Estilo & Cultura

Uma vida de tijolos e papel jornal: conheça a história do prédio da Gazeta do Povo

Sharon Abdalla e Luan Galani
30/05/2017 21:30
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A casa tem traços ecléticos, como frisos em alto relevo na fachada, a platibanda, que esconde o telhado e a sacada com gradil em ferro. Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo | gazeta do povo

Os prédios da sede da Gazeta do Povo, na Praça Carlos Gomes, são parte da memória afetiva de diferentes gerações de curitibanos. Afinal, foram milhares as pessoas que, diariamente, se dirigiram até lá para se informar sobre os fatos da cidade e do mundo ou para ver seus nomes nas edições extras que “voavam” das sacadas com a lista de aprovados no vestibular.
Essas edificações também ajudam a contar a história de Curitiba, que cresceu e se desenvolveu tendo suas fachadas como testemunhas. Prova disso são as datas prováveis em que as duas construções foram erguidas: entre a segunda metade do século 19 e início do século 20.

Casa de família

O local onde hoje fica uma das portarias do jornal, na Rua Monsenhor Celso, já sediou o Quartel General do 5º Distrito Militar, entre 1906 e 1909, como aponta placa instalada no local. A reportagem, no entanto, não encontrou registros sobre o imóvel em que a corporação se instalou, uma vez que a casa que hoje abriga o jornal foi erguida por volta de 1910 pelo comerciante Carlos Osternack.
Morador de Ponta Grossa, ele mudou com a família para Curitiba com a intenção de expandir os negócios, fato que motivou a construção da residência, como lembra a historiadora Aparecida Bahls, pesquisadora da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).
Residência foi construída pelo comerciante Carlos Osternack por volta de 1910. Foto: Arquivo Casa da Memória/ Fundação Cultural de Curitiba
Residência foi construída pelo comerciante Carlos Osternack por volta de 1910. Foto: Arquivo Casa da Memória/ Fundação Cultural de Curitiba
Como as demais edificações do período, a casa tem traços ecléticos, como elementos decorativos e os frisos em alto relevo na fachada, a platibanda (que tem a função de esconder o telhado) e a sacada com gradil em ferro.
“A arquitetura eclética mistura influências de diferentes períodos históricos. Ela reflete a ascensão da burguesia no século 19, classe que surgia e que buscava na arquitetura uma maneira de se diferenciar”, explica o historiador Marcelo Sutil, diretor de patrimônio cultural da FCC.
Aliado a isso, mudanças na legislação urbana começaram a permitir que as casas fossem construídas com porões altos e afastadas umas das outras, o que permitia maior ventilação e incidência da luz natural nos cômodos.
“O imóvel tinha uma opulência que refletia o ‘poder’ da família, e mantinha uma relação diferente com a cidade, se comparado com a casa ao lado. Do balcão se via tudo de cima, mas ninguém conseguia ver o que se passava lá dentro. Já no comércio ao lado, as pessoas podiam entrar e sair e ver tudo da mesma altura”, diz o arquiteto Lucio Albuquerque, que estudou e projetou adaptações nos prédios.
Com ar neoclássico, antigo comércio tem sótão com influência alemã. Foto: Arquivo Casa da Memória/ Fundação Cultural de Curitiba
Com ar neoclássico, antigo comércio tem sótão com influência alemã. Foto: Arquivo Casa da Memória/ Fundação Cultural de Curitiba

Expansão

Com o falecimento de Osternack, o imóvel passou por um segundo proprietário, o negociante de madeiras Frederico Reichmann, antes de ser adquirido pela Gazeta do Povo, por volta de 1950.
A mudança do antigo endereço, na Rua XV de Novembro, para o então nº 4 da Praça Carlos Gomes ocorreu em 27 de janeiro de 1951, ano em que o jornal comemorou seu 32º aniversário.
Pouco mais de uma década depois, a direção do jornal passou para as mãos do Dr. Francisco Cunha Pereira Filho e de Edmundo Lemanski, seu sócio na compra da Gazeta do Povo. A partir deste período, diz Aparecida, o prédio foi “reformado e acrescido com a posterior aquisição [do jornal Diário da Tarde e] de propriedades vizinhas”, como a casa que fica a sua esquerda, na perspectiva de quem vê a sede do jornal da praça.
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
As características arquitetônicas desta segunda edificação situam sua construção na segunda metade do século 19. As imitações de colunas na parede e as janelas em arco pleno marcam seu ar neoclássico, assim como o topo arredondado do sótão, diz Sutil.
“Este tipo de sótão, com janelas curvadas, é visto em várias regiões do Centro e tem influências alemãs”, fala.

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