Urbanismo

Os desafios urbanos de Curitiba para 2019

Aléxia Saraiva
31/12/2018 09:57
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Foto: Antônio More/Arquivo/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

No âmbito do planejamento urbano, 2018 foi ano de desenhar projetos que ainda vão desabrochar. Curitiba ganhou muitas promessas para o futuro, das que revisitam e marcam a cultura da cidade — como é o caso do Memorial Paranista, que trará estátuas de João Turin ao parque São Lourenço e já garantiu um repasse de R$ 1,4 milhão pela Lei Rouanet através da Companhia Paranaense de Energia (Copel) — até as que ressaltam a vanguarda curitibana na discussão sobre cidades inteligentes. No entanto, é consenso que é justamente fora das zonas de cartão-postal que residem os maiores desafios urbanos para o ano que vai começar.
É o que relata o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Luiz Fernando de Souza Jamur. Segundo ele, facilitar a integração com as cidades vizinhas através das fases finais da obra da Linha Verde é uma das grandes prioridades. “Nós temos uma preocupação muito grande em para onde a cidade vai crescer. Até 2030, deveremos ter 2 milhões de habitantes, e depois [a população] deverá ficar estabilizada nessa faixa. Em compensação, a região metropolitana cresce muito, e precisamos buscar essa maior integração”, relata.
O tema está longe de ser discussão exclusiva da prefeitura. Carlos Hardt, especialista em planejamento e gestão urbana e professor do departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que as soluções pensadas competem também ao governo do estado, por meio da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec). “Os municípios periféricos, que se conectam aos pontos finais da Linha Verde, precisam ter essa facilitação. E não apenas do ponto de vista viário, que é a curto prazo, mas em todos os temas: planejamento urbanístico, saúde, segurança e educação”, explica.
Ele indica que esse é um assunto de domínio do governador eleito, Ratinho Junior (PSD), que esteve à frente da pasta de desenvolvimento urbano do Paraná em dois períodos simultâneos durante as gestões de Beto Richa (PSDB). “Essa é uma chance para ele demonstrar, na prática, a prioridade da integração”, afirma Hardt.

Cidades inteligentes

Em uma perspectiva mais ampla, outro ponto a se esperar de Curitiba para o próximo ano é a evolução no tema das cidades inteligentes. Em março de 2018, a capital sediou pela primeira vez o Smart City Expo, uma versão brasileira do maior congresso sobre cidades inteligentes do mundo. O evento se repetirá em 2019, trazendo luz à discussão de como atrelar o planejamento urbano ao avanço das novas tecnologias sem frear seu desenvolvimento, usufruindo de seus benefícios.
Cobertura do Smart City Curitiba 2018, evento de cidades inteligentes, sustentabilidade, Curitiba; Expo Renault Barigui; Fotografia por Ana Gabriella Amorim; Gazeta do Povo; Parque Barigui; Photography by Ana Gabriella Amorim; Smart City; evento, Alexandre Teixeira, Leonardo Mendes Junior, Rodrigo Barros, Daniela Ugazzi, Jannyne Barbosa Sardeiro, Gustavo Rafel Collere Possetti
Cobertura do Smart City Curitiba 2018, evento de cidades inteligentes, sustentabilidade, Curitiba; Expo Renault Barigui; Fotografia por Ana Gabriella Amorim; Gazeta do Povo; Parque Barigui; Photography by Ana Gabriella Amorim; Smart City; evento, Alexandre Teixeira, Leonardo Mendes Junior, Rodrigo Barros, Daniela Ugazzi, Jannyne Barbosa Sardeiro, Gustavo Rafel Collere Possetti
Para Luiz Fernando de Souza Jamur, o fato de Curitiba concentrar esse debate não é por acaso, mas resultado de uma infraestrutura que pode receber esse tipo de investimento. Para ele, o planejamento urbano tem uma sensibilidade de diagnosticar movimentos na cidade e transformá-los em lei de uma forma orgânica. “Esse é um conceito muito mais abrangente do que apenas tecnologia de informação. Curitiba já é inteligente por causa do seu processo de construção da cidade, diferentemente de outras que a cada três anos costumam trocar seu plano diretor”, explica. “Sem essa permanência, a cidade não seria a que conhecemos: seria um aglomerado de guetos”.
Segundo Fábio Domingos Batista, mestre em projeto e tecnologia do ambiente construído e professor de Arquitetura na FAE Centro Universitário, ainda falta integração urbana para se chegar lá. “Se você olha para a parte formal e planejada de Curitiba, ela é uma cidade inteligente. Mas a cidade como um todo não é, e isso vem de longo tempo”, aponta. “A ideia de Curitiba como cidade modelo e inteligente ainda vive nos anos 1990. A gente está quase em 2020”.
Como exemplo, Domingos cita a Comunidade 29 de Março, localizada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e vítima de um incêndio que devastou centenas de moradias na madrugada de 8 de dezembro deste ano. “Como uma cidade que permite que pessoas vivam nessas condições é considerada inteligente? É um contrassenso”, avalia.

Bairro Novo da Caximba

Do ponto de vista de desenvolvimento social, um dos projetos de maior destaque capitaneados pelo Ippuc teve foco em outra região. O Bairro Novo da Caximba, anunciado em outubro, prevê a reurbanização da região com um dique transformado em platô, mil novas moradias sustentáveis e usinas solar e de biogás. O órgão está em busca de um financiamento de US$ 250 milhões com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). A negociação começará a ser discutida em janeiro.
Segundo Jamur, o primeiro passo é delimitar junto à AFD o quanto o financiamento poderá cobrir. O projeto prevê a realocação de cerca de 1,2 mil famílias, a recuperação ambiental do rio, diques de contenção para evitar alagamentos, entre outros pontos. “Com o norteamento delimitado, daí sim a sequência do projeto vai ser viabilizada”, explica o presidente do Ippuc. A previsão é de que os trabalhos comecem até 2021.
Domingos analisa que o ideal seria levar a premissa do projeto para frente e pensar a longo prazo. “Qual é o plano para Curitiba para habitação social? A capital paranaense tem uma grande área de ocupação que vive sem urbanidade. O maior desafio é levar essa cidade que a gente chama de modelo também para essas regiões”, afirma.

Apreensões

Mas nem só de questões locais se fará o 2019. Com as trocas dos governos estadual e federal, novos questionamentos estão sendo delineados. Um exemplo é a fusão do Ministério das Cidades, que junto da Integração Nacional passa a compor a nova pasta de Desenvolvimento Regional. Criado em 2003, seu objetivo é “melhorar as cidades, tornando-as mais humanas, social e economicamente justas e ambientalmente sustentáveis” através de um investimento na infraestrutura.
“O mais importante não é se a área tem ou não um ministério, mas o dinheiro que se tem para investir. A maior parte dos problemas do país está nesse espaço. Se o governo federal conseguir dar importância política e colocar pessoas que enxerguem a problemática das cidades na dimensão que de fato ela precisa ter, ter um ministério que junta as duas áreas deixa de ser tão importante. O grande risco é que se acabe diluindo a problemática”, aponta Hardt.
Jamur espera que a reorganização administrativa mantenha a estrutura atual, que auxilia cidades de pequeno e médio porte a viabilizarem seus projetos de planejamento — primeiro passo para obter um financiamento.
De volta à cidade, ele estima que Curitiba sinta menos o impacto neste ponto, já que o Ippuc tem seu próprio corpo técnico. “O Ippuc é o guardião da configuração do conjunto urbano da cidade”, destaca.
Nas expectativas para 2019, vale o consenso: votos de longa vida ao planejamento urbano curitibano em um equilíbrio entre o passado de ouro e as promessas do futuro.

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