Horta em espiral: aprenda como fazer esse canteiro sustentável para o seu jardim

Carolina Werneck*
17/12/2017 20:00
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A espiral de ervas utiliza os preceitos da permacultura para aproveitar melhor a energia da natureza para produzir vegetais em pequenos espaços. Foto: Reprodução/Pinterest

Em tempos que prezam por uma alimentação mais orgânica e com menos itens industrializados, ter uma horta em casa é opção simples e barata. Imagine, então, se essa horta obedecer a parâmetros naturais em sua própria estrutura. Este é o conceito da horta em espiral.
O termo “permacultura” foi cunhado pelos ecologistas australianos David Holmgren e Bill Mollison nos anos 1970. O objetivo é que o projeto esteja adequado às características naturais do ambiente em que será instalado. Isso significa que, no caso da horta em espiral, as plantas são selecionadas e plantadas tendo em mente suas necessidades e a capacidade da natureza de supri-las. Para a permacultora Rafaelle Mendes, essa estrutura “repete um padrão bastante comum na natureza, tendo a capacidade de criar vários microclimas em um espaço reduzido e, ainda assim, ser esteticamente atrativa”.
Forçar uma adaptação da planta, além de dar muito trabalho, pode simplesmente não funcionar. A paisagista Danielle Castellar explica que não é possível, por exemplo, manter uma suculenta e um cacto no mesmo vaso. “As necessidades de água e luz solar são diferentes para os dois. É melhor plantá-los em vasos separados para que se possa cuidar bem de cada um deles. Se você insistir em colocar os dois no mesmo vaso, provavelmente um deles vai morrer.” Essa regra também vale para verduras e legumes. Cada um precisa de um tipo de cuidado, a rega precisa estar ajustada à demanda de água, a quantidade de luz deve ser exatamente a requerida por cada espécie.
No topo vão as plantas que precisam de muito sol e solo mais seco. No meio, espécies que preferem meia sombra e umidade moderada. Na parte de baixo, ficam os vegetais que precisam de muita umidade e pouca luz. Foto: Reprodução/Pinterest
No topo vão as plantas que precisam de muito sol e solo mais seco. No meio, espécies que preferem meia sombra e umidade moderada. Na parte de baixo, ficam os vegetais que precisam de muita umidade e pouca luz. Foto: Reprodução/Pinterest
Para o jardineiro e gestor ambiental Ademar Brasileiro, conhecido como o “mago jardineiro”, a permacultura é “uma maneira de possibilitar o melhor uso de todas as energias do ambiente, estabelecendo sistemas sustentáveis, no longo prazo, de uso dos recursos”. Uma horta em espiral ou espiral de ervas é considerada um sistema regido pelos preceitos da permacultura. Isso porque ela ocupa pouco espaço, horizontalmente. Isso permite que as plantas sejam arranjadas de acordo com seu tempo de crescimento e tamanho que podem atingir. Brasileiro explica que, assim, é possível “aproveitar melhor o espaço no solo e o espaço aéreo, além do adubo e da irrigação”.

Passo a passo

Escolha um local que receba luz solar por pelo menos quatro horas todos os dias. Isso porque tanto as hortaliças quanto as ervas aromáticas costumam gostar de sol. Normalmente, a espiral é construída em ambientes muito pequenos, com 1 metro ou 1,5 metro de diâmetro. Mas ela também cabe em espaços maiores, com até 3 metros de diâmetro. Em termos de altura, ela só precisa ser baixa o bastante para que se faça a manutenção das plantas. O especialista aconselha que a estrutura tenha, no máximo, 1,5 metro ou 2 metros de altura.
Decidido o local, é preciso escolher o material da obra. “É uma cultura em que você usa o que tiver disponível”, diz Brasileiro. Nessa perspectiva vale usar tijolos novos ou velhos, pedras, seixos, madeira, troncos e até garrafas de vidro vazias.
Até mesmo garrafas de vidro vazias podem ser usadas para construir a espiral. Foto: Reprodução/Pinterest
Até mesmo garrafas de vidro vazias podem ser usadas para construir a espiral. Foto: Reprodução/Pinterest
Em seguida vem a terra em que serão plantadas as ervas ou verduras. O mago jardineiro afirma que a melhor para essa finalidade é a terra escura, que costuma ter mais húmus. “Mas você pode usar a terra vermelha ou a terra branca misturadas com esterco, cinzas, carvão, pó de rocha, biofertilizante de minhocas ou húmus mesmo.” Acomode a terra na espiral previamente erguida. A dica do jardineiro é cobri-la com folhas, serragem ou areia para impedir que ela absorva muito calor. Esse cuidado também evita o nascimento de ervas daninhas, porque essas plantas precisam de temperaturas mais altas para se desenvolver.
O terceiro passo é escolher as plantas que vão ser usadas no projeto. De acordo com Rafaelle, no topo da espiral devem ser colocadas espécies que necessitam de mais sol e menos água, “como alecrim, babosa e outras suculentas, além de arruda, melissa e lavanda”. O meio da estrutura, por sua vez, deve receber os vegetais que não gostam muito de sol e preferem um solo com pouca umidade. “Tenha em mente que, na parte central, enquanto de um lado houver sol do outro haverá sombra, então nessa parte podem ser plantados morangos, malva, tomatinhos cereja, cebolinha e salsa”, explica a permacultora. Na parte de baixo, que recebe menor incidência de luz solar e concentra a maior parte da umidade, o ideal é plantar gengibre, tomilho, manjericão, hortelã, mil folhas, entre outros.

Manutenção

Como toda horta ou canteiro, alguns cuidados são necessários para manter a espiral sempre bonita e o pequeno ecossistema criado por ela funcionando. Brasileiro afirma que é preciso ter cuidado com a irrigação. “O solo deve estar sempre úmido, nunca seco. Pode ser que você precise regar duas vezes ao dia, pode ser que seja dia sim, dia não. O fato é que ela não pode estar encharcada, mas também não pode estar seca.”
Outro ponto importante é a fertilização. Como o ambiente acaba sendo reduzido para as raízes das plantas, o ideal é fertilizar a terra a cada nova estação. “Isso pode ser feito com pó de rocha, cinzas, adubo, esterco, húmus ou mesmo chorume de compostagem”, enumera o jardineiro.
Tocos e troncos de madeira também dão boas paredes para esse tipo de obra. Foto: Reprodução/Pinterest
Tocos e troncos de madeira também dão boas paredes para esse tipo de obra. Foto: Reprodução/Pinterest
Por fim, a poda também é fundamental para que uma espécie não ocupe o lugar da outra. “Dê preferência para a poda em luas mais escuras. É que, na lua cheia, o líquido das plantas está todo para cima e ela tende a perder líquido devido à poda. Algumas podem até morrer. Além disso, podar na lua cheia causa uma brotação muito forte, que pode atrair bichos”, diz Brasileiro. Ele alerta que negligenciar a poda acaba fazendo com que a espiral “suma” em meio às folhas. Rafaelle ensina que “o ideal é podar sempre os dois últimos nós dos ramos mais longos, assim direciona-se a energia da planta aos brotos laterais propiciando uma planta mais cheia e sem talos que se envergam com o tempo”.

*Especial para a Gazeta do Povo

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