Eu, sustentável

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Todos podem contribuir: atitudes por uma vida mais sustentável dentro de casa

Gustavo Ribeiro, especial para HAUS
08/06/2020 13:31
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Ações dentro de casa ajudam na preservação do meio ambiente. Inclua isso na rotina e faça a sua parte. | Bigstock

O bater de asas de uma borboleta no Brasil pode gerar um tornado em outro lugar do mundo. Essa premissa básica do chamado efeito borboleta, criado pelo cientista Edward Lorenz, tem seu sentido em cada ação que tomamos todos os dias.
A tendência natural é pensarmos no lado negativo, de que uma simples atitude pode desencadear muitas coisas ruins. Mas ela também pode ser positiva. E é nesse lado bom que a sustentabilidade se coloca, como um caminho para que as atitudes individuais tenham um reflexo significativo e decisivo para o meio ambiente e, consequentemente, para cada um de nós. E quando mais e mais pessoas se juntam nesse mesmo sentido, os efeitos positivos se multiplicam e o mundo agradece.
São inúmeras as atitudes diárias que podem poupar o meio ambiente e fazer com que as pessoas trilhem por uma via mais sustentável. E elas vão desde as pequenas ações, como apagar a luz de um cômodo onde ninguém está presente ou reduzir o tempo do banho, até as mais complexas, como instalar um sistema de placas solares no telhado de casa para gerar a própria eletricidade ou bancar um projeto de captação de água da chuva. Independentemente do tamanho do esforço, o impacto tende a ser positivo.
O
gerente de Gestão da Inovação da Copel, Gustavo Klinguelfus,
sugere que pequenas mudanças no dia a dia podem reduzir o consumo de
energia elétrica e, como consequência, diminuir o impacto sobre o
meio ambiente. Só de manter luzes acesas somente quando necessário,
apostar substituição de lâmpadas por modelos LED, ajustar a
potência da geladeira e do chuveiro de acordo com a temperatura e
manter portas e janelas fechadas quando o aparelho de ar condicionado
estiver ligado, já são suficientes para baixar a conta de luz.
Fazer esses ajustes na rotina não significa perda de conforto,
garante o especialista. “É uma questão cultural, de cultura da
eficiência energética. É diferente de deixar de usar, mas sim
fazer mais com a mesma energia. Não é se privar de confortos, mas
minimizar o uso dos recursos.”
Além disso, Klinguelfus aponta a importância de comprar eletrodomésticos que sejam mais eficientes. “É preciso um cuidado na hora da compra, é a principal dica que damos. Na grande maioria dos casos é possível economizar buscando um produto que seja mais eficiente de acordo com o Selo Procel”, explica. Ele ainda sugere um cuidado em manter os equipamentos da casa em bom estado. “O custo da manutenção corretiva é bem mais alto que do a manutenção preventiva. Se não cuidar, no fim o barato vai sair bem caro”, completa.
Em relação ao consumo de água, a Sanepar compilou um guia com várias dicas para economizar centenas de litros por dia, como reduzir o tempo do banho, fechar a torneira enquanto lava as mãos e a louça ou escova os dentes, usar a capacidade máxima da máquina de lavar roupas, não lavar o carro ou calçada com água potável — usar água da chuva ou da sobra da máquina de lavar, por exemplo.

