Estilo & Cultura

Patrimônio histórico do PR, Teatro Ouro Verde é reinaugurado, mas pode continuar fechado

Carolina Werneck*
30/06/2017 21:52
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Novo do Cine Teatro Ouro Verde, que será inaugurado nesta sexta-feira (30). Foto: Arnaldo Alves/ANPR | Carolina Werneck Bortolanza

Um dos mais importantes teatros do Paraná, o Cine Teatro Ouro Verde, em Londrina, está sendo reinaugurado nesta sexta-feira (30) depois de passar 5 anos em reforma, mas pode voltar a ser fechado por falta de funcionários, de acordo com a diretora da Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Cleusa Cacione, responsável pela administração do teatro.
Em coletiva realizada na última terça-feira (27), ela afirmou que precisa de 15 contratações para reposição do quadro de funcionários do órgão. De acordo com Cleusa, os funcionários da Casa da Cultura farão um revezamento durante o período de reinauguração. “Na sequencia vêm o Festival Internacional de Música de Londrina e o Festival Internacional de Londrina (Filo). Se, porventura, não ocorrerem [as contratações] lamentavelmente após o Filo eu tenho que fechar o Ouro Verde. Corremos esse risco, sim.”
O déficit de funcionários na UEL vem gerando uma série de problemas para a universidade. Com quase 50 anos, a universidade tem muitos servidores aposentados ou em processo de aposentadoria – e o processo para contratar novos servidores costuma ser demorado. No ano passado, por exemplo, a UEL chegou a fechar o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Universitário (HU) por falta de profissionais.
Mas, de acordo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado (Seti), o mesmo não acontecerá ao Ouro Verde. A Seti afirma que o processo de contratação dos 15 funcionários solicitados pela Casa de Cultura da UEL já está na Secretaria da Fazenda do Paraná. “Dali, esse processo vai para a Casa Civil, que faz a nomeação. Existe o compromisso do governo do Estado para essas contratações.” A Seti não soube informar, no entanto, quando essas nomeações serão oficializadas.
Reinauguração está marcada para esta sexta-feira (30), mas falta de funcionários pode obrigar a UEL a manter o Ouro Verde fechado. Foto: Arnaldo Alves/ANPR
Reinauguração está marcada para esta sexta-feira (30), mas falta de funcionários pode obrigar a UEL a manter o Ouro Verde fechado. Foto: Arnaldo Alves/ANPR

Presença polêmica

Em meio às incertezas a respeito do funcionamento do teatro, o governador Beto Richa (PSDB) confirmou presença na reinauguração marcada para esta sexta-feira (30) às 19h. O evento será fechado para convidados do governo e da UEL. Na coletiva do dia 27, Cleusa disse que trata-se de “um cerimonial protocolar. O governo já tem um número muito grande de convidados e a administração da UEL também”. A decisão de realizar um evento fechado, no entanto, vai contra as afirmações da própria diretora na mesma entrevista. Questionada sobre a expectativa para a reabertura do teatro, ela declarou que “o Ouro Verde pertence à comunidade. É um patrimônio da memória cultural de Londrina e região.”
Para Kennedy Piau, professor do Departamento de Artes Visuais da universidade e membro do Conselho Municipal de Cultura de Londrina, restringir o evento aos convidados do governo é uma forma de “excluir do Ouro Verde seu público tradicional e os artistas que fazem dele um teatro vivo”. Ele conta que o movimento cultural de Londrina se mobilizou para protestar contra a presença do governador na cerimônia. É que, junto a outras universidades estaduais, a UEL vem sofrendo uma série de sanções financeiras por parte do governo tucano. Em um dos episódios mais recentes, no começo de junho, Richa bloqueou verbas da UEL, da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UniOeste).
“Nosso questionamento é quanto à presença do governador, que tem atacado a universidade. Ele estar aqui é um contrassenso, considerando que a estrutura do Ouro Verde pertence à UEL.” O protesto organizado por artistas londrinenses estava marcado para as 18h desta sexta em frente à Concha Acústica. De lá, os manifestantes partiriam para o teatro, onde, de acordo com Piau, seria realizado um ato pacífico. “Não temos perspectiva de forçar a entrada. A gente quer evitar qualquer dano ao patrimônio.”
A cerimônia de inauguração será restrita a convidados, mesmo sob protestos da comunidade artística e universitária londrinense. Foto: Arnaldo Alves/ANPR
A cerimônia de inauguração será restrita a convidados, mesmo sob protestos da comunidade artística e universitária londrinense. Foto: Arnaldo Alves/ANPR

Patrimônio histórico

Inaugurado em 1952, o Cine Teatro Ouro Verde foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Paraná em 1999. O projeto do edifício é do arquiteto Vilanova Artigas, um dos principais nomes da arquitetura modernista brasileira. Segundo José La Pastina Filho, ex-superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Paraná e atuante no Conselho de Patrimônio Estadual por mais de 30 anos, a construção é um ícone nacional dessa corrente arquitetônica.
Na imagem, o teatro após a retirada dos escombros resultantes do incêndio, em 2012. Foto: Roberto Custódio/Arquivo Gazeta do Povo Jornais
Na imagem, o teatro após a retirada dos escombros resultantes do incêndio, em 2012. Foto: Roberto Custódio/Arquivo Gazeta do Povo Jornais
Sobre os detalhes arquitetônicos, o livro “Espirais do Tempo”, editado pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, assim descreve o prédio: “o frontispício tem sua largura visualmente ampliada pelo emprego de faixas e linhas horizontais e curvas. A edificação, de concreto armado, tem as paredes externas revestidas com pastilhas cerâmicas. Possui um amplo foyer, integrado com o passeio, sobre o qual se projeta o pavimento superior, sustentado por pilotis esbeltos.”
Em fevereiro de 2012, um curto-circuito provocou um incêndio que queimou boa parte da estrutura do teatro. Desde então, a reabertura do local vinha sendo constantemente adiada devido à falta de recursos. La Pastina comenta que a restauração de um local tão importante, do ponto de vista histórico e cultural, precisa ser feita de forma cuidadosa. “É uma questão de restaurar a alma do edifício. Ela está diretamente relacionada ao uso, mas também a tudo o que compunha os espaços. No caso do Ouro Verde, é preciso fazer adaptações para a cidade contemporânea, mas sempre preservando a atmosfera da década de 1950.”
Em 2012, o Ouro Verde foi atingido por um incêndio que começou com um curto-circuito. Foto: Roberto Custódio/Arquivo Agência de Notícias Gazeta do Povo
Em 2012, o Ouro Verde foi atingido por um incêndio que começou com um curto-circuito. Foto: Roberto Custódio/Arquivo Agência de Notícias Gazeta do Povo
*Especial para a Gazeta.

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