Praça para catadores e poesias nas árvores: as mudanças que você pode ver no Rebouças

Amanda Milléo
27/10/2019 13:46
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Ações de intervenção urbana serão aplicadas em diferentes ruas do bairro Rebouças, em Curitiba. Foto: Divulgação

Mudar o espaço urbano pode parecer uma tarefa difícil e burocrática, a princípio. Mas ao ver os participantes do Laboratório de Inovação Urbana, evento realizado pela Sociedade Global, construindo brinquedos e bancos a partir de objetos reciclados, a percepção muda.
Ao longo da última semana, entre os dias 22 e 26 de outubro, os integrantes do Laboratório conceberam ações que buscassem mudar e sensibilizar a percepção dos moradores e de transeuntes da região do Rebouças, em Curitiba. O bairro se tornou um laboratório vivo para transformações urbanas, e vem recebendo atenção da prefeitura e de entidades da área de Arquitetura e Urbanismo, visando melhorias.
Das ações discutidas, três serão implementadas pelo grupo, que já começou a por a mão da massa neste sábado (26).
  • Bancos e brinquedos na rua Conselheiro Laurindo;

  • Poesias na avenida Getúlio Vargas;

  • Espaço de descanso na rua Piquiri.

Uma das intervenções programadas pelo Laboratório de Inovação Urbana foi a melhoria de um espaço na rua Conselheiro Laurindo, visando o descanso de adultos catadores e família Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo
Uma das intervenções programadas pelo Laboratório de Inovação Urbana foi a melhoria de um espaço na rua Conselheiro Laurindo, visando o descanso de adultos catadores e família Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo

Gramado para crianças na Conselheiro Laurindo

Quem passa pela rua Conselheiro Laurindo, entre as ruas Brasílio Itiberê e Almirante Gonçalves, pode não ver, mas há um grande gramado, sem qualquer atrativo, no lado direito da via. O local, porém, não passa despercebido pelos catadores de reciclado que caminham por ali diariamente no trajeto entre casa e centro de Curitiba.
E é justamente nesse ponto que eles param para descansar, se alimentar e deixar as crianças mais livres — que em geral acompanham os pais na jornada. Por isso, o espaço foi escolhido pelo grupo do Laboratório para receber a primeira intervenção urbana, realizada nesse sábado (26), ao longo de todo o dia.

“O nosso foco é criar uma área lúdica, pela percepção dos catadores que usam aquele espaço, que levam os filhos para descansar naquela área. Não tem nenhuma estrutura de lazer lá, só um banco, que não é atrativo. Foi uma percepção que veio do ateliê, dos participantes do Laboratório, e nossa também, mas foi uma percepção indireta dos catadores”, explica Marina Gennari, diretora de projetos da Sociedade Global.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
O gramado recebeu mais um banco, feito com pneus e madeira, e um parquinho feito com pneus. Foram plantadas árvores no local, inclusive um ipê roxo, e flores, para servirem de atrativo.
Ocupar espaços urbanos, essa foi a mensagem do laboratório promovido pela Sociedade Global. Foto: Divulgação
Ocupar espaços urbanos, essa foi a mensagem do laboratório promovido pela Sociedade Global. Foto: Divulgação
Os materiais para a intervenção, ainda segundo Gennari, foram adquiridos ou por doações, ou por coleta de produtos que iam ser descartados, como os pneus, que vieram de transportadoras.
“As tintas vieram dos comerciantes da região, que doaram para nós. As ferramentas são nossas. Juntamos todas que tínhamos em nossas casas para usá-las aqui”, diz. No caso das flores e árvores, foram coletadas junto ao horto municipal.
Um jogo de amarelinha foi pintado na ciclovia, para atender crianças que passam pelo local. Foto: Divulgação
Um jogo de amarelinha foi pintado na ciclovia, para atender crianças que passam pelo local. Foto: Divulgação
Maria do Val, Eduardo Sinegaglia, ambos arquitetos e urbanistas, e Raul Sbaraini, engenheiro civil, estavam desde cedo cavocando a terra para receber as árvores. Embora a ideia seja simples, a prática é bem mais exigente. “Temos que tomar bastante cuidado na hora de mexer na terra, porque já encontramos pedaços de vidro e uma faca enterrados aqui”, exemplifica Maria.

Poesias na Getúlio Vargas

A segunda ação do grupo focará na avenida Getúlio Vargas. Via rápida que liga a área de bairros como Santa Quitéria, Portão, Vila Izabel e Água Verde ao centro da cidade, a avenida é, em geral, uma rua de passagem de carros, ônibus e motos, mas pouco aproveitada pelos pedestres.
“A ideia é gerar uma sensibilização do ambiente ali mesmo, porque a gente percebe que é um território de passagem, que as pessoas não param, não veem que há árvores bonitas e antigas”, explica Marina.
Todas as ações desenvolvidas foram discutidas durante o Laboratório de Inovação Urbana, ocorrido em outubro Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo
Todas as ações desenvolvidas foram discutidas durante o Laboratório de Inovação Urbana, ocorrido em outubro Foto: Amanda Milléo / Gazeta do Povo
Mais próximo ao estádio Joaquim Américo Guimarães, casa do Athlético Paranaense, e à avenida Marechal Floriano Peixoto, a Getúlio Vargas ganhou bancos nas calçadas, mas que não são convidativos. Para torná-los mais “usáveis”, o grupo colocará placas nas árvores com poemas e poesias, para serem vistos e lidos.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Nas calçadas, amarelinhas e outras brincadeiras, para entreter e interagir não só crianças, mas também adultos. “O trajeto [que receberá as ações] não está totalmente definido. A avenida tem um padrão, uma dinâmica que é igual em toda ela. Vamos selecionar, e ver o que vai ser possível também fazer, se será em um trajeto mais longo ou mais curto. Vamos optar por um trajeto de mais movimento”, conclui.

Descanso na rua Piquiri

Outra ideia criada pelo Laboratório foi uma intervenção na rua Piquiri, onde estão localizadas algumas empresas e indústrias grandes, como a Ambev.
Os trabalhadores, em horário de almoço e descanso, não têm onde ficar por ali. A princípio, o local poderá receber uma intervenção que favoreça esse momento de lazer. Essa ação deve acontecer ao longo dos próximos dias.
“A ideia foi pensar no urbanismo tático, ou testar ideias novas vindas de percepções coletivas, que sejam ágeis e baratas. E depois verificar quais foram os resultados, se as pessoas fizeram uso do lugar da forma como imaginávamos ou se inventaram algo novo e diferente”, reforça Marina.
Ainda, de acordo com Andressa Mendes, co-idealizadora do projeto, o foco está nas pessoas que fazem uso do espaço, e como interagem com o local.
“O projeto tem o objetivo de criar nas pessoas um senso de pertencimento àquele local, àquela cidade. Assim, de uma maneira mais informal e afetiva, fazer com que haja mais aproximação. Não se trata de falar de inovação urbana em uma sala, mas de ouvir a população e incorporar as suas ideias para o espaço”, completa.
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