Estilo & Cultura

Roteiro da saudade: 4 casarões icônicos de Curitiba que foram demolidos

HAUS*
22/08/2017 10:30
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Casa das Ferraduras ficava a poucos metros da Mansão das Rosas, à esquerda da foto, na Avenida João Gualberto. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba

Tempos de glória. É o que vemos ao revirar fotos antigas de uma Curitiba que se destacava no cenário nacional, no início do século 20. Seus casarões e palacetes refletiam traços de arquitetura alemã, francesa, portuguesa, colonial. Um ecletismo que fazia referência a nossa cultura.
As casas de meados do século passado também não ficam para trás em imponência. A arquitetura modernista com suas linhas racionais e colunas arredondadas (pilotis) à Le Corbusier continua representando uma renovação no modo de se desenhar construções.
Infelizmente, muitos desses exemplares não existem mais. Para resgatar a memória arquitetônica da capital paranaense, confira 4 casarões icônicos de Curitiba que foram abaixo, mas que permanecem na história.

Mansão das Rosas

Propriedade de Francisco Fontana, um dos barões da erva-mate, a Mansão das Rosas era uma das construções mais antigas do Boulevard Dois de Julho, atual Avenida João Gualberto — e uma das maiores: o terreno possuía 12,5 mil m².
Registro por volta de 1880 da Mansão das Rosas, no Boulevard Dois de Julho: Foto: Arquivo Casa da Memória/Fundação Cultural de Curitiba
Registro por volta de 1880 da Mansão das Rosas, no Boulevard Dois de Julho: Foto: Arquivo Casa da Memória/Fundação Cultural de Curitiba
Como afirma o historiador Marcelo Saldanha Sutil em sua obra O Espelho e a Miragem: Ecletismo, Moradia e Modernidade na Curitiba do Início do Século, o Alto da Glória foi nomeado pelo engenho que ficava localizado no mesmo terreno, o Engenho da Glória. Fontana reformou a casa ao adquiri-la, na década de 1880, adicionando jardins e uma arquitetura toscana, com colunas, platibandas e sobrevergas triangulares.
Localização atual do terreno da mansão. Foto: Reprodução/Google Maps
Localização atual do terreno da mansão. Foto: Reprodução/Google Maps
A Mansão das Rosas, considerada um dos mais belos exemplares arquitetônicos da capital e que abrigou a família Fontana por 5 gerações, foi demolida em meados dos anos setenta. A revista Panorama publicou em 1974 uma reportagem intitulada “‘Mansão das Rosas’ desaparece em nostalgia”, onde afirma que o excesso de tráfego na região (a casa ficava em frente ao Colégio Estadual do Paraná) acabou por minar as fundações da mansão.

Casa das Ferraduras

A alguns passos da Mansão das Rosas estava a Casa das Ferraduras. O palacete, desenhado por Cândido de Abreu para a família Machado Lima, ficou assim conhecido pelo pórtico de entrada e janelas, que tinham formato de ferradura, uma referência art-nouveau, como conta Marcelo Sutil.
Casa das Ferraduras ficava a poucos metros da Mansão das Rosas, à esquerda da foto, na Avenida João Gualberto. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba
Casa das Ferraduras ficava a poucos metros da Mansão das Rosas, à esquerda da foto, na Avenida João Gualberto. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba
O estilo marcou muitas das construções da época, como o Belvedere na Praça João Cândido, também projetado por Cândido de Abreu, o portal do Passeio Público e o Paço Municipal. Não existem registros no arquivo público das datas exatas de construção e demolição da casa. Atualmente, o terreno abriga a Casa José Macedo, construída em 1955, única obra do arquiteto carioca Ernani Mendes de Vasconcellos na cidade.
Terreno atual abriga um projeto modernista: a Casa José Barbosa. Foto: Reprodução/Google Maps
Terreno atual abriga um projeto modernista: a Casa José Barbosa. Foto: Reprodução/Google Maps

Casa Mylla

Um exemplar da arquitetura eclética com linguagem neoclássica alemã. Assim era definida a Casa Mylla, um casarão na Rua Barão do Cerro Azul, antiga Rua Antônio Barbosa Gomes Nogueira. Construída em 1870 por imigrantes alemães, a residência foi moradia de algumas personalidades de Curitiba, como o General Plínio Tourinho, um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná. Seu nome veio da última família a ser dona do local, descendentes de Jacomo Mylla.
Reprodução do Correio de Notícias, que exibia matéria sobre a Casa Mylla. Foto: Reprodução/Correio de Notícias
Reprodução do Correio de Notícias, que exibia matéria sobre a Casa Mylla. Foto: Reprodução/Correio de Notícias
Uma forte comoção popular tomou conta da cidade à época de sua demolição. Em 1985, em matéria do Correio de Notícias, o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (Ippuc) reforçava o interesse em preservar a Casa Mylla, abandonada há anos e servindo de depósito de lixo. O professor Key Imaguire Junior, na mesma matéria, afirmava que a casa era um dos representantes mais importantes da cultura alemã em Curitiba.
Casa Mylla ficava próxima à Praça Tiradentes. Na imagem, o casarão se encontra à direita. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba
Casa Mylla ficava próxima à Praça Tiradentes. Na imagem, o casarão se encontra à direita. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba
“Da ampla contribuição germânica à arquitetura local, as construções feitas por imigrantes ou por eles influenciadas é apenas uma parte, mas a melhor parte sem dúvida”, declara Imaguire na publicação. Nada disso foi suficiente. Em homenagem à casa, foi erguido no Bosque do Alemão o Portal da Casa Mylla, uma réplica de sua fachada com gradil original da construção.
Localização similar à foto anterior, na Rua Barrão do Cerro Azul. Casa Mylla ficava próxima à Praça Tiradentes. Na imagem, o casarão se encontra à direita. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba
Localização similar à foto anterior, na Rua Barrão do Cerro Azul. Casa Mylla ficava próxima à Praça Tiradentes. Na imagem, o casarão se encontra à direita. Foto: Acervo Casa da Memória/Diretoria do Patrimônio Cultural/Fundação Cultural de Curitiba

Residência Cleuza Lupion Cornelsen

Considerada uma das obras-primas do arquiteto modernista Lolô Cornelsen, a residência do próprio e sua esposa era carregada de referências à Le Corbusier. Com linhas limpas, o curitibano criou integração entre terreno irregular e a casa construída em 1949 por meio de pilotis, além de um vasto jardim e mosaico desenhados pelo arquiteto na Alameda Presidente Taunay, 307.
Residência Cleuza Lupion Cornelsen ficava localizada na Alameda Presidente Taunay, no Batel.
Residência Cleuza Lupion Cornelsen ficava localizada na Alameda Presidente Taunay, no Batel.
Com diversos móveis assinados pelo próprio Lolô, a casa foi construída no formato de leque. O andar térreo abrigava um salão de 200 m² que, segundo Paulo Cesar Zanoncini Lins, autor de “Caminhos da Arquitetura: Trajetória profissional de Ayrton ‘Lolo’ Cornelsen”, era a sensação das festas na capital. A casa foi demolida em 1999, dando lugar a um edifício no Batel.
Localização atual da Alameda Presidente Taunay, 307. Foto: Reprodução/Google Maps
Localização atual da Alameda Presidente Taunay, 307. Foto: Reprodução/Google Maps
*Colaborou André Eduardo dos Santos Filho.

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