A singela “casa de boneca” que encanta os curitibanos
HAUS
04/08/2017 19:00
Localizada na Rua Saint'Hilaire, no Água Verde, a casinha sempre colorida chamou a atenção em um grupo do Facebook. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo | Carolina Werneck Bortolanza
Cercada por grandes edifícios, uma singela casinha colorida na Rua Saint’Hilaire, no Água Verde, resiste ao avanço do concreto cinza e segue encantando os curitibanos com seu colorido peculiar.
Toda pintada de azul céu, com detalhes em rosa e amarelo, o imóvel parece ter saído de uma história infantil ou de um catálogo de casas de boneca. Esses foram, aliás, aspectos muito mencionados em uma postagem no grupo do Facebook “Clube da Alice”. O tópico teve mais de três mil reações. Nos comentários, muita gente se declarando encantada pela casinha. “Acho muito fofa essa casinha. Sempre que passo fico admirando”, disse uma mulheres participantes do grupo. “Meu sonho uma casa exatamente assim”, admirou-se outra.
"Casa de princesa" e "casa de boneca" foram alguns dos termos usados para descrever o imóvel no Facebook. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo
Em meio às declarações de amor pela casa, muita especulação sobre o que funcionaria no endereço. Algumas pessoas sugeriam que o imóvel seria um brechó, enquanto outras diziam ser uma pousada ou uma locadora de vídeos. A verdadeira história da “casa de boneca”, no entanto, não tem grandes segredos. Ali viveu Dona Genoveva, uma mulher alegre e muito caprichosa com a casa e o jardim. Muitas das participantes do grupo afirmaram já ter visto a senhorinha ocupada com as plantas ou com a pintura do lugar. Um dos depoimentos dizia “quando eu era criança a Dona Genoveva, aos meus olhos, já era velhinha. A gente frequentava a casa da esquina de cima. (…) Ela sempre pintou a casa de colorido assim, cada parte de uma cor. As cores mudavam, mas sempre assim colorida”.
De acordo com a própria postagem, Dona Genoveva “faleceu há algum tempo. Era uma senhora cheia de vida e alegria e deixou recordações maravilhosas para toda a família”. Adriano Moreira Paes é dono da Mercearia Duck Tales, que funciona há 30 anos na mesma quadra em que está a casa. “Ela sempre comprava ovos aqui. Lembro de ela reclamar vez ou outra de ovos avariados ou estragados”, diverte-se o comerciante. Ele diz que nunca teve curiosidade de perguntar o motivo pelo qual ela deixava a casa tão colorida.
A reportagem tentou contato com membros da família, hoje responsáveis pelo imóvel, que preferiram não se manifestar.
Os detalhes do colorido impressionam. Na imagem, a porta amarela faz contraste com a entrada, pintada de rosa, e com o restante da casa, em azul. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo
Na discussão no Facebook, teve até quem sugerisse que a casa fosse tombada pelo Patrimônio Histórico. “Se tombarem, não poderão mexer na fachada da casa”, lembra uma das “Alices”. No entanto, o processo de tombamento não é simples. Para José La Pastina, arquiteto que foi membro do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná (Cepha) até maio deste ano, a tipologia arquitetônica da casa, de meados do século 20, não representa a arquitetura brasileira nem a paranaense. “Trata-se de uma construção residencial a qual nos referimos comumente como ‘de catálogo’, isto é, uma construção inspirada (ou literalmente copiada) em revistas ou livros populares editados naquela época.”
De acordo com La Pastina, a profusão de cores pode dar a impressão de que se trata de uma residência com influências da arquitetura da imigração. Mas esse fato, isoladamente, “não é suficiente para justificar o esforço para a preservação”. Ainda assim, ela acabou se transformando em um pequenos oásis no absolutamente vertical Água Verde e seguirá encantando quem passa pela região enquanto resistir ao avanço do mercado imobiliário.
