A “rainha” das orquídeas em Curitiba e suas mais de três mil espécies

Aléxia Saraiva
30/04/2018 10:30
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Rosita Beltrão Rischbieter admira as orquídeas desde a infância e passou a colecionar espécies. Todas estão catalogadas em registros alimentados semanalmente. Fotos: Ana Gabriella Amorin / Gazeta do Povo | Ana Gabriella Amorim

As explicações ainda são escassas, mas o fato é que o número de orquidófilos homens supera, e muito, o de mulheres. Basta visitar qualquer exposição de orquídeas para notar que são poucas as que têm o hobby de cultivar as flores. E, nesse contexto, é impossível não destacar o trabalho de Rosita Beltrão Rischbieter. Com cinco estufas próprias, ela abriga em casa mais de três mil orquídeas. E, dessas, 1.449 têm nome, sobrenome, foto e um histórico de todas as vezes que a planta deu flor.
Estufas na casa de Rosita são preparadas para acomodar as espécies dela e da família.
Estufas na casa de Rosita são preparadas para acomodar as espécies dela e da família.
O gosto de Rosita por paisagismo começou cedo, quando tinha oito anos e brincava no jardim da avó, no Batel. Na adolescência, cuidava das próprias plantas em casa e, mesmo sem formação, já trabalhou como paisagista. Mas o hobby das orquídeas começou por brincadeira há cerca de 35 anos, quando passou a ganhar e comprar as flores. “Não tinha nome, não tinha nada: era flor pra enfeitar a casa. Mas, quando eu comecei a ir às exposições e conversar com os homens todos, eu pensei ‘mas por que eu não posso fazer isso também?’”.
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As orquídeas que florescem ficam por um tempo nas áreas sociais da casa.
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Foi aí, entre 2007 e 2008, que a prática passou a ter ares profissionais. “Eu cheguei à conclusão que precisava saber qual espécie não dava flor todo ano e o que elas estavam precisando”, conta. Então, ganharam forma as estufas e os cadernos que catalogam todas as flores da casa, e entrou na história uma figura fundamental: Izabel Silvestrini, orquidófila profissional que realiza a manutenção de todas as plantas. Rosita estava visitando o antigo Orquidário Werner, nas Mercês, onde Izabel trabalhava, quando fez o convite para que ela cuidasse do império botânico.

O nascimento do império

Detalhe de uma das estufas de  Rosita Beltrão Rischbieter.
Detalhe de uma das estufas de Rosita Beltrão Rischbieter.
Depois de uma tentativa frustrada de adaptar o espaço da lavanderia para abrigar as orquídeas, Izabel e seu marido, também orquidófilo, construíram a primeira estufa no enorme terreno localizado no bairro São Lourenço. Desde então, outras quatro foram construídas. A menor delas tem 100m².
Dentre os milhares de vasos, estão os de Rosita e os de amigos e familiares que os deixam aos seus cuidados. As espécies variam entre plantas nacionais e internacionais, algumas trazidas por Rosita de viagens à Tailândia, Itália e Estados Unidos.

Rotina

Toda quarta-feira, Izabel recolhe das estufas todas as orquídeas que deram flor — número que varia de dez a vinte vasos — e as coloca em uma das salas da casa de Rosita. É então que o trabalho de catalogação acontece. Cada vaso tem um número, que corresponde a um registro nos cadernos. Rosita então pega o caderno correspondente e anota mês e ano da florada. Cada página tem o registro completo do histórico da espécie desde a sua compra.
Rosita dedica um dia da semana para catalogar as orquídeas de suas estufas.
Rosita dedica um dia da semana para catalogar as orquídeas de suas estufas.
“Depois que elas são identificadas a gente cria mais afinidade e amor porque elas têm nome. Senão fica uma coisa desconhecida, “as orquídeas”, quando na verdade cada uma tem uma característica diferente”, afirma. No total, as 1.449 flores catalogadas estão reunidas em 17 cadernos. Outras tantas ainda não ganharam registro ou porque são de terceiros, ou porque já estão separadas para um novo projeto de Rosita: seu próprio orquidário. Ela está aguardando o retorno da Prefeitura para dar continuidade aos planos.

“Elas admiram, eles colecionam”

Rosita é duas vezes viúva. Foi casada com o empresário Cecílio Almeida, com quem teve seis filhos, e com o ex-ministro da Fazenda Karlos Rischbieter. Sua casa recebe festas de toda a família, nas quais as flores são protagonistas. “Outro dia teve uma festa aqui no salão da piscina e tinha 80 orquídeas em flor”, ela conta. Com 22 netos, Rosita tem esperanças de passar o hobby ao menos a uma das descendentes. “Eu tenho uma neta de 27 anos pra quem quero ver se consigo [ensinar o gosto]. Mas ninguém mais pegou o gosto, nem filho, nem neto. Nem olham”, lamenta.
O projeto de Rosita é criar um orquidário próprio para ampliar e compartilhar o conhecimento.
O projeto de Rosita é criar um orquidário próprio para ampliar e compartilhar o conhecimento.
Ela tem orgulho de representar as mulheres no meio, e tem diversas histórias de vezes em que foi questionada por isso. “Quando eu chego em reuniões de orquidófilos eles sempre acham que eu estou representando alguém”. Ela conta ainda que, entre os homens, a explicação para a divergência de interesse entre os gêneros é que elas admiram, eles colecionam.
“[Os homens com quem conversei] disseram que têm que ser sempre muito bravos, firmes, mais do que as mulheres, por causa da família. Com as orquídeas, eles encontram paz porque as plantas não reclamam. Que eles se sentem bem convivendo com orquídeas”. Ela concorda, mas só em partes: “É muitas vezes melhor conviver com orquídeas do que com gente”, ri.
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