também ações que podem ser ainda mais eficientes, principalmente
se já chegou a hora de trocar algum chuveiro, torneira ou vasos
sanitários. Vale até precipitar a troca para gastar menos no médio
e longo prazo. A arquiteta e sócia do escritório Tellus Arquitetura
Sustentável, Adriane Cordoni Savi, explica, por exemplo, que
sistemas de descargas mais antigos podem consumir até seis vezes
mais água do que os modelos mais novos. “Quando coloca tudo isso
na conta, a quantidade de moradores na casa, haverá uma redução
grande de consumo na edificação. São medidas simples, fáceis e
muitas vezes baratas que farão uma casa mais saudável e
sustentável”, diz.
É
possível ir ainda mais longe para reduzir o consumo de água e de
energia elétrica. Os sistemas de placas solares para geração de
energia e de reuso da água de chuva são um toque extra e que não
são tão complicados para se instalar nas casas, sem contar a
economia e o cuidado com o meio ambiente. Segundo Adriane, um sistema
de captação de energia solar se paga totalmente em até dez anos, e
depois disso só há gastos com manutenção, mas abaixo de valores
da conta de luz normal. No caso do aproveitamento da água de chuva,
os sistemas são mais simples e mais baratos, e garantem água para
atividades como lavar o carro ou a calçada, sem precisar apelar para
a torneira. “São possibilidades de adaptações nas residências
que têm um ganho muito grande. Muitas vezes acabamos esquecendo de
pensar nessas alternativas porque podem parecer caras”, comenta a
arquiteta.
Sustentabilidade
na pandemia
É na própria casa onde as atitudes sustentáveis são mais praticadas. Com a pandemia do novo coronavírus, as pessoas acabaram ficando mais tempo na residência, muito mais do que normalmente ficavam. E nessa relação com o próprio lar, houve a percepção de que alguns hábitos vão na contramão da sustentabilidade. Mas teve o lado bom também. Nesse período, foi possível ver que os hábitos podem ser mudados facilmente. Por isso, no fim das contas, a Covid-19 pode acabar acelerando a mudança para uma vida mais sustentável.
“Quem pôde ficar em casa, teve de cuidar dos filhos em casa, percebeu o quanto que gera de resíduo ao longo do dia. E com isso, quem sabe, comece a escolher produtos com menos embalagem, que possa reciclar, compostar e cuidar dessa questão do meio ambiente”, reflete o professor e coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental, Marcus Nakagawa.
As
compras pela internet, especialmente os pedidos de comida por
delivery, despejaram caixas, sachês e embalagens nas residências.
Faltou espaço na lixeira para tanto resíduo. Uma forma de diminuir
o desperdício, é reutilizar esse material. Uma garrafa pet pode se
transformar em um vaso, o pote de sorvete pode ganhar utilidade para
guardar alimentos no freezer ou se tornar uma caixa de remédios. São
infinitas as possibilidades e vale a criatividade. Outra opção é
praticar doações com produtos que não usa mais e que iriam para o
lixo. Aquele computador largado ou celular antigo podem ser muito
úteis para outras pessoas.
Ao
mesmo tempo em que houve o aumento na compra de produtos de
deliveries, também ocorreu a redução no consumo de artigos como
roupas, cosméticos e eletrônicos. Um levantamento do Google, de
abril deste ano, mostrou que 49% dos entrevistados reduziram o
consumo de itens supérfluos — 26% desistiram de trocar o celular,
por exemplo. “A pandemia mudou o significado de supérfluo e agora
vamos na direção do que de fato é essencial”, afirma o
diretor-presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar — a declaração
foi dada em uma transmissão ao vivo pela internet. “A pandemia vai
fazer com que as pessoas escolham como vão consumir, quais as
prioridades e necessidades básicas. É um processo de rever o
consumo que, além de economizar, vai criar essa fase de pensar,
repensar e decidir”, complementa Nagakawa.
Não por acaso nesse período de pandemia houve um incentivo grande para a compra direta de produtores e comerciantes locais. Além de ajudar de forma responsável o pequeno, a economia local deixa um rastro menor no meio ambiente, notadamente no transporte, evitando grandes distâncias e gases do efeito estufa na atmosfera. Sem contar que no caso de alimentos, muitos são mais saudáveis, sem defensivos agrícolas ou conservantes.
E
do que é necessário, a própria casa pode ser o ambiente para a
produção. Para que gastar com algum tempero no mercado ou mesmo uma
fruta ou verdura, se é possível plantar no jardim ou na sacada do
apartamento. Com um investimento pequeno, uma horta caseira pode se
tornar realidade. Os benefícios, além do próprio alimento, também
são ambientais: evita-se, por exemplo, o deslocamento até o mercado
e quebra até toda a cadeia logística de distribuição. “Mesmo em
apartamentos, as hortas são uma boa opção. Há vários sistemas
compactos para plantar e isso gera o efeito de produzir o próprio
alimento. E nisso há uma redução de deslocamento e a pessoa passa
a ter uma conexão com a terra e entender melhor o ciclo”, propõe
a arquiteta Adriane.
Quando a casa se torna o ambiente de uma vida sustentável, há outras questões que acabam se conectando, como a qualidade de vida e a saúde. Uma casa sustentável é também uma casa saudável e, por consequência, com moradores saudáveis e, por que não, mais felizes?
“O momento de pandemia trouxe várias percepções das casas, de que é importante pensar na sustentabilidade aplicada ao bem-estar e à saúde das pessoas. Às vezes o foco fica mais no impacto ambiental e na eficiência energética, mas não podemos esquecer da saúde da pessoa dentro desse espaço”, diz Adriane.
Como
começar?
Apesar
de muitas ações serem simples e corriqueiras, nem sempre é fácil
mudar os hábitos, principalmente se eles já estão há anos e
décadas fazendo parte do dia a dia. Um bom ponto de partida, segundo
especialistas, é ter sempre por perto o conceito dos 4 Rs da
sustentabilidade: repensar, reduzir, reutilizar e reciclar. Primeiro
é preciso se questionar e verificar em quais aspectos da vida é
possível mudar, depois é partir para a prática, reduzindo o
consumo. Um passo a mais é cuidar com os resíduos e dar uma nova
finalidade a eles. Caso não seja possível, que separe corretamente
o lixo para a reciclagem.
Até
parece simples, mas é certo é que é preciso começar de algum
lugar. E ao começar e praticar, os benefícios são garantidos. “Eu
acredito muito que a mudança está na mudança do hábito das
pessoas. Mesmo que automaticamente tenham atitudes de economizar
água, energia, elas vão começar a despertar isso no dia a dia, e
aí vai ter mais consciência e percepção das ações”, comenta o
professor da ESPM, Marcus Nakagawa.
Na
maioria das vezes, a escolha pelo caminho da sustentabilidade não é
feita pelas questões ambientais, mas pensando no próprio bolso. De
acordo com a Pesquisa Vida Saudável e Sustentável, liderada pelo
Instituto Akatu e a GlobeScan, os brasileiros estão mais conscientes
do papel que devem desempenhar pensando no meio ambiente e no
bem-estar geral, mas ainda têm muito para avançar no sentido de uma
vida mais sustentável. Segundo o estudo, 41% dos entrevistados
afirmaram que querem reduzir o impacto que gera no meio ambiente e
46% disseram evitar produtos com muita embalagem. Por outro lado,
temas que envolvem o bolso sobressaíram: 74% responderam que buscam
comprar eletrodomésticos mais eficientes e 63% tentam consertar
produtos que quebram ao invés de comprar um novo.
Mas
economizar também significa poupar os recursos naturais. Por essa
razão, a economia pode ser o ponto inicial para virar apenas um dos
aspectos de uma vida sustentável. “Às vezes a questão da
sustentabilidade demora a ser percebida. Muitas vezes o valor
economizado não é tão significativo e isso pode ser um pouco
frustrante, mas porque não foi a fundo. É preciso uma sensibilidade
do impacto que está realizando, mais do que o impacto econômico. A
economia tem que ser a consequência e não o objetivo”, opina a
arquiteta Adriane. “Precisamos pensar na cadeia toda. Quando muda a
chave para a sustentabilidade, começamos a entender como todas as
nossas ações estão relacionadas”, finaliza.

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