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Mercado Imobiliário

Depois do arroz, o tijolo. Qual o impacto da alta nos preços dos materiais de construção?

Marcos Kahtalian*
08/10/2020 21:00
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Apertem os cintos, o preço do material subiu!

Depois do arroz, o tijolo. Já não deve ser mais novidade para ninguém interessado, a essas alturas do último trimestre do ano, que os preços dos materiais de construção subiram. Melhor dizendo: levantaram voo, dispararam. Do aço à saca de cimento; do PVC ao cobre; do tijolo ao alumínio - sem exceção significativa - todos os insumos de produção avançaram para a casa de mais de dois dígitos, quando comparado com o período pré-pandemia. Não existe uma estatística nacional consolidada, dada a dispersão geográfica dos fornecedores, mas há dezenas de relatos apontando que insumos básicos como aço tiveram reajustes de mais de 40%. O que está acontecendo, afinal?
Como
sempre, a explicação é múltipla. Algumas associações de
fabricantes apontam para o desligamento de fornos, para a parada
física das fábricas, e a consequente retomada defasada da produção,
com pedidos em carteira avolumando-se. Comenta-se muito também do
impacto de parte do auxílio emergencial para o comércio dito
“formiguinha” de materiais de construção – o que de fato o
IBGE apurou com o bom desempenho das lojas em agosto (22% sobre o ano
anterior). E há ainda a recuperação mais rápida da demanda do
mercado imobiliário, impulsionado também pelas menores taxas de
financiamento para aquisição do imóvel. Isto é, foi uma
tempestade perfeita, que pegou a todos empresários do setor de
surpresa. Queda de oferta, demanda mais ativa, preços em alta e
subindo.
Parêntese rápido: sem contar com um outro, digamos, “probleminha”: as fábricas estão com dificuldades de prazo longo de entrega, tendo as construtoras que realizar uma difícil e longa organização da produção, com mais de 60 a 90 dias de demora para receber o produto pedido. Não está fácil para o setor, caro leitor.
Entretanto
é importante colocar o seguinte: é um equívoco achar que o
problema está do lado da demanda, posto que o próprio PIB da
construção irá cair este ano, assim como o PIB nacional. O
problema está do lado da oferta, que além de estar muito restrita,
no momento atual, é, sabidamente, super concentrada, sobretudo no
setor de insumos de base, como aço e cimento. Diferentemente do
arroz, que pode ser trocado por macarrão - como se sugeriu, sem
adesão aliás – na construção civil, mesmo que se mudem os
métodos construtivos, certos insumos permanecem e são impactados no
seu preço. Não tem o equivalente ao macarrão.
Isso
ocorre porque estamos em uma economia de mercado os preços são
livres e flutuam; mas em algum momento, espera-se, haverá um ajuste
de oferta, inclusive devido às ações das empresas e entidades
setoriais como o Sinduscon-PR, que obviamente estão se mexendo.
Porém, até lá, o que fazer?
Apertar
os cintos. Embora, em tese, o preço possa ser repassado para o
consumidor, este obviamente não teve sua renda permanente aumentada,
o que acaba diminuindo o espaço concreto para ajustes. Isso
significa que as empresas terão que – mais uma vez – refazer
seus orçamentos, estruturar melhor sua disciplina de custos, saber
precificar de forma inteligente. Quando isso for possível, posto que
há casos em que de fato o orçamento já está fechado, inclusive no
caso de obras públicas. Ou seja, a repercussão do aumento de preços
é geral, não atinge apenas os construtores, mas toda sociedade.
Para os empreendedores e para os novos projetos, no entanto, uma boa dica é justamente procurar por aquelas áreas de produto que o mercado mais demanda, e que estão tão em falta, como nós das Brain temos observado. Há muitos incorporadores em todo o país, em todas as faixas de renda, acertando no produto, no local certo, com o preço correto – aquele preço que não assusta a família e ao contrário, faz ela perceber o valor do imóvel como a maior aquisição de bem-estar de sua vida. Há sempre espaço para a inteligência e a criatividade e é isso que temos que perseguir. Trata-se de um retorno aos fundamentos básicos do bom projeto, voltando-se para aquilo que de fato importa para o consumidor. Onde o consumidor vê valor? O que interessa para a família nessa sua mudança de imóvel? Aí é que temos que acertar. Algumas das melhores coisas da vida nem sempre são as mais caras, como um bom prato de arroz com feijão costumava ser.
* Marcos Kahtalian, é sócio fundador BRAIN Inteligência Estratégica

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