Conheça o movimento Reação Urbana que trará propostas de revitalização para o Vale do Pinhão

André Nunes*
28/09/2017 10:30
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Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

As cidades, seus bairros e regiões não são imutáveis. Com o passar dos anos, a chegada ou saída de elementos urbanos, bem como o crescimento de determinada área trazem novos usos e significados para sua paisagem. Em Curitiba a região que talvez represente melhor as mudanças pelas quais a cidade vem passando nas últimas décadas engloba os bairros do Rebouças e Prado Velho – local da antiga área industrial, nos tempos áureos da erva mate – hoje sob o conceito do Vale do Pinhão.
“Com o passar do tempo, as indústrias foram se transformando, a erva-mate deixou de ser a grande cultura do Paraná, criou-se a CIC (Cidade Industrial de Curitiba) e o antigo pátio industrial foi adormecendo. A cidade ‘passou por cima do Rebouças’. Podemos dizer que o bairro ficou meio que num estado de hibernação até hoje”, contextualiza Reginaldo Reinert, presidente do Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
O que fazer para resgatar a identidade de uma região com tantas vocações e oportunidades, mas que por uma série de fatores permanece “adormecida”?
Moinho Rebouças, sede da FCC. Foto: Cido Marques
Moinho Rebouças, sede da FCC. Foto: Cido Marques
Moinho Rebouças. Foto: Cido Marques

Movimento colaborativo

Para auxiliar os setores públicos e privados nos enfrentamentos sociais, econômicos, ambientais e culturais típicos de um processo de reabilitação urbana como este do Rebouças, está surgindo o movimento Reação Urbana, que engloba tanto órgãos públicos, como é o caso do Ippuc e da Agência Curitiba; a sociedade civil organizada, como a startup Reurb – primeira Organização Social Civil de Interesse Público (Oscip) criada no Vale do Pinhão; além de setores acadêmicos, a iniciativa privada e a Gazeta do Povo, que realiza o projeto em parceria com a Prefeitura e Reurb.
“Um processo dessa magnitude, visando o longo prazo, precisa ser colaborativo. O movimento consiste em uma plataforma para concentrar esforços de agentes das mais variadas áreas de conhecimento no processo de revitalização urbana do Vale do Pinhão. Ninguém sozinho consegue mudar a paisagem do Rebouças como ela está hoje. A região necessita se desenvolver social e economicamente, com investimentos que atraiam uma densidade maior tanto de moradores, quanto de usuários urbanos daquele espaço”, define o arquiteto e professor universitário Orlando Ribeiro, presidente da Reurb e um dos colaboradores do Reação Urbana.
Antiga estação. Foto: Henry Milleo / Gazeta do Povo
Antiga estação. Foto: Henry Milleo / Gazeta do Povo

Atividades e usos simultâneos

Envolvida no movimento desde o início de sua criação, a Agência Curitiba tem se reunido semanalmente para discussões com o Reurb de discussões sobre a revitalização da região. “O conceito de ecossistema de inovação do Vale do Pinhão é fundamental para o trânsito entre o setor público e a academia. Além das universidades envolvidas, temos o reforço de agentes da economia criativa, da tecnologia. É uma união bem interessante de fatores”, reforça Frederico Lacerda, presidente da Agência Curitiba.
“Nosso objetivo é tentar ‘fazer diferente’, em todas as frentes: nas legislações, na agilidade das tramitações burocráticas, na forma com que os empresários participam e constroem. Queremos um espaço em que seja possível imaginar todas as atividades existindo simultaneamente, coisa que as cidades não exercitam mais, devido às limitações dos zoneamentos. A revitalização do Rebouças nada mais é do que criar um espaço pretensamente pensado para que tudo isso possa acontecer”, completa Reginaldo Reinert.
Responsável pela mobilização pública e comunicação do movimento, a HAUS, da Gazeta do Povo esclarece os principais pontos sobre o Reação Urbana.
Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Sobre o que se trata o movimento Reação Urbana?
O movimento surgiu com o propósito de auxiliar os setores públicos e privados nos enfrentamentos sociais, econômicos, ambientais e culturais típicos deste processo de reabilitação das cidades.
“Não só a iniciativa é importante, como é interessante o formato: uma parceria entre a sociedade civil, a academia e o setor público. É a primeira vez que acontece um esforço nesse sentido, já que as iniciativas anteriores geralmente envolviam apenas uma das partes”, destaca Frederico Lacerda.
Para isso, uma série de ações será realizada a partir deste mês, com enfoque inicial até o final do ano, como a realização de um evento que reúna todos os agentes envolvidos no movimento, e que proponha o debate com a população interessada em contribuir.
Como será esse evento? Já tem data?
Na edição inaugural do Reação Urbana, será realizado o Laboratório de Reabilitação Urbana do Vale do Pinhão, exercício coletivo para propostas e debates sobre a reabilitação urbana da região.
O evento está previsto para acontecer entre os dias 26 e 29 de outubro, em que irá reunir cerca de 50 pessoas em uma equipe que debaterá fundamentos, conceitos, boas práticas e estratégias para formular as etapas de metodologia, diagnóstico, participação social e proposta de ações para o Plano “Preliminar” de Reabilitação Urbana do Vale do Pinhão.
A elaboração do Laboratório nesse formato foi pensada utilizando a metodologia do Ministério das Cidades, para que o projeto – quando aprovado pela prefeitura – possa receber verba federal para sua implementação.
O que é o Vale do Pinhão, criado pela Prefeitura de Curitiba, e qual a relação com o movimento Reação Urbana?
O Vale do Pinhão é um programa de inovação lançado pela gestão do prefeito Rafael Greca (PMN) tanto como espaço físico, na região do Rebouças e Prado Velho, quanto como plataforma conceitual que agrega iniciativas diferentes em torno de um objetivo comum, que é a revitalização urbana daquela área.
Definido como “ecossistema de inovação”, o Vale do Pinhão é composto por agentes que buscam o desenvolvimento de inovação, como por exemplo, universidades, aceleradoras, incubadoras, fundos de investimento, centros de pesquisa e desenvolvimento, startups, movimentos culturais e criativos. Além da Prefeitura de Curitiba, outras instituições também fomentam o programa, dentre elas Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae), a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio).
Também fazem parte do grupo inicial de estudos do ecossistema as universidades PUCPR, UTFPR, Universidade Positivo e UFPR.
Fundação Cultural de Curitiba. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Fundação Cultural de Curitiba. Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Por que investir nessa área em específico do Vale do Pinhão?
A região do Rebouças tem potencial para se estabelecer como o centro geográfico da Região Metropolitana de Curitiba (RMC): se você olhar o mapa da RMC e centralizar, como num “alvo”, verá o Vale do Pinhão. “Isso, em longo prazo, vai fazer com que seguramente você tenha circulando por essa região algo próximo de dois milhões de pessoas. Não é um lugar qualquer, é o coração da região metropolitana, sem dúvida”, analisa Reginaldo Reinert.
Qual será o papel da HAUS / Gazeta do Povo nesse processo?
Ampliar o debate em torno da reabilitação do Vale do Pinhão. Para isso, vamos tornar as etapas de concepção, implementação, execução e monitoramento do movimento Reação Urbana mais participativas, atraentes e orientadas à diversidade, com ações inovadoras e políticas públicas eficientes.
Para manter o assunto aquecido, o movimento Reação Urbana contará com uma sub-editoria exclusiva em HAUS, nutrida periodicamente com conteúdos contextualizando a região do Vale do Pinhão, apontando os desafios do plano e discussões geradas em torno do projeto.
E para dar voz ao público, um canal de discussão no Facebook será aberto, de onde serão coletadas opiniões e relatos que servirão de subsídio para as discussões propostas no Laboratório de Reabilitação do Vale do Pinhão
Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo
Outras iniciativas que deram certo em Curitiba vão ajudar na elaboração desse Plano de Reabilitação Urbana do Vale do Pinhão?
Sim, isso é fundamental. Soluções que vêm de fora muitas vezes não se adequam ao cenário curitibano. O que vem sendo feito com sucesso na cidade vai, sem dúvidas, ajudar nesse processo.
De acordo com o arquiteto Orlando Ribeiro, um bom exemplo a ser apontado é a área conhecida como “Batel Soho” – que engloba a Praça da Espanha, o Hauer Shopping Batel e a Rua Vicente Machado – repleta de vitalidade urbana, ao reunir pessoas de vários grupos sociais, idades e interesses numa região que oferece opções de gastronomia, boemia e entretenimento.
O sucesso do movimento depende da atração de empresas e moradores para a região do Rebouças? Como isso pode ser feito?
Certamente. Não adianta revitalizar uma área se não existe população interessada em habitá-la, trabalhar, consumir ou passear por lá. Para isso, é preciso dois cuidados, segundo os especialistas envolvidos no movimento: não afastar os moradores antigos, ao alterar características do bairro, ao mesmo tempo em que novos grupos populacionais precisam ser atraídos.
“A ideia é trazer grupos novos, mas que os moradores que lá estão participem e sejam incentivados junto. Terrenos e edifícios vazios precisam ser usados e ocupados, sejam em parcerias público-privadas, com a estratégia do aluguel social, por exemplo, ou em atividades para o público, como parques, estacionamentos e áreas com food trucks. Faltam espaços públicos no Rebouças para as pessoas se encontrarem.  É preciso convencê-las de que o movimento vale a pena e que todos sairão ganhando com isso”, pontua Orlando Ribeiro.
Para isso, de acordo com Reginaldo Reinert, é preciso transitar pelo Rebouças e entender seu potencial. “Nós já temos atividades instaladas, algumas pouco divulgadas, como o próprio Engenho da Inovação e os polos das universidades. O teatro mais antigo da cidade, depois do Guaíra, é o Paiol, que está no Rebouças. Três saídas imediatas para o Aeroporto Afonso Pena passam por lá, via Avenida das Torres, Marechal Floriano e Salgado Filho. É impossível que as pessoas não percebam toda essa gama de diferenças em um mesmo lugar e passem a aproveitar o que o Vale do Pinhão oferece”, resume.
*Especial para a Gazeta do Povo

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