Urbanismo

Ruas de paralelepípedo de Curitiba podem ganhar regras especiais para preservação

Luan Galani
30/05/2018 21:00
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Foto: Arquivo/Gazeta do Povo/Daniel Castellano | GAZETA

As ruas de paralelepípedos de Curitiba estão próximas de serem integralmente preservadas. O vereador Goura (PDT) protocolou no último dia 14 um projeto de lei que propõe que a prefeitura conserve o pavimento histórico e, em eventuais obras de recuperação ou substituição das vias de paralelepípedo, justifique a mudança com parecer que leve em conta sua idade, histórico, impacto sobre o patrimônio, a cultura e o urbanismo.
A proposição ainda vai receber instrução técnica da Procuradoria Jurídica da Casa e depois seguirá para as comissões temáticas.
Curitiba, 12/04/2017 - Vista do largo da ordem, centro histórico de Curitiba. Igreja da ordem, antigo bebedouro e casa romario martins
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“A história do desenvolvimento urbano da capital do Paraná passa necessariamente pela pavimentação em paralelepípedos das principais ruas que formaram o Centro da cidade. Conforme o boletim ‘Os Caminhos da Pavimentação’, escrito em 1974 por Rafael Greca, a ‘verdadeira urbanização’ ocorre no início do século 20 com a pavimentação de ruas como Marechal Deodoro, Sete de Setembro, Desembargador Mota, Padre Agostinho, Manoel Ribas, Silva Jardim e João Negrão”, defende Goura na justificativa do projeto.
O parlamentar indica ainda uma ação judicial de 2015 contra a substituição de  paralelepípedos, em que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG) impediu o recapeamento de ruas do Centro Histórico de Ouro Preto, com o argumento que o asfalto geraria “descaracterização do conjunto urbano” da cidade.
O projeto é visto com bons olhos pelos especialistas em patrimônio. Para o arquiteto e urbanista Luis Salvador Gnoatto, que leciona na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o status diferenciado para o paralelepípedo é muito bem vindo e justificado. “O paralelepípedo é de fato um elemento importante para o patrimônio e a paisagem urbana. Deve permanecer. Se a gente asfalta ou troca o pavimento, descaracteriza totalmente”, sentencia Gnoatto. “Um dos lugares mais históricos de Curitiba é o bebedouro do Largo da Ordem, que tem o paralelepípedo como elemento essencial”
Aos detratores do granito, Gnoatto é taxativo: “Alguns podem dizer que é desconfortável andar de carro sobre esse tipo de pavimento. Porém, ele é mais comum nas vias centrais, onde a velocidade média esperada é baixa, e o desconforto dentro do carro é mínimo. Meu escritório, por exemplo, fica na região do São Francisco, e nunca incomodou.”
Foto: Arquivo/Gazeta do Povo/Daniel Castellano
Foto: Arquivo/Gazeta do Povo/Daniel Castellano
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A arquiteta Giceli Portela, que leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e é um dos grandes nomes de restauro de Curitiba, invoca a qualidade do material para defender o paralelepípedo. “Não sou saudosista quanto ao elemento histórico em si, mas, nas cidades mais antigas, o paralelepípedo se mantém íntegro, desgasta menos que outros materiais”, explica Portela. “No Partenon, por exemplo, os especialistas substituíram uma viga por um elemento de concreto. Mas ele começou a se desgastar muito rapidamente. Então eles colocaram novamente uma peça de pedra”.
“Se houvesse um material melhor, eu não seria resistente. Tecnologicamente não sou contra. Mas o granito do paralelepípedo ainda é mais durável que as outras opções disponíveis”, finaliza a arquiteta.

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