Urbanismo

Rio mais importante da cidade, Belém sobrevive à ocupação urbana

Felipe Martins*
06/12/2016 21:37
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No Centro Cívico, o rio volta a se esconder, e só é visto novamente na região da rodoferroviária. Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

O rio Belém está doente, mas ainda vive. É a isso que se apega a diretora de Recursos Hídricos e Saneamento de Curitiba, Marlise Jorge, enquanto retrata o estado de um dos mais importantes rios da região. O curso d’água que um dia serviu como um dos principais referenciais para o estabelecimento da cidade passou por intervenções e obras de canalização e retificação – prática comum das administrações urbanas –, mas hoje sofre com a falta de cuidado e de planejamento. As consequências afetam tanto a imagem como a estrutura da cidade: o Belém é constantemente visto como um problema, principalmente quando chove.
Trecho do Rio Belém no Boqueirão. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo
Trecho do Rio Belém no Boqueirão. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo
Ele faz parte de um rico conjunto de rios e córregos que servem a região. Do solo fértil brotou a cidade, que cresceu rápida e desordenadamente. As margens do rio foram ocupadas de forma irregular. Da nascente, no bairro Cachoeira, até desaguar no Iguaçu, ao sul da cidade, o Belém percorre mais de 17 quilômetros e corta 15 bairros da capital e, em diversos pontos, o lançamento de esgoto e dejetos polui suas águas. No passado, uma iniciativa do Ouvidor Pardinho, representante jurídico e administrativo da coroa portuguesa na região, ordenou aos moradores que limpassem periodicamente as águas do Belém. Serviu por um tempo.
Em 1942, o Belém foi canalizado e coberto na região onde hoje passa a Avenida Mariano Torres. Foto: Arthur Júlio Wischral/Casa da Memória de Curitiba
Em 1942, o Belém foi canalizado e coberto na região onde hoje passa a Avenida Mariano Torres. Foto: Arthur Júlio Wischral/Casa da Memória de Curitiba
Mas o desenvolvimento da cidade acabou esbarrando na falta de espaço e partes do rio foram canalizadas e cobertas. “Há todo um contexto de interesses e poderes, empresariais e mobiliários. É preciso entender tudo para poder querer tratar e recuperar o rio”, descreve Marlise.
Embora hoje o Belém passe uma imagem de rio sujo e sem vida, a cruzada pela revitalização envolve esforço e iniciativas destacáveis.
A vontade de mudar o imaginário em relação ao Belém moveu o historiador Erik Tavernaro e a fotógrafa Edna Froes, responsáveis pelo projeto ‘Paisagens do Rio Belém’, que propõe o resgate da memória do rio pelos moradores das áreas por onde a água passa. “Percebemos durante o projeto que nos bairros em que o rio e seu entorno estão limpos e bem cuidados, o valor das casas é bem mais alto se comparado às regiões onde não há cuidados com o rio, e as pessoas enxergam o Belém como algo positivo”, explica Erik.
Trecho já canalizado do Belém no Ahú , em 1995. Obras ampliaram espaço, mas diminuíram absorção do solo. Foto: Amaury Cosiaki/Arquivo Público Municipal de Curitiba
Trecho já canalizado do Belém no Ahú , em 1995. Obras ampliaram espaço, mas diminuíram absorção do solo. Foto: Amaury Cosiaki/Arquivo Público Municipal de Curitiba
Por parte do poder público, a revitalização caminha aos poucos, mas com resultados positivos. “Hoje nós atuamos principalmente nos afluentes e nas áreas próximas da nascente, recriando as áreas de preservação. A qualidade da água voltou a ser boa, e já vemos muitos peixes voltando a ocupar o espaço”, comenta Marlise. E embora a revitalização completa pareça distante pelos gastos e tