Quem passar pela Praça 19 de Dezembro nos próximos dias poderá contemplar de forma mais limpa as obras assinadas por grandes nomes das artes paranaenses, como Poty Lazzarotto e Erbo Stenzel, instaladas no local. Uma ação realizada pela prefeitura de Curitiba, em parceria com a Associação Comercial do Paraná (ACP), está removendo as pichações presentes nas instalações que, assim como outras obras públicas da cidade, sofrem com a ação de vândalos.

A iniciativa foi proposta pela própria ACP, que procurou a gestão municipal pedindo a colaboração e a autorização para que a limpeza pudesse ser realizada, uma vez que a praça é um patrimônio tombado. “O maior objetivo é [incentivar] as empresas e os cidadãos para que passem a cuidar mais de seu entorno. Não há como termos um comércio forte, uma atividade econômica pujante em meio ao lixo. Não podemos ter [uma postura de] descaso em relação à cidade onde vivemos e trabalhamos”, explica o vice-presidente da entidade, Camilo Turmina.

Para a realização da ação, a ACP firmou parceria com o Grupo OVD, empresa responsável pelo fornecimento dos produtos utilizados na limpeza das superfícies. O trabalho de remoção da tinta, por sua vez, é realizado desde o último dia 11 de agosto por servidores da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), além de voluntários da Associação dos Condôminos Garantidos do Brasil.

“Faremos a limpeza dos monumentos, retirando a fuligem e removendo a tinta, que é o despiche propriamente dito. Depois vamos fazer a impermeabilização dos monumentos, como forma de facilitar sua manutenção”, explica Cláudia Arioli, coordenadora de Preservação e Conservação de Acervos da FCC. A previsão é a de que o trabalho seja concluído no próximo dia 23.

Inaugurada em 19 de dezembro de 1953, dentro do pacote de obras que celebrou o centenário da emancipação política do Paraná, a Praça 19 de Dezembro é considerada um marco não apenas para Curitiba, mas para todo o estado.

Além de sua importância histórica, ela abriga um conjunto de cinco monumentos formado por obras de renomados artistas plásticos paranaenses. São eles: o painel de granito em baixo relevo, executado por Erbo Stenzel e Humberto Cozzo; o painel cerâmico de Poty Lazzarotto; o obelisco de concreto armado com 30 metros de altura; e as estátuas da Mulher (Estátua da Justiça) e do Homem Nus, esta última responsável pela alcunha da praça.

Ao contrário do que é amplamente divulgado, Erbo Stenzel não é o autor da figura masculina de oito metros de altura, sendo responsável apenas pela escultura da “mulher sentada” que, num primeiro momento, seria instalada no Tribunal do Júri do estado, mas acabou tendo como endereço a Praça 19 de Dezembro.

“Ela é uma praça que tem um caráter simbólico importantíssimo para todos os curitibanos e paranaenses, mas que merece um olhar mais cuidadoso, pois foi bastante mal cuidada nesses anos todos que ela já tem”, aponta o arquiteto e urbanista Orlando Busarello, do Slomp & Busarello Arquitetos, enfatizando a importância de ações de limpeza e manutenção como a realizada atualmente.

“Qualquer iniciativa que venha a melhorar o espaço público é bem-vinda”, pontua. Entretanto, ele acredita que um projeto capaz de requalificar o espaço deveria transformar a praça em um local de interesse e permanência, e não apenas em uma área de passagem, como ocorre hoje.

Em 2015, o escritório elaborou um projeto voluntário para a revitalização e requalificação da Praça 19 de Dezembro. O projeto chegou a ser apresentado à prefeitura de Curitiba, sob a gestão do então prefeito Gustavo Fruet, mas sua implantação não foi levada à frente pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), como conta o arquiteto.

Ainda segundo Busarello, seria necessário um trabalho de restauro não apenas dos monumentos, mas do piso, iluminação e dos demais equipamentos, de forma a permitir às pessoas usufruírem confortavelmente da praça em diferentes momentos do dia.

“Como disse, qualquer atitude neste momento é importante para deixar mais digno o local. Mas não podemos deixar de sonhar, de desejar ações mais completas e profundas, que demonstrem esse interesse em se cuidar da cidade. Todo trabalho para qualificar os espaços públicos resulta em novo olhar do cidadão sobre a cidade, um olhar que aumenta a autoestima e tem um caráter educativo e cultural superimportante“, completa.