Após meses (ou até anos) de espera, finalmente chega a hora de receber as chaves do novo apartamento. O que é sonho para a grande maioria das pessoas pode se transformar em dor de cabeça se, na ânsia de recebê-lo, o comprador não se atentar a alguns detalhes que podem parecer sem importância, mas que fazem toda diferença para que a mudança e o uso posterior do imóvel ocorram de forma satisfatória.

Quem dá o alerta é a engenheira civil Maria Clarice de Oliveira Rabelo, especialista em patologias de construção e execução de obras e ex-integrante da Câmara de Avaliações e Perícias do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). Segundo ela, é fundamental que no momento da vistoria de entrega do bem os proprietários façam uma avaliação criteriosa de todas instalações e reportem para a construtora qualquer defeito, mau funcionamento, falha na execução ou falta de itens que constam no memorial descritivo do imóvel.

“O memorial descritivo é registrado juntamente com o registro do imóvel. Ele tem que ser solicitado pelo comprador já no momento em que este adquire a unidade, pois contém o checklist do que a construtora [se comprometeu] a fazer e do que [efetivamente] está entregando”, explica. Entram nesta lista a metragem privativa, o tipo de acabamento dos pisos e paredes, metais e louças, para citar alguns exemplos.

Para checar todos estes itens, Maria Clarice sugere que o comprador compareça à vistoria de entrega, realizada na presença de um representante da construtora, acompanhado de um arquiteto ou engenheiro especializado em execução de obras.

“O ideal seria a pessoa contratar este profissional para acompanhá-la, pois ele tem um conhecimento global acerca das obras e, por isso, um olhar muito mais crítico que o do cliente, que costuma não ter esta experiência. No memorial pode estar especificado que os rodapés serão de madeira, mas eles estarem sendo entregues em peças laminadas”, ilustra.

São diversos os elementos que devem ser checados no momento da entrega das chaves. Os fundamentais - e mais fáceis de serem verificados, até mesmo por leigos - são aqueles diretamente relacionados ao dia a dia de uso do imóvel. Abaixo compilamos sete itens que merecem atenção na vistoria de um apartamento novo e como verificá-los de modo simples para evitar possíveis problemas após a mudança:

Ralos: leve um recipiente plástico quando for visitar o imóvel. Lá, encha-o com água e despeje o líquido próximo dos ralos. Assim, conseguirá verificar se eles estão obstruídos e se o escoamento d´água foi executado corretamente.

Pias: abra todas as torneiras para verificar seu funcionamento e o fluxo de vazão da água por elas. Da mesma forma, observe se o líquido escoa com facilidade pelo sifão.

Bacias sanitárias: ao vistoriar os banheiros e lavabos, dê a descarga para checar o funcionamento, vazão e escoamento da água nas bacias.

Portas e esquadrias: abra e feche todas as janelas e portas para verificar se funcionam corretamente. Além de movimentar as folhas, observe se todas acompanham as respectivas chaves e se trancam e destrancam com facilidade.

Elétrica: cheque todas as tomadas e bocais para lâmpadas e luminárias. Para isso, utilize um voltímetro ou algum equipamento eletrônico.

Revestimentos: verifique se os revestimentos estão bem instalados e se não apresentam manchas ou trincas. Cheque, também, se o rejunte não está solto ou faltando.

Área útil: a metragem útil do apartamento também deve ser verificada no momento da entrega das chaves. Segundo Maria Clarice, variações de até 5% (para mais ou para menos) em relação ao que consta no memorial descritivo são aceitas pela norma de desempenho das edificações.

O recomendado é que a vistoria seja realizada com tranquilidade e que todas as instalações do imóvel sejam testadas. Encontrada qualquer divergência ou mau funcionamento, isso deve ser imediatamente comunicado à construtora. A sugestão da engenheira civil é de que os problemas, que podem ser desde uma mancha na parede até um piso desnivelado, sejam relatados no verso do documento que atesta a entrega do imóvel, e que deve ser assinado pelo comprador e pelo representante da construtora que acompanha a vistoria, e comunicados imediatamente à empresa (preferencialmente por e-mail).

“É importante que o responsável pela empresa assine e coloque seu CPF ao final da anotação, e que este registro dos problemas [com as respectivas assinaturas de ciência sobre eles] constem nas duas vias do documento: a que será entregue para o cliente e a que ficará de posse da construtora”, orienta. Desta forma, segundo ela, o fato estará documentado e, assim como a troca de e-mails, poderá servir de eventual prova caso a construtora não execute os reparos.

“O fato de se encontrar um problema não quer dizer que a construtora é ruim, pois pode acontecer de algo passar [na vistoria realizada pelos funcionários da empresa]. Mas a construtora deve executar o reparo. É como um recall de carro”, completa a especialista.