Urbanismo

Prefeitura de Curitiba investe mais de R$ 800 mil em iluminação cênica de monumentos

William Saab*
06/06/2018 13:16
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A Fonte de Jerusalém (Fonte dos Anjos), no Seminário, recebeu projetores de led e novas luminárias. Foto: SMCS / Divulgação | Picasa

Quem circulou por Curitiba nos últimos meses reparou que diversos monumentos da cidade ganharam uma nova iluminação. Parques, passeios e pontos turísticos receberam novos investimentos que ultrapassaram os R$ 800 mil na atual gestão. Chamada de iluminação cênica, esse modelo, que teve origem no teatro, como o nome sugere, promove uma revitalização de espaços públicos de forma a torná-los mais atrativo em meio a paisagem urbana.
Nova iluminação cênica no Parque Tanguá. Foto: Daniel Castellano / SMCS / Divulgação
Nova iluminação cênica no Parque Tanguá. Foto: Daniel Castellano / SMCS / Divulgação
De acordo com o diretor de iluminação pública da Secretaria Municipal de Obras Públicas da Prefeitura de Curitiba, Tony Malheiros, o projeto foi dividido em dois momentos. “O primeiro passo da revitalização foi na chamada iluminação funcional, que trata de aperfeiçoar as luzes de vias e praças da cidade, promovendo conforto visual e, principalmente, segurança pública. Isso faz com que os espaços sejam mais frequentados por motoristas e pedestres”, explica Malheiros. “Só depois, então, que o investimento passou a ser feito nos monumentos da cidade”, completa.
Os espaços turísticos e outros que são referência para o município é parte de um programa da prefeitura para melhorar a luminosidade dos parques e praças. “Além da economia para o município, o objetivo é garantir segurança para que as pessoas ocupem os espaços públicos”, defende o secretário de Obras Públicas e vice-prefeito, Eduardo Pimentel.
Painel do Rogério Dias, na Praça Rio Iguaçu, no Centro Cívico. Foto: Pedro Ribas/SMCS/Divulgação
Painel do Rogério Dias, na Praça Rio Iguaçu, no Centro Cívico. Foto: Pedro Ribas/SMCS/Divulgação
O diretor de iluminação detalha que foram reformados ou revitalizados os projetos de iluminação do Largo da Ordem, igrejas e prédios do centro histórico, a Fonte de Jerusalém (Fonte dos Anjos), no Seminário, a estufa e o velódromo do Jardim Botânico, os painéis de Poty Lazzarotto e a estátua do filósofo chinês Confúcio, no Centro Cívico.
Também foram iluminadas casas históricas, como a Casa Hoffman, igrejas do Portão e do Boqueirão, as esculturas do Homem Nu e da Mulher Nua na Praça 19 de Dezembro, o Cine Passeio, na Rua Riachuelo, a Praça do Japão, o Memorial Árabe, o Paço da Liberdade, a imagem de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, na Rua Barão do Serro Azul, o Farol das Cidades e o Farol do Saber da Casa de Leitura Miguel de Cervantes, na Praça Espanha.
Tony Malheiros ainda relata que o critério para a escolha desses locais foi pela importância histórica e a representatividade para a cidade. Quando questionado se os custos para a manutenção compensariam o investimento, Malheiros garante que sim. “Priorizamos a troca dos atuais projetores e barras por LED, que diminuem, em muito, o consumo de energia. Na fonte dos Anjos, por exemplo, os oito projetores de 400 watts foram substituídos por 120 watts, de modo a manter a qualidade e não onerar os cofres da prefeitura”, explica.

