Conheça os campos de concentração que aprisionavam vítimas da seca de 1932 no Ceará

Aléxia Saraiva
06/08/2019 22:09
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Ruínas do campo de concentração em Senador Pompeu marcam a luta contra a fome e a seca de 1932. Foto: Gustavo Gomes/EBC

O ano de 1932 é um marco na história do Ceará. Uma das piores secas já vistas assolou o sertão e levou a uma cena já descrita em clássicos da literatura brasileira — tais como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, e O Quinze, de Rachel de Queiroz: retirantes que se veem obrigados a deixar suas casas para fugir da fome e da miséria.
Logo ao início do ano, as estradas se encheram de flagelados que caminhavam rumo à capital, Fortaleza, ou ao menos até alguma cidade equipada com estação de trem, facilitando o trajeto. Como o número de pessoas chegava aos milhares, as passagens foram suspensas e algumas das cidades por onde o trem parava passaram a ter uma nova função: abrigar os retirantes em campos de concentração, com a promessa de que ali seriam fornecidos trabalho e comida.
Foto: José Bonifácil Costa/Arquivo Nacional
Foto: José Bonifácil Costa/Arquivo Nacional
No entanto, ao contrário do que a expressão pode levar a entender, os campos de concentração cearenses não eram como os nazistas, que posteriormente tiveram o objetivo de exterminar os judeus na Segunda Guerra Mundial. No Brasil, eles impediam os famintos de continuarem sua viagem às cidades grandes, proibindo sua locomoção. A morte, porém, foi inevitável. Com falta de alimentos, falta de infraestrutura e um contingente humano cada vez maior, doenças começaram a se proliferar.
Ruínas em Senador Pompeu se tornaram patrimônio municipal. Foto: Gustavo Gomes/EBC
Ruínas em Senador Pompeu se tornaram patrimônio municipal. Foto: Gustavo Gomes/EBC
Na época, foram sete os campos de concentração construídos no estado: Ipu, Fortaleza, Quixeramobim, Craiús, Crato e Senador Pompeu — o único que ainda mantém a estrutura utilizada na época. Dados oficiais estimam que 73,9 mil pessoas passaram por esses campos, sendo 16,2 mil só em Senador Pompeu.
Os campos foram extintos junto com o fim da seca, no ano seguinte.
Os Retirantes, quadro de Candido Portinari de 1944, retrata os movimentos migratórios do Nordeste em meio à seca. Foto: reprodução
Os Retirantes, quadro de Candido Portinari de 1944, retrata os movimentos migratórios do Nordeste em meio à seca. Foto: reprodução
“Os campos de concentração funcionavam como uma prisão. Os que lá chegavam não podiam mais sair, ou melhor, só tinham permissão para se deslocar quando eram convocados para o trabalho, como a construção de estradas e açudes ou obras de ‘melhoramento urbano’ de Fortaleza, ou quando eram transferidos para outro campo”, explica a historiadora Kênia Souza Rios em seu livro Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932.
“Durante esses deslocamentos, sempre havia uma atenta vigilância para evitar as fugas ou rebeliões. Os flagelados só se deslocavam dentro de caminhões e, a todo momento, ficavam sob o atento olhar de vigilantes”, frisa.
Foto: Gustavo Gomes/EBC
Foto: Gustavo Gomes/EBC

Ruínas tombadas fortalecem memória dos acontecimentos

Este capítulo do Ceará promete ser preservado com mais cautela. No último dia 20 de julho, a Prefeitura de Senador Pompeu tombou suas ruínas como patrimônio municipal. A área chamada de Sítio Histórico de Patu possui nove mil m² de área e integra o Campo de Concentração, o Cemitério das Almas da Barragem, o Açude Patu, a Vila dos Ingleses, a Estação, o Hospital e a Casa de Pólvora.
Foto: Gustavo Gomes/EBC
Foto: Gustavo Gomes/EBC
Segundo informações do jornal Diário do Nordeste, a intenção da prefeitura é de restaurar os prédios e de dar continuidade no processo de preservação do patrimônio com um pedido de tombamento da área no nível estadual.
As informações históricas contidas no texto são do livro Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932, com autoria de Kênia Souza Rios.

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