Saiba como ter um jardim tropical em casa

Mariana Domakoski*
23/01/2017 20:52
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Foto: Demiam Golovaty/Divulgação | Demian Golovaty

Um jardim milimetricamente “descuidado”, em que os elementos imitam uma natureza intocada, com uma vegetação típica das matas quentes e úmidas, disposta de forma solta e variada, assim como aparece nas florestas. Essas são algumas das características do paisagismo tropical, que ganhou força nas mãos de Roberto Burle Marx. O paisagista brasileiro consagrado mundialmente usou espécies típicas do clima brasileiro para constituir seus jardins, sempre com essa pegada de seguir as formas naturais das plantas.
Como seus projetos geralmente complementavam as obras arquitetônicas modernistas das décadas de 1950, 1960 e 1970, o jardim tropical ficou mais associado a esse estilo de arquitetura, conforme explica o arquiteto Sérgio Valliatti Jr.
Para a arquiteta Luciana Olesko, apesar de o estilo contemporâneo e as linhas retas abraçarem melhor a estética, casas clássicas também combinam com ela, mas é preciso cuidado para não deixar o visual conflitante. “Essas edificações normalmente têm elementos arquitetônicos muito marcados, como colunas, que podem brigar com os vários elementos verticais e com a volumetria maior do jardim tropical”, explica.
“Geralmente os arquitetos clássicos buscam um paisagismo mais clássico também”, afirma o arquiteto paisagista Alex Hanazaki. “Porém, como tivemos o estilo eclético e colonial no Brasil, podemos juntar esta arquitetura mais formal ao paisagismo tropical, que fica muito bonito. São como as fazendas coloniais, que tinham estilo francês e eram rodeadas de helicônias e bananeiras”, completa.
Para o jardim de uma casa no litoral paulista, o arquiteto e paisagista Alex Hanazaki criou um ambiente tropical com uma mistura de cores, formas e texturas. Espécies tropicais, como as helicônias e alpínias, são mescladas a plantas exóticas, como pândanos, cicas e alocásias. O conjunto dá a impressão de que a mata intocada faz parte da residência.<br>Foto: Demiam Golovaty/Divulgação
Para o jardim de uma casa no litoral paulista, o arquiteto e paisagista Alex Hanazaki criou um ambiente tropical com uma mistura de cores, formas e texturas. Espécies tropicais, como as helicônias e alpínias, são mescladas a plantas exóticas, como pândanos, cicas e alocásias. O conjunto dá a impressão de que a mata intocada faz parte da residência.<br>Foto: Demiam Golovaty/Divulgação
Caracterizado também pela predominância de folhagens, arbustos e do verde em detrimento das flores e cores variadas, um jardim tropical é formado por muita vegetação, ou pelo menos por pontos com conjuntos volumosos. “Você não faz um exemplar com poucas plantas. Precisa ter maciços”, afirma a bióloga e paisagista Heloiza Rodrigues, de A Prima Plantarum. “O porte dos elementos vai diminuindo até chegar às forrações. O intuito é criar um ecossistema semi-sombreado e úmido, como as nossas matas”, pontua Hanazaki.
Heloiza explica que, por Curitiba sofrer muito com geadas, é necessário escolher plantas que se adaptam ao clima daqui. Entre elas, estão as chamadas costela de adão, orquídea de chão, pata de elefante e bananeira de jardim, além de algumas espécies de palmeira. Ainda de acordo com ela, se as exigências das espécies quanto ao clima, temperatura e rega forem respeitadas, é um jardim que permanece em bom estado durante todo o ano. A manutenção é simples. “O jardim tropical não exige poda, apenas limpeza de folhas secas e controle das touceiras para manter o projeto original”, afirma Hanazaki.
Na fachada de uma casa no litoral catarinense projetada por Sérgio Valliatti Jr. e Luciana Tomasi Patrão, palmeiras marcam a verticalidade e dão o tom do paisagismo que será encontrado no interior. Foto: DanielaBuzzi/Divulgação
Na fachada de uma casa no litoral catarinense projetada por Sérgio Valliatti Jr. e Luciana Tomasi Patrão, palmeiras marcam a verticalidade e dão o tom do paisagismo que será encontrado no interior. Foto: DanielaBuzzi/Divulgação
Só na praia?
Hanazaki usou o jardim tropical para emoldurar uma casa no litoral paulista. Volumes, formas e texturas diferentes dão um clima exuberante ao espaço. Espécies locais, como helicônias e alpínias, misturam-se a exemplares exóticos, como pândanos, cicas e alocásias, dando a impressão de que a mata intocada faz parte da residência.
Já na casa de praia de estilo contemporâneo em Santa Catarina projetada por Valliatti Jr. e Luciana Tomasi Patrão, o jardim tropical cria efeitos diversos na entrada e no interior, como explica ele. “Palmeiras marcam a verticalidade da fachada enquanto arbustos e forrações limitam os espaços e promovem a privacidade desejada”, aponta.
Nas áreas internas, arbustos e forrações dividem o espaço e garantem privacidade.<br>Foto: Daniela Buzzi/Divulgação
Nas áreas internas, arbustos e forrações dividem o espaço e garantem privacidade.<br>Foto: Daniela Buzzi/Divulgação
Mas o jardim tropical não combina apenas com o litoral. Prova disso é o projeto de Hanazaki para a Casa Cor São Paulo de 2016, na capital paulista. Exemplares de pau-brasil, pequenas áreas de maciços verdes e jardins verticais ajudam a criar diversos climas nos 450 m², mas sempre com a presença marcante da vegetação e do verde.
Outro exemplo de que jardim tropical também funciona onde não há mar foi projetado por Luciana Olesko e pela arquiteta Maria Fernanda Lorusso. A edícula e o paisagismo de uma casa em Curitiba foram reformulados pela dupla a pedido da cliente, que desejava aproveitar o jardim o ano todo.
Para criar o clima, as arquitetas substituíram a estética anterior, composta basicamente por buchinho, pedras e flores – e que dependia de uma manutenção constante –, por uma mais tropical, com muitas folhagens. “Usamos folhas de dimensões e formatos diversos, além de vegetação de forração, para trabalhar a volumetria”, explica Luciana. No lugar do guarda-corpo na edícula, elas usaram fórmio, planta pontiaguda bastante encontrada em jardins tropicais e que propõe uma barreira vertical natural.
Para atender aos pedidos da dona desta casa em Curitiba, que queria um jardim para o ano todo, Luciana Olesko e Maria Fernanda Lorusso substituíram a estética anterior, com muitas flores, pedras e buchinhos, pelo jardim tropical. Um dos destaques são os fórmios como guarda-corpo na edícula. Foto: Marcelo Stammer/Divulgação
Para atender aos pedidos da dona desta casa em Curitiba, que queria um jardim para o ano todo, Luciana Olesko e Maria Fernanda Lorusso substituíram a estética anterior, com muitas flores, pedras e buchinhos, pelo jardim tropical. Um dos destaques são os fórmios como guarda-corpo na edícula. Foto: Marcelo Stammer/Divulgação
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