É só sair pelas cidades e começar a reparar em rampas, pisos táteis ou guias rebaixadas, feitas para promover a acessibilidade, para perceber o quanto essas soluções ainda estão irregulares — e o quanto isso complica a vida de pessoas com deficiência. Foi para impedir que esse constrangimento se repetisse que Bruno Mahfuz, cadeirante desde 2001, teve a ideia de criar o guiaderodas: um aplicativo que funciona como enciclopédia de locais com acessibilidade justamente a partir do olhar das pessoas para o que é acessível.

“O app se baseia na perspectiva do usuário e todos podem avaliar as instalações dos estabelecimentos de acordo com seu ponto de vista“, explica Mahfuz. Atualmente, mais de 900 cidades estão contempladas pelas informações, atualizadas no banco de dados de forma colaborativa. Curitiba é uma delas.

Os usuários do app podem classificar estabelecimentos como acessíveis, parcialmente acessíveis ou não acessíveis, com espaço para resenhas e comentários que auxiliam na experiência: “O estabelecimento tem um bom nível de acessibilidade, porém o espaço de circulação é um pouco apertado. Além disso, o local tem muitos objetos frágeis que podem ser desconfortáveis para locomoção de cadeirantes”, diz o comentário publicado pelo usuário Rafael sobre o Warehouse 71, empório em Curitiba.

Segundo Mahfuz, mais de 6 milhões de pessoas já foram impactadas pela iniciativa. “O guiaderodas propaga nas redes a mensagem de que a acessibilidade é para todos. A receptividade tem sido a melhor possível”, comenta. Por isso que, no ano passado, o guiaderodas foi escolhido como “Melhor Inovação Inclusiva no Mundo” pelo prêmio World Summit Awards, realizado pela Organização das Nações Unidas. Ele concorreu com entre 451 iniciativas mundiais.

O aplicativo foi criado em 2016, mas desde então Mahfuz já ampliou o foco do guia: ele criou o selo Qualificação da Acessibilidade de Empreendimentos, que pode ser concedido a edificações após uma avaliação técnica. Segundo o diretor e fundador, essa é uma consequência da conscientização da sociedade, que ainda caminha a passos largos. “O guiaderodas é apenas um dos instrumentos que traz essa nova consciência”, explica.

Para ele, o app ajuda a deixar o tema presente na vida das pessoas e, consequentemente, fazer com que o poder público ajude a fomentar a discussão e a propor saídas mais efetivas. “A sociedade parece estar mais receptiva ao tema e tem muita gente fazendo coisa boa”, complementa.