tradicional Coral João Paulo II, que completa 90 anos de atividade em 2018.

A mais colorida da cidade

Cada pedaço das paredes e teto da igreja tem tons vibrantes. “É tudo muito colorido. Isso é uma característica da cultura polonesa, eles têm essa preocupação em combinar as cores”, explica Dirceu Contti, arquiteto que participou do restauro do edifício religioso em 2007. “Na época a gente fez um levantamento histórico. Foi colocado piso de madeira na sacristia, como era originalmente”, recorda. Acredita-se que as primeiras providências para a construção da igreja começaram em 1878. Inaugurado oficialmente em maio de 1909, o santuário é um exemplar da arquitetura neogótica em meio à Rua Emiliano Perneta. O estilo é bem marcado pelas abóbadas internas, pela altura da torre e pelo pequeno lanternim que a sobrepõe, aponta Contti.
A igreja, que é hoje uma Unidade de Interesse de Preservação da cidade, é adornada com vitrais, quadros e afrescos, que incluem imagens de Nossa Senhora do Monte Claro, padroeira da Polônia; de Santo Estanislau, mártir do país europeu que dá nome à paróquia, e do Papa João Paulo II. O último é representado em um vitral de quase cinco metros de altura, confeccionado pelo artista plástico Adoaldo Lenzi, que utilizou 2,8 mil cacos de vidro em 45 tonalidades de cor. A obra foi produzida em homenagem ao papa polonês em sua visita a Curitiba, em 1980 – mas, para o lamento dos fiéis na época, o pontífice não chegou a conhecê-la. Apesar de não visitar a igreja, a comunidade fez uma foto ampliada do vitral e presenteou a santidade. “Foi muito gratificante. Reproduzir a imagem de uma pessoa como o papa é algo que vai ficar para a posterioridade”, afirma Lenzi.
Mosaico
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Exorcismo

A igreja ficou conhecida, por um período, como o ponto de encontro dos padres exorcistas do Paraná. A história tem início há cerca de duas décadas, quando Regina Turchenski, proprietária da livraria católica Nossa Senhora do Equilíbrio, começou a auxiliar quem sentia-se doente não do corpo, mas da alma. A católica de descendência polaca ouvia desabafos de pessoas atormentadas, promovendo conforto com palavras positivas. A sessão encerrava-se com a oração de renúncia e aconselhamentos.
Mas houve um dia em que tudo mudou; o que Regina vira era um caso que não poderia acudir sozinha: ela conta que a mãe de um rapaz possesso a procurou pedindo socorro. Regina resolveu falar com o padre polonês Jorge Morkis e pedir que exorcizasse o rapaz, mas ele a informou que não era exorcista. “Pedimos o auxílio do arcebispo Dom Moacyr, que deu a liberação para que o padre fizesse o exorcismo”, lembra.
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O sacerdote, que já estava em vias de se aposentar, conheceu o trabalho de Regina na livraria, que até 2014 era localizada ao lado da Igreja Santo Estanislau. Em 2007, tornou-se exorcista oficial da Arquidiocese de Curitiba, e a livraria já estava pequena para toda a procura que recebia. Foi então que a paróquia passou a reunir os interessados no atendimento semanalmente. “Fico grata pelo Pároco Mário ter cedido o espaço”, diz. O grupo presente era evangelizado por Morkis e, os mais necessitados, seguiam para a livraria.
Morkis, de 79 anos, já não realiza exorcismos por conta da idade e da debilidade causada por um AVC, mas, junto com Regina, continua acolhendo os aflitos na livraria, que mudou de endereço. Já não há mais os antigos encontros na Igreja de Santo Estanislau, que naquele período proporcionou um importante espaço de aprendizado: Morkis transmitiu seus ensinamentos para outros dois sacerdotes que também se tornaram exorcistas. A motivação de Regina para ajudar os atormentados é simples. “Amor e piedade ao próximo”, conta.

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