Condomínios adotam gestão consciente do lixo e economizam até R$ 38 mil

Carolina Werneck*
15/05/2017 21:01
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No Condomínio Residencial Buenos Aires, os resíduos são separados em gaiolas até que as empresas responsáveis façam a coleta. Foto: Condomínio Buenos Aires/Divulgação

Grandes geradores de lixo, os condomínios residenciais começam a dar atenção especial à reciclagem. Com 264 apartamentos e duas lojas comerciais anexadas, o Condomínio Residencial Buenos Aires passou a fazer a gestão do lixo produzido pelos condôminos em 2014. Para isso foram contratadas três empresas diferentes.
“Nós elaboramos o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) do condomínio. Com esse plano pronto e a ajuda do programa ECOatitude, fizemos a terceirização do lixo, que agora tem sua destinação toda certa”, relata Geremias Alves da Luz, ex-síndico responsável pela implantação do sistema. O processo foi iniciado em 2014 e trouxe, inclusive, benefícios financeiros para os moradores. “Esse sistema tem um custo anual de R$ 48 mil. Por causa da terceirização, a Prefeitura nos concedeu um benefício da isenção da coleta da ordem de R$ 86 mil anuais, tendo como referência o ano passado”, explica. O processo precisa ser feito junto à administração municipal uma vez por ano.
Da maneira como funciona a coleta no condomínio, cada empresa contratada é responsável por recolher um tipo de lixo. Enquanto a Transportec pega o lixo orgânico, a Oudiser coleta o material reciclável e a Fukuoka se encarrega do lixo especial, composto por resíduos tóxicos ou com potencial de contaminação. O lixo eletrônico e hospitalar, assim como lâmpadas usadas, são devidamente separados pelos moradores ainda dentro dos apartamentos. Depois, esses materiais são acondicionados pelo condomínio até o dia da coleta, realizada pela Fukuoka uma vez por mês.
Juliana Zaniolo da Silva, sensibilizadora de ecossistemas, e Katiane Merhy, bióloga, são as responsáveis pela Oudiser. Para elas, um dos princípios mais importantes da gestão do lixo é a “responsabilidade compartilhada”, que torna o gerador responsável pela destinação de seus resíduos. Uma das consequências desse princípio é “a preocupação de grandes geradores em gerar a menor quantidade possível de resíduos, protegendo assim o meio ambiente e se forçando a ter mais eficiência em sua atividade econômica”, explicam elas.
Tudo é feito com a certeza de que o material separado de fato receberá a destinação correta no final da cadeia. Para garantir a colaboração de todos, o condomínio promoveu o treinamento dos 850 moradores do condomínio. Ao longo de três meses, entre duas e três vezes por semana, os profissionais da Oudiser ficavam à disposição dos condôminos no salão de festas. De hora em hora havia uma sessão de capacitação.
Nas “aulas”, os instrutores ensinavam as diferenças entre os materiais descartados e a maneira correta de separá-los e acondicioná-los. Outro ponto importante do processo foi a conscientização. “A gente ficou um período acompanhando o descarte [feito pelos moradores]. Além dos treinamentos, houve orientação. Colocamos jornais explicativos nos elevadores e distribuímos cartilhas”, diz Luz. O atual síndico do Buenos Aires diz que “com tanta informação, não temos muita dificuldade em manter a coleta seletiva, nem mesmo com os moradores novos”.
Além da separação nas categorias orgânicoreciclável e especial, os moradores também foram orientados a separar objetos de vidro dos demais materiais recicláveis. “O vidro é mantido separado dos outros materiais inclusive depois que é levado para os contêineres. Somente a separação entre metal, papel e plástico fica a cargo da Oudiser”, explica Luz.
O condomínio também se preocupou em adequar sua estrutura ao novo sistema de separação e coleta do lixo. Gaiolas foram construídas para que os sacos de lixo reciclável sejam devidamente descartados. Somadas as duas torres do Buenos Aires, são cinco gaiolas. Além disso, a revitalização do espaço é outro ponto destacado por Luz. “O ponto de descarte foi todo grafitado. Artistas fizeram uma pintura que deixou o ambiente do lixo adequado e, ao mesmo tempo, agradável.” Todos os gastos foram cobertos com dinheiro proveniente da isenção da taxa de coleta municipal.
Ainda que não se retire da administração pública a responsabilidade pelo lixo orgânico, é possível buscar boas práticas. No caso do condomínio Platinum Towers, de 52 unidades, o lixo é separado apenas entre orgânico e reciclável. A síndica Loredana Bittencourt conta que queria garantir que o lixo reciclável gerado pelos moradores teria a destinação correta e pudesse, ainda, ajudar quem vive desse materiais. “É um lado que a gente, muitas vezes, não enxerga. Adianta eu pensar em reciclagem se eu não cuidar de quem está pegando esse lixo? Se eu não cuidar para que esse lixo tenha uma finalidade que traga algum benefício para a sociedade?” Em contato com uma família de catadores que já costumava recolher o lixo do condomínio, o problema foi solucionado. “Agora, só eles fazem a coleta aqui no condomínio. Essa parceria funcionou muito bem tanto para os moradores quanto para essas pessoas”, afirma Loredana.
Embora a implantação de sistemas de gestão do lixo seja gradual e exija uma boa dose de paciência, Luz avalia que os resultados valem a pena. “O retorno ambiental é excelente. É muito bom saber que o condomínio está colaborando para a preservação do meio ambiente.”
*especial para a Gazeta

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