Urbanismo

Primeira Rua Completa do Brasil tem 92% de aprovação e deve chegar a Curitiba

Luciane Belin*
04/01/2019 19:30
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Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil

Vias mais democráticas, com segurança e conforto para todos os usuários, estejam eles a bordo de um veículo, em uma bicicleta ou a pé. O projeto Ruas Completas quer mudar a forma como as cidades enxergam suas ruas e deixar para trás de uma vez por todas aquela ideia de planejamento urbano que prioriza o trânsito dos automóveis.
Implementado em 2017 tendo 14 cidades brasileiras como laboratório, o Ruas Completas é uma iniciativa que faz parte do programa Rede Nacional para a Mobilidade de Baixo Carbono e que quer transformar todos os tipos de ruas, das mais estreitas vielas às avenidas mais movimentadas, em espaços compartilhados, seguros e acessíveis. Em Curitiba, a intervenção deverá ocorrer na Rua Voluntários da Pátria, segundo Paula dos Santos, gerente de mobilidade ativa da WRI Brasil, idealizadora do projeto junto com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) e com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS). Ainda não há previsão, no entanto, de quando ela será implementada.

Piloto

A primeira das vias a sofrer intervenção pelo programa foi a Rua Joel Carlos Borges, em São Paulo, com uma quadra de extensão e que dá acesso a uma estação de trem. Em 2017, em apenas duas noites, a comunidade viu a rua ser completamente transformada. “Foi feita uma pintura do chão com demarcação do espaço da calçada, alargado o espaço do pedestre com pintura e instalação de pilaretes; além disso, foi feita uma nova faixa de segurança e alterada a sinalização, com novas placas sinalizando o limite máximo de velocidade, que baixou de 30 para 20 km/h, já que é uma rua calma”, explica Paula dos Santos, gerente de mobilidade ativa da WRI Brasil, idealizadora do projeto junto com a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) e com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS).
Rua Joel Carlos Borges antes da intervenção. Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
Rua Joel Carlos Borges antes da intervenção. Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
A mudança foi, segundo ela, uma transformação intermediária e mais fácil do que alguns dos outros projetos que estão em andamento, por ser mais curta e ter pouca circulação de veículo. De acordo com um estudo desenvolvido pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), apenas 7% dos consumidores dos comércios locais chegam até o local de carro. 91% são pedestres ou aproveitam os transportes coletivos disponíveis.
A mudança, portanto, foi vista com bons olhos: 92% dos usuários aprovaram a Rua Completa e 80% se sentem mais seguros na via depois da intervenção, embora muitos deles continuem utilizando o trecho destinado aos veículos para circular. E é nessa mudança de conscientização, tanto dos usuários quanto dos atuais e futuros arquitetos e urbanistas, que estarão focados os esforços do projeto Rua Completa nas próximas etapas.
Enquanto acompanha de perto a atualização das outras 13 ruas, a rede formada pelas instituições e pelas cidades participantes também tentará parcerias com universidades. “O objetivo é que todas as cidades possam ter acesso a essa informação, e a WRI disponibiliza materiais para isso, não com o alcance para apoiar diretamente todas as cidades como apoiamos estas primeiras, mas além de expandir para a cidade, a ideia é agregar mais atores a esta iniciativa. Trazer a academia para essa rede, para falar mais sobre este conceito para os estudantes que serão os futuros planejadores urbanos”, explica Paula.
Ela afirma ainda que, embora o conceito seja relativamente novo no Brasil, ele existe há cerca de uma década nos Estados Unidos. “É uma forma de reverter essa visão de que as cidades são construídas para passar os carros e o que sobra vai para pedestres, ciclistas, que são na verdade os mais vulneráveis e, como tal, deveriam ser priorizados principalmente com relação à segurança.”
Rua Joel Carlos Borges depois da intervenção. Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
Rua Joel Carlos Borges depois da intervenção. Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
As próximas cidades a receber Ruas Completas são Porto Alegre, Joinville, Curitiba, Brasília, Juiz de Fora, Campinas, Salvador, Recife, Fortaleza, João Pessoa, Porto Velho, Rio de Janeiro e Niterói, cujos projetos estão em diferentes níveis de implementação. “São intervenções diferentes e cada rua tem o seu contexto. No Nordeste, por exemplo, foram escolhidas ruas nos centros históricos da cidade, então há questões de patrimônio históricos às quais as cidades precisam se atentar. Já Niterói escolheu a principal avenida da cidade, que tem bastante fluxo e está sempre carregada com carros, ônibus, então é um projeto diferente”.

Estudo comparativo

Para medir os níveis de satisfação dos usuários com a Rua Completa, o LABMOB coordenou uma pesquisa com uma metodologia própria que compara o efeito das mudanças na Rua Joel Carlos Borges com o impacto em uma rua de controle, que não foi alterada, a Rua Gomes de Carvalho.
Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
Foto: Pedro Mascaro/ WRI Brasil
Os entrevistados destacaram entre os elementos da rua mais benéficos as faixas verdes – espaços de 1,5 metro a 2 metros de largura e que aumentaram de 29% para 70% o espaço viário designado exclusivamente para os pedestres –, seguidas pelo aumento de espaço do pedestre e pelos balizadores.
Ao comparar as respostas em relação à percepção de segurança na via, 80% das pessoas que passam pela Rua Completa consideram a via segura, enquanto apenas 49% dos passantes entrevistados na Rua Gomes de Carvalho dizem se sentir seguros.
O estudo também demonstra que os comerciantes possuem uma visão equivocada sobre como seus clientes acessam seus estabelecimentos. Quatro dos nove comerciantes formais da Rua Joel Carlos Borges declararam acreditar que a maioria de seus clientes chega de carro. No entanto, apenas 7% das pessoas que afirmaram consumir algo na via disseram acessar a região de carro, enquanto 59% chegam a pé, 28% de trem e 4% de ônibus – totalizando 91% dos consumidores.
*Especial para Haus, com informações do ArchDaily.

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