Antiga fábrica da Ambev abandona projeto de uso cultural para virar complexo administrativo das polícias

Aléxia Saraiva
06/05/2019 22:20
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Prédio industrial vai se tornar nova Cidade da Polícia. Gestão anterior previa Centro de Artes e Cultura Rebouças. Foto: Leticia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

A antiga fábrica da Ambev, área histórica de 35 mil m² na região do Rebouças, em Curitiba, deixará de receber o Centro de Artes e Cultura Rebouças para se tornar a Cidade da Polícia — novo centro administrativo de planejamento e inteligência do estado, polícias militar e civil, guardas municipais, polícias Federal e Rodoviária Federal e Exército. A criação do espaço — não necessariamente nesta área da cidade — foi uma das promessas de campanha do governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). O projeto de reforma do imóvel está em desenvolvimento pela Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária. A reportagem confirmou o novo uso do prédio junto da assessoria do governo do estado e da Polícia Militar.
O novo uso do local dá lugar ao projeto do Centro de Artes e Cultura Rebouças, que estava em desenvolvimento desde agosto de 2016. Ele receberia instalações da Faculdade de Artes do Paraná (FAAP) quanto da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). A ideia do projeto previa movimentar a região com mais pessoas e deixar um legado cultural para Curitiba, com auditórios, laboratórios, salas de aula e de exposições.
Unidade da empresa na Avenida Getúlio Vargas está desativada desde 2016. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Unidade da empresa na Avenida Getúlio Vargas está desativada desde 2016. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Segundo Paulino Viapiana, ex-assessor especial do governo do Estado, o projeto do centro estava encaminhado: o termo de referência das necessidades de uso do prédio já estava concluído e o modelo de edital para o concurso público estava em estágio avançado de desenvolvimento. “Em dezembro do ano passado, a [ex-governadora] Cida Borghetti concluiu a transferência da escritura do terreno para o governo do Estado. Tudo restava pronto”, afirma.
Lamento que a cultura e a educação novamente tenham sido preteridas. Nós vamos deixar de promover uma boa ideia para a formação das futuras gerações e para a preservação de uma região importante da cidade. E as escolas de arte vão continuar perdidas por aí, sem condições, em prédios alugados”.
Para Iaskara Florenzano, coordenadora de pesquisa do grupo Arquivo/Arquivo Industrial da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a preservação do prédio da fábrica — e sua consequente não demolição — já é um ponto positivo. “A preservação é a melhor notícia que podemos ter para o Rebouças“, afirma a pesquisadora, que se debruça a estudar e registrar os prédios industriais do bairro.
Terreno de 35 mil m² ocupa o quarteirão entre as avenidas Getúlio Vargas e Iguaçu, e ruas João Negrão e Rockfeller. Foto: Agência Curitiba / Divulgação
Terreno de 35 mil m² ocupa o quarteirão entre as avenidas Getúlio Vargas e Iguaçu, e ruas João Negrão e Rockfeller. Foto: Agência Curitiba / Divulgação
“Esse prédio é portador de uma série de valores culturais e históricos e faz parte desse conjunto de edifícios que explicam a nossa cidade, que se estabelecem no começo do século 20. Acho magnífico que ele ganhe um uso novo, se o projeto observar esse caráter histórico usando a metodologia do restauro”, explica.
No entanto, Florenzano aponta que seu novo uso não é o mais adequado se a intenção é dar um novo sentido ao prédio e requalificar a região do Rebouças. “Um edifício da polícia não me parece um uso tão adequado desse objetivo. Se eu quero revitalizar um lugar, ele deveria receber bastante gente e não apenas funcionários“, estima. “A ideia do uso com arte era perfeita, porque a região tem uma vocação para a educação e a Embap tem uma necessidade real de um espaço físico. Uma movimentação naquele lugar daria um sentido completamente novo naquela região —seria um sonho”.
Para ela, a esperança é a de que o prédio seja tratado como patrimônio histórico, e que a reforma valorize a memória e a identidade do edifício e da sua importância para a paisagem da cidade.

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