Curitiba ganha hostel que tem tudo para ser principal hub em sustentabilidade e arte indígena

Luciane Belin*
18/04/2019 17:57
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Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Uma casa dos anos 1970 localizada no Centro Cívico, em Curitiba, praticamente vizinha do Museu Oscar Niemeyer (MON), foi transformada em um hostel sustentável que aplica em sua reforma e atuação alguns dos principais conceitos do slow design, uma corrente da área que sugere seguir o ritmo da natureza nos projetos executados e se reconectar com as pessoas e trabalhos que estão em seu entorno.
Cercado por verde e tons amadeirados, O Bosque Hostel é construído à base de muita história. Durante os seis anos que levou para ser executado, o espaço recebeu intervenções feitas por artesãos e profissionais de diversas áreas, todos locais, e produtos e materiais de construção voltados para o reaproveitamento e para a redução da pegada de carbono.
“Para minimizar o impacto, a ideia foi reformar uma casa que já existia, mantendo a estrutura original, inclusive banheiro, piso, tudo. Adequamos uma parede só para adaptar a questão de acessibilidade, trazendo também a diversidade de ocupação. Incluímos uma área de cozinha comum, área de convivência, jardim, telhados, e teremos um café e uma agência de turismo”, detalha Eduarda Guimarães de Almeida, idealizadora e proprietária do hostel.
O projeto foi conduzido em diferentes fases por diversos escritórios de arquitetura, entre eles o Arquitetura da Terra e a arquiteta Vivian Lazzarotto, além da Telus Telhados Verdes, que assinou o projeto do jardim que fica no terraço do local. Com cinco quartos, dos quais um é adaptado para receber pessoas com mobilidade reduzida, o hostel tem capacidade para 28 hóspedes.

Mais história, menos impacto

Segundo Eduarda, para pensar o projeto a partir de uma perspectiva do slow design, foram vários meses de pesquisa antes de tomar qualquer decisão sobre a construção. Muitos itens vieram de reaproveitamento.
“Foi uma mistura de madeiras da casa da minha bisavó, que era o pinheiro, os banquinhos, as portas, as janelas e os baús; as outras madeiras foram de algumas casas demolidas e recuperadas em Santa Catarina, e alguns móveis são de certificação ambiental, de madeira de reflorestamento”, explica a proprietária.
Além da madeira, o bambu é outro material que aparece no projeto, principalmente nos forros de diversos cômodos e nas camas, muitas delas sobrepostas. Segundo a proprietária, estes foram trazidos de Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba, e de São Paulo.
Além de durável e mais sustentável do que boa parte das escolhas construtivas, o bambu também contribuiu para clarear os ambientes e criar mais uma conexão com a natureza. “Tentamos diminuir um pouco da pegada de carbono da construção. Nós estamos fazendo um relatório de impacto para medir de onde vem cada material, como é a forma de tratar, se usa algum químico nocivo ou não”.
O slow design e a sustentabilidade também devem ser aplicados no cotidiano d’O Bosque Hostel, já que o local utiliza um sistema de aproveitamento da luz natural e reuso da água da chuva – parte é usada para regar o jardim no telhado, parte é devolvida ao sistema hídrico pluvial.
O telhado verde, por sua vez, foi pensado para criar um diálogo com a vegetação local e está também atrelado à redução do consumo de água, já que usa o orvalho e a chuva para a subsistência das plantas do jardim. “São plantas para atrair animais, então flores para os polinizadores e alimentos, alguns frutinhos para os passarinhos. Sempre aparece beija-flor por aqui, saracura, joão-de-barro… são os passarinhos da minha infância. É essa a ideia, mostrar para as pessoas que não é só a gente que usa esse espaço”, complementa Eduarda.

Arte local

Dentro do conceito de slow design, Eduarda foi buscar também trabalhos manuais, com origens ligadas à terra e a tradições comunitárias, indígenas, entre outros, também para acessórios e decoração. As peças da cozinha usam cerâmica feita por artesãos locais e, nos quartos, foram escolhidos lençóis feitos por uma costureira curitibana com algodão orgânico de cooperativas brasileiras. “As cobertas de tricô também e as cobertas de microfibra também são de uma recicladora, eles pegam garrafa pet e transformam em fio”, conta.
Os pelegos e tapetes que estão em alguns espaços da casa foram produzidos em um projeto social coordenado pelo gerente do hostel, Luan Valloto, e desenvolvido com a comunidade da Vila Verde, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Algumas peças do projeto fazem parte também de uma exposição nomeada “Pelegos de História”, que fica em cartaz no espaço cultural d’O Bosque Hostel até o dia 28 de abril.
“O hostel não é só um hostel, queremos trazer pessoas e experiências, fomentar eventos, cursos, conectados com as três palavras que fazem parte do nosso DNA – natureza, cura e design – e com tudo que a gente acredita”, adianta Eduarda, explicando que o local poderá receber práticas de meditação, yoga, cursos de feng shui, entre outros, além de abrigar também uma loja da marca Toró Indígena, que trabalha com a pesquisa e venda de materiais que reconectam as pessoas com a floresta através do trabalho manual.
Fotos: Jonathan Campos
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Fotos: Jonathan Campos
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*Especial para HAUS.

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