Para especialista em mobilidade, cidade ideal é a que oferece tudo a 10 minutos a pé

Camila Machado*
03/04/2019 16:11
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Para Benjamin de la Peña, uma cidade ideal deve oferecer serviços a no máximo 10 minutos de distância a pé. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo | André Rodrigues

Precisamos reavaliar a maneira como nos deixamos aprisionar pela tela de um celular, ao invés de pensarmos em soluções inteligentes para os desafios das cidades — em especial, o da mobilidade urbana. Esta é a visão do norte-americano Benjamin de La Peña, chefe de Estratégia e Inovação do Departamento de Transporte de Seattle.
La Peña esteve em Curitiba durante o Smart City Expo, maior evento de cidades inteligentes do mundo, que aconteceu em 21 e 22 de março. O especialista era um dos nomes mais aguardados do congresso, e surpreendeu a plateia ao questionar a forma com que a sociedade está lidando com as tecnologias.
Curitiba recebeu, em 2019, a segunda edição brasileira do maior congresso de cidades inteligentes do mundo: o Smart City Expo. Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo
Curitiba recebeu, em 2019, a segunda edição brasileira do maior congresso de cidades inteligentes do mundo: o Smart City Expo. Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo
HAUS conversou com La Peña sobre o papel do carro nos dias de hoje, o paradigma que é a mudança de atitude, a cidade ideal, e como enxerga os próximos anos. O profissional tem mestrado em Planejamento Urbano pela Universidade de Harvard e Bacharelado em Comunicação (Jornalismo) pela Universidade das Filipinas. A entrevista você confere abaixo.
Benjamin de La Peña no Smart City Expo Curitiba. Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo.
Benjamin de La Peña no Smart City Expo Curitiba. Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo.
Você comentou que é um grande entusiasta da mobilidade e vê de forma positiva as transformações que vem acontecido pelo mundo. Como enxerga essas transformações?
Sou muito positivo nesta questão porque estamos na era das reinvenções: precisamos aperfeiçoar o que já foi feito pelos outros.
Parte desse otimismo é porque, finalmente, concordamos que o carro não funciona mais para todas as ocasiões. É preciso pensá-lo de forma diferente. Mesmo os carros elétricos não resolvem o problema dos congestionamentos, e isso é só um exemplo.
Agora, enfim, conseguimos ver que é preciso um rearranjo das infraestruturas das cidades, que precisam servir às pessoas e não aos carros. Isso é muito empolgante, enxergar as outras formas de mobilidade, seja patinetes, bicicletas, e o que mais surgir.
A Yellow, empresa brasileira de soluções de mobilidade urbana individual, passa a oferecer o serviço de compartilhamento de bicicletas no sistema dockless (sem estação para retirada e devolução) e patinetes elétricos em Curitiba, disponíveis em regiões da cidade como a do Museu Oscar Niemeyer (MON). Foto: Cassiano Rosario/Gazeta do Povo
A Yellow, empresa brasileira de soluções de mobilidade urbana individual, passa a oferecer o serviço de compartilhamento de bicicletas no sistema dockless (sem estação para retirada e devolução) e patinetes elétricos em Curitiba, disponíveis em regiões da cidade como a do Museu Oscar Niemeyer (MON). Foto: Cassiano Rosario/Gazeta do Povo
É possível pensar uma cidade ideal quando o assunto é mobilidade?
Um plano de transporte aliado a um plano urbanístico pode ser a saída. E o melhor plano de transporte é aquele que usa todas as potencialidades daquele local, daquela cidade, daquela realidade, que atenda às necessidades das pessoas que moram ali.
O trabalho precisa estar perto de casa e vice -versa. É preciso ter comodidade nos deslocamentos, aproveitar de forma inteligente os territórios. Na minha visão, a cidade perfeita é quando o morador vive a dez minutos a pé dos serviços que precisa. Lojas, equipamentos públicos, lazer e trabalho na mesma vizinhança.
Foto: Antônio More/Gazeta do Povo
Foto: Antônio More/Gazeta do Povo
A tecnologia deve servir as pessoas e não ao contrário. Esse foi o mote do seu discurso durante o Smart City Expo Curitiba. De que maneira somos aprisionados? 
Se de um lado eu sou muito otimista em relação às transformações, por outro vejo tudo com muita preocupação.
A tecnologia nos faz escravos. Passamos horas olhando para as telas de nossos celulares e deixamos de falar com as pessoas. As cidades são as pessoas e, deixando de olhar para elas, de enxergá-las, não sabemos mais como viver e nos conectar com a nossa comunidade. Isso é assustador. Novas tecnologias estão vindo. Elas irão nos conectar ou nos afastar?
*Especial para Gazeta do Povo.
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