O paisagismo de Renata Tilli e seus jardins espontâneos

Um projeto nunca será bom se ele não emocionar. Ele pode ser tecnicamente bem resolvido, mas só vai ser bom se provocar os sentidos, os sentimentos. Os segredos de um belo jardim são amor e cuidado. Existem jardins que não tocam, porque não houve envolvimento emocional de quem os fez.

Renata Tilli nasceu praticamente em meio às plantas. De descendência italiana e escocesa, sua família cultiva flores há mais de cinco gerações. Ela é formada em Artes e há quase 40 anos projeta paisagens que emocionam em cada detalhe. Tem seus projetos, é difícil não ter um espaço na área externa para a contemplação do verde. E com essa paixão herdada pela natureza, Renata já trabalhou ao lado de grandes arquitetos como Arthur Casas e Isay Weinfeld. Profissional da capital paulista, a paisagista hoje coleciona trabalhos de várias regiões do país.

A minha família sobrevive da terra, tanto do lado dos italianos como dos escoceses, há muitos séculos. Tenho um amigo que brinca que nas veias da família Tilli corre clorofila. Estamos envolvidos no cultivo de plantas, desde que meu avô veio da Itália para o Brasil. Meu avô foi um grande orquidófilo e meu pai, um homem muito sensível. Sempre estivemos ligados à beleza. Isso me proporcionou uma intimidade profunda e uma relação muito estreita com a natureza.

Um bom profissional na minha área tem de ter conhecimento de muitas coisas. As pessoas se enganam em imaginar que você só precisa saber de vegetação, por exemplo. Ela é mais um detalhe na paisagem. E eu não faço jardim, não é essa a minha profissão. Quem faz jardim é o jardineiro. E ele precisa ser um ótimo profissional para que eu consiga construir uma paisagem.

Um projeto nunca será bom se ele não emocionar. Ele pode ser tecnicamente bem resolvido, mas só vai ser bom se provocar os sentidos, os sentimentos. Os segredos de um belo jardim são amor e cuidado. Existem jardins que não tocam, porque não houve envolvimento emocional de quem os fez.

O jardim é vivo. Quando eu termino um jardim ele está bonito, mas fica cada vez mais incrível com o tempo. Se uma planta nova nascer depois, ela tem de ficar lá. Não se pode interferir o tempo todo.

Na natureza não existe design. Minha luta é fazer tudo o mais natural possível. Não existe tendência, cada planta tem o seu lugar. A paisagem é tão atemporal quanto um quadro do Rembrandt, que vai ser lindo sempre. Se você vai hoje a Versalhes, que é um jardim criado há alguns séculos, ainda é belo.

É preciso muitos anos de observação para criar uma paisagem que emocione. Não existe milagre. Michelangelo, por exemplo, era um artista, não há dúvida. Mas para ele conseguir fazer tudo que ele fez ele passou muito tempo da vida observando. Não existe free lunch. Um bom atleta pode ter talento, mas precisa de disciplina, terá de se dedicar. Caso contrário, ele não conseguirá ser bom no que faz. Não existe nenhuma exceção. Mesmo que você seja dotado de talento. São 40 anos de dedicação, observação e humildade, antes de tudo.

Eu sou uma pessoa aberta para tudo. Se eu resolver fazer uma casa, por exemplo, muito provavelmente ela não saia tão perfeita quanto a casa feita por um arquiteto, porque eu não tenho tanto conhecimento técnico quanto ele. Da mesma forma que eu acho que um profissional sem o conhecimento técnico de um paisagista não conseguirá fazer uma paisagem tão bela quanto alguém que seja um especialista na área.