
Eclético. Um pouco artista, um pouco designer. Um talento extraordinário. Aos 37 anos, Matteo Cibic, nascido em Parma, é um dos nomes mais importantes do design contemporâneo. Sobrinho do arquiteto e fundador do grupo Memphis Aldo Cibic, o jovem italiano é conhecido pelas suas criações irônicas. Suas obras estão espalhada pelo mundo inteiro: museus, galerias e prateleiras de grifes exclusivas. Peças antropomorfas, de formas lúdicas e irreverentes.
De sua casa em Vicenza, no norte da Itália, HAUS conversou, por telefone, com Matteo Cibic. Ele fala sobre o Fuorisalone.it, as mudanças no design e no nosso dia-a-dia depois da pandemia e de seu trabalho.

Design e Covid-19. Durante o lockdown você desenhou para a FusinaLab uma divisória que recebeu o nome de Cov. Como nasceu esse projeto?
Quem poderia pensar que um biombo se tornaria uma peça essencial na decoração? E virou. A ideia veio após a abertura parcial das lojas. Na minha cidade, Vicenza, me deparei com objetos grotescos. E pensei, que seria oportuno criar um instrumento que fosse esteticamente belo e ao mesmo tempo que não se tornasse um obstáculo para a socialização. Assim nasceu uma série de divisórias elegantes e inteligentes, em acrílico transparente, que podem ser usadas em qualquer ambiente: restaurante, escritório, salão de beleza. O conceito é da barreira sanitária mas não psicológica.

Nossas vidas mudaram. Estamos vivendo o chamado “new normal”. Como o design pode nos ajudar a enfrentar esse momento?
O design já está contribuindo com sua criatividade. Basta pensar nos novos produtos como as divisórias, tecidos antivirais, só para citar alguns. O que poucos falam é que o design, que é sinônimo de projeto, nos ajudou a superar o isolamento e me explico melhor. O e-commerce, que foi fundamental para o nosso dia-a-dia, é resultado do trabalho de um design gráfico. E esse mesmo design será muito importante daqui para frente. Muitas empresas como, por exemplo, a Zara anunciou o fechamento de mais de 1,2 mil lojas para investir nas vendas pela internet. E aí entra fortemente o design digital. Em relação ao design de produto, na minha opinião veremos mais produtos de qualidade, feitos para durar muitos e muitos anos.

O seu período de quarentena parece ter sido produtivo. Correto?
Para ser sincero, sim. Gosto de ressaltar que tenho a vantagem de morar em Vicenza, no norte da Itália, uma cidade tranquila. Não uma metrópole. Vivo em uma casa com uma bela varanda, muito iluminada e silenciosa, que é também meu local de trabalho. Teria sido difícil se ainda estivesse no meu antigo apartamento em Milão. Cozinhei mais, vi menos os amigos, mas as ideias fluíram. Além do Cov, desenvolvi uma série de novas estampas - Domestic Jungle - para a Jaipur Rugs, que produz tapetes feitos à mão por artesãos indianos. Passei muito tempo no jardim, cuidando das plantas. E daí veio a inspiração. Os novos tapetes inclusive já estão em produção.
E por falar em criações e lançamentos, a coleção de tapetes da Jaipur Rugs, apresentada em Paris, em setembro passado, é uma das atrações do Fuorisalone.it. Qual a sua opinião sobre essa versão digital do Fuorisalone?
Os tapetes fazem parte de uma colaboração com um pintor e artesãos indianos. Tenho de dizer que foi maravilhoso trabalhar com a Jaipur Rugs. A empresa ajuda mais de 40 mil artesãos em seis estados indianos. Desenhei uma série de modelos, 30 no total. Todos feitos à mão em lã, viscose e seda de bambu, com estampas inspiradas na paisagem, na arquitetura e na flora de Japur, que é conhecida como a Cidade Rosa.

Em relação ao evento, é uma demonstração de força e de união da indústria do design. É também uma forma de se reunir novamente, mesmo que virtualmente. Designers, indústria e público que dialogam novamente. Fica faltando, com certeza, o contato físico, tocar e ver de perto os produtos, mas é sempre uma alternativa válida. Um elemento complementar a versão original.

Você se sente mais artista ou designer? E como é a sua relação com os seus clientes?
Há dias que me sinto mais artista. Outros mais designer. Depende do dia. Mas sou um pouco dos dois. Um completa o outro. São meus clientes que me escolhem, me ligam e me escrevem. Trabalho só para pessoas simpáticas (risos).
Qual é o futuro do design e em especial do design Made in Italy?
A pandemia nos ensinou que temos de dar mais valor a qualidade do produto. Depois de anos vivendo a onda do fast - fast food, fast fashion, fast politic, fast design, fast love - é hora de nos concentrarmos em produzir objetos que durem, que sejam de qualidade, com matérias primas e acabamentos de primeira e que sejam sustentáveis. Design e produção devem pensar na produção de peças sob medida, personalizadas. Otimização significa produzir menos resíduos que impactam no meio ambiente. O Made in Italy tem em seu DNA todas essas características. Creio que estamos para ver o nascimento de um novo design, com objetos sendo realizados de acordo com a necessidade do consumidor. Peças inteligentes que tenham um propósito.
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