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Máscara de mergulho adaptada e respirador impresso em 3D; ideias que unem design e medicina

Mariana Ceccon, especial para HAUS
31/03/2020 11:00
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Inspirado em uma tecnologia dos anos 1950, startups que fazem parte do centro de inovação do Hospital Albert Einsten uniram-se para imprimir esse ventilador mecânico portátil, batilzado de Breath4Life. | Divulgação.

Com a crescente demanda por ventiladores pulmonares estimulada pela pandemia de Covid-19, designers de todo o mundo estão unindo-se a médicos, enfermeiros e engenheiros para projetar dispositivos de auxílio respiratório, que possam ser fabricados em larga escala, e de forma rápida e barata. As soluções quase sempre passam pela impressão 3D, graças a possibilidade de fazer diversos testes e ajustes nos protótipos, em um tempo muito reduzido.
No Brasil, algumas iniciativas envolvendo os respiradores artificiais já saíram do papel. É o caso do mini ventilador respiratório batizado de Breath4Life, criado dentro da aceleradora de startups do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O dispositivo, que pode ser integralmente criado em uma impressora 3D, foi desenvolvido pelas startups Hefesto e Anestech, e é inspirado no mini ventilador criado pelo médico nipo-brasileiro Kentaro Takaoka, em 1955. O respirador não depende de energia elétrica, é portátil e é acionado através do próprio fluxo de oxigênio fornecido aos pacientes.
Em estágio final de aprimoramento, o passo a passo de como imprimir o dispositivo deve ser publicado online em poucas semanas. A previsão é do médico diretor da Hefesto, Luiz Fernando Michaeli. "Há uma grande preocupação em fornecer suporte científico para quem pretende imprimir este modelo. Além de adaptar para impressão 3D, também fizemos algumas atualizações mecânicas no ventilador do Doutor Takaoka", explicou. Ainda esta semana, a equipe formada por mais de 40 profissionais do design, engenharia e medicina, deve testar o dispositivo em laboratórios parceiros.
O Breath4Life vem sendo considerado uma importante iniciativa justamente porque é capaz de dar suporte a equipes médicas dentro e fora de hospitais, inclusive em locais remotos e de difícil acesso. No entanto, por não conter nenhum dispositivo eletrônico, que faça a regulagem do fluxo de oxigênio, o aparelho não serve para pacientes que precisem de pressão expiratória positiva ou que estejam sofrendo de síndrome da angústia respiratória. "Na carência de ventiladores mais robustos, como os microprocessados disponíveis em UTI, o Breath4Life poderá ser usado. Ele é considerado um ventilador de entrada e de transporte, liberando os ventiladores mais robustos para pacientes mais graves", explica o médico Diógenes Silva, diretor da Anestech.

Design e adaptação

Outra iniciativa que tem rendido bons frutos é a parceria entre a revendedora francesa de acessórios esportivos Decathlon e o Instituto Italiano de Estudos para a Integração de Sistemas (Isinnova). Procurados pelos médicos do Hospital Gardone Val Trompia, da Bréscia, os designers do instituto foram desafiados a criarem uma válvula que pudesse ligar máscaras de mergulho a dispositivos de fornecimento de oxigênio, as transformando em ventiladores pulmonares.
A válvula batizada de Charlotte foi impressa em 3D em poucos dias, custou menos de um euro. O projeto está publicado no site do Isinnova e pode ser acessado gratuitamente. Os bons resultados da adaptação estimularam que a marca esportiva francesa suspendesse as vendas na máscara de snorkel Easybreath e fizesse a doação desses materiais em diversos países, como Estados Unidos, França, Itália, Espanha e também no Brasil. Não há números oficiais de quantos equipamentos já foram doados nos 70 territórios onde a Decathlon está presente, mas somente nos países europeus citados, os estoques somam cerca de 70 mil máscaras.
Em suas redes sociais a Decathlon Brasil informou que também aderiu ao movimento de doação, suspendendo as vendas das máscaras. "Como meio de ajudar no tratamento de pessoas em estado grave, decidimos doar todo o nosso estoque do Brasil a entidades médicas parceiras que se disponibilizaram a trabalhar na adaptação do produto e transformá-lo em um recurso hospitalar. Nossa atitude não poderia ser outra senão a de garantir que as nossas máscaras estejam disponíveis aos que mais precisam", traz o comunicado oficial da marca.
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Decathlon Brasil informou que o estoque doado em território nacional é de cerca de três mil equipamentos, que estão sendo direcionados para instituições de saúde em Campinas, Porto Alegre e Curitiba.
Veja como funciona a adaptação:

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