Valorização

O conceito de iluminação cênica, quando aplicado nas cidades para uma iluminação urbana, tem o objetivo de valorizá-la. Vem de um conceito americano denominado City Beautification, como explica a arquiteta Marcela Schneider Rosário. “É uma iluminação que ressalta elementos da arquitetura, que projeta uma luz mais estética e artística para valorizar ambientes urbanos”, conta Marcela. Ela destaca que a iluminação cênica deve ser tão priorizada quanto a técnica, isto é, aquela que tem como objetivo iluminar bairros e ruas. Ela critica, inclusive, que as normas técnicas brasileiras estão desatualizadas. “Não atendem o momento e necessidades atuais das cidades brasileiras”, pontua Marcela.
Iluminação cênica no casario histórico do Largo da Ordem. Igreja da Ordem e Casa Hoffmann. Foto: Daniel Castellano / SMCS / Divulgação
Iluminação cênica no casario histórico do Largo da Ordem. Igreja da Ordem e Casa Hoffmann. Foto: Daniel Castellano / SMCS / Divulgação
A mesma opinião tem o arquiteto Rodrigo Cruz. “Uma iluminação urbana de qualidade estimula o progresso econômico e turístico, além de animar quarteirões, praças, jardins, passeios e orlas”, destaca Cruz. Ele reforça que a iluminação cênica é um poderoso instrumento nas ações de valorizações das paisagens urbana e histórica das cidades, uma vez que realça a importância de seu patrimônio arquitetônico.

Segurança

De acordo com a doutoranda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora universitária, Juliana Tissot, um bom planejamento é a chave para a qualidade dos municípios. “As cidades podem e devem ser valorizadas com a iluminação desses monumentos, porém, se pensarmos que a iluminação contribui para a sensação de segurança, outras áreas também devem sempre estar incluídas, como locais abaixo de pontes e viadutos”, explica.
Juliana ainda lembra o que diz o Manual dos Espaços Públicos, do Programa Solução para Cidades: “A iluminação – ou a falta dela – é um dos muitos problemas urbanos. A insegurança de uma determinada área pode ser resolvida com soluções muito simples, como um bom projeto de iluminação pública, evitando áreas escuras e fornecendo visibilidade em todo o seu entorno. Isso diminui custos com o uso de grades ou a presença de policiamento”.
Para a arquiteta Danielle Wall, a iluminação cênica é importante porque valoriza ícones e silhuetas dos espaços, tornando-os visíveis não apenas durante o dia, mas também pela noite. “Ela cria ambientes, define espaços e, quando feita de forma correta, isso é, incluindo a iluminação de acessos e estacionamentos, promove conforto e segurança”, acrescenta.
Ela vê a iluminação cênica como algo positivo, mas que não se deve deixar de lado a iluminação nos bairros e cita uma cidade de Europa como mau uso desse modelo. “Budapeste, na Hungria, é um exemplo interessante. O governo lá investiu muito na iluminação cênica dos monumentos, mas não deu a importância devida aos bairros”, pontua a arquiteta.
Para Danielle, a qualidade de vida dos moradores de um município está ligada a impressão que ele passa. “Se a cidade se mostra segura, também teremos esse sentimento”, acredita a arquiteta, que sempre procura trazer a cidade para dentro dos projetos externos que ela lidera com instalação de totens, logos e uma comunicação visual de destaque.

Luz ao redor do mundo

Paris e Nova York são as primeiras lembranças quando pensamos em iluminação cênica. Os pontos turísticos franceses e a Time Square são exemplos de cidades bem-sucedidas nesse quesito. Porém, outras localidades ao redor do mundo também investiram nesse tipo de iluminação para ampliar a segurança de seus espaços públicos e valorizar seus monumentos.
Paris, a Cidade Luz, ganhou fama e atrai milhões de turistas com seus monumentos iluminados. Foto: Bigstock
Paris, a Cidade Luz, ganhou fama e atrai milhões de turistas com seus monumentos iluminados. Foto: Bigstock
Bruxelas, na Bélgica, é uma cidade predominantemente cinza, mas, durante a noite, a prefeitura patrocina projeções em vários edifícios, tornando-a mais iluminada e, consequentemente, mais atrativa para turistas e moradores. Outro exemplo é a Câmara Municipal de Madrid, na Espanha, que é hoje um edifício que expõe conteúdo multimídias por meio da instalação de um telão lateral.
Em Dubai, nos Emirados Árabes, a Ponte de Maydan é um cartão postal de boas-vindas que acompanha quem chega na cidade por todo o percurso da estrutura. O Mirage Shopping Center, em Zilina, Eslováquia, tem um projeto luminitécnico que proporciona mais conforto para os clientes que chegam ao local. São projetos que valorizam os traços arquitetônicos e criam impressões para quem os visita.

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*Especial para a Gazeta do Povo

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