Movimento denuncia descaso e demolição programada de casa de Guimarães Rosa

Aléxia Saraiva
25/07/2019 20:39
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Foto: Reprodução/Facebook Juliana Duarte

O descaso com uma das casas em que Guimarães Rosa morou em Belo Horizonte (MG) veio à tona nesta quinta-feira (25), data em que se celebra o Dia do Escritor. A denúncia partiu de uma moradora da cidade que, por meio de um post no Facebook, delatou o estado de deterioração de 13 casas tombadas como Patrimônio Municipal de Belo Horizonte desde 2007.
A história, no entanto, não é nova. A casa funcionou como bar – o conhecido Bar do Lulu – durante anos, fechando durante os anos 1990.  Nos anos 2000, o conjunto habitacional foi tombado como patrimônio e, posteriormente, foi vendido à Construtora Canopus, que vai construir um novo edifício residencial no terreno, dividindo o espaço com as casas.
Foto: reprodução
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Nos últimos anos, no entanto, as casas apresentam profundos sinais de degradação: paredes e janelas quebradas, sem telhas e com buracos. O descuido levou moradores da região a criarem o movimento “Casa Guimarães Rosa de Belo Horizonte” em 2015, denunciando o estado do patrimônio. Na época, a construtora havia colocado tapumes metálicos em volta do terreno. Em 2019, uma nova movimentação deu a entender que as casas seriam demolidas.
Casa na esquina das ruas Congonhas e Leopoldina, no Bairro Santo Antônio, já foi casa de Guimarães Rosa, recebeu o famoso Bar do Lulu e foi cenário para filme O Menino Maluquinho, de 1995. Foto: reprodução/Facebook Casa Guimarães Rosa em Belo Horizonte
Casa na esquina das ruas Congonhas e Leopoldina, no Bairro Santo Antônio, já foi casa de Guimarães Rosa, recebeu o famoso Bar do Lulu e foi cenário para filme O Menino Maluquinho, de 1995. Foto: reprodução/Facebook Casa Guimarães Rosa em Belo Horizonte
“Começou em fevereiro com o corte das árvores. Em seguida, veio um cercamento do quarteirão. Desde então, a gente vem acompanhando o processo de desmonte da casa. Ela não foi demolida, ainda tem sua estrutura preservada mas, pelas fotos de ontem, a gente percebe que há um processo de demolição acelerado“, comenta Fábio Brasileiro, coordenador do movimento e pesquisador de Guimarães Rosa pela Universidade de Brasília.
Foto: reprodução/Facebook Juliana Duarte
Foto: reprodução/Facebook Juliana Duarte
Em abril, o movimento se reuniu junto do Secretário Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Juca Ferreira, para reivindicar atenção à casa. “O secretário se comprometeu com uma vistoria, feita em começo de maio junto da Secretaria de Patrimônio e representantes do legislativo municipal”, conta Brasileiro. “De maio para cá, nós ficamos sem entender que medidas foram tomadas. A ação de vistoria empreendida pelo executivo e legislativo municipal, em princípio, não resultou em algo que possa barrar o processo de demolição“, explica.

Casas serão revitalizadas e vendidas em até três anos

Procuradas pela reportagem, tanto a Construtora Canopus como a Prefeitura de Belo Horizonte negam que as casas estejam sendo demolidas. Segundo Tarcio Barbosa, diretor de marketing e venda da empreiteira, elas serão restauradas e entregues junto com o novo edifício em um prazo de até três anos.
Ele afirma que o acordo com a prefeitura prevê que o edifício só poderá obter o ‘Habite-se’ — certidão de habitação concedida pelo órgão municipal — se restaurar as casas de acordo com o projeto previamente aprovado pelo Conselho de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultura (FMC) de Belo Horizonte.
Segundo nota da FMC enviada à reportagem de HAUS, o projeto está sendo executado com “uma série de diretrizes que preservam e valorizam o imóvel. Nenhuma casa foi demolida – todas estão sendo restauradas de acordo com projeto aprovado pelo conselho”.
Foto: reprodução/Facebook Juliana Duarte
Foto: reprodução/Facebook Juliana Duarte
São casas residenciais que serão vendidas através de um projeto feito com a prefeitura. Elas faziam parte do terreno e o coeficiente de aproveitamento foi utilizado para construir o prédio. Não vamos fazer as casas agora e continuar a obra do prédio; vamos entregar as duas coisas juntas. Portanto as casas vão começar a ser restauradas um pouco mais pra frente”, esclarece Barbosa.
Ele garante que a construção do edifício não irá influenciar no estado das casas, uma vez que o prédio terá entrada por outra rua.
Quando questionado sobre quais medidas a construtora está tendo para preservar o patrimônio, ele afirma que as casas “estão cercadas por tapume na frente. Estamos fazendo uma limpeza no terreno, vamos manter as casas e depois conversar com mão de obra especializada para fazer a manutenção das casas”, completa.
Foto: Reprodução/Facebook Juliana Duarte
Foto: Reprodução/Facebook Juliana Duarte
Para Brasileiro, o status atual da obra não é suficiente para a preservação. “Quando as pessoas têm interesse em construir e não podem derrubar, deixam apodrecer. Depois, se cair, não tem mais como salvaguardar: terminam de derrubar e fazem o que quiserem”.
Confira a nota completa da Fundação Municipal de Cultura:
A Diretoria de Patrimônio Cultural, Arquivo Público e Conjunto Moderno da Pampulha – DPAM informa que os imóveis particulares tombados, localizados na Rua Congonhas (487 a 579) e Rua Leopoldina (415), NÃO estão sendo demolidos. Estes imóveis foram tombados pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município – CDPCM em 22/08/2007, com publicação no DOM em 30/08/2007.
O Conselho aprovou projeto de restauração elaborado pela Construtora Canopus para o local, com uma série de diretrizes que preservam e valorizam o imóvel. O projeto está sendo executado. Nenhuma casa foi demolida – todas estão sendo restauradas de acordo com projeto aprovado pelo Conselho.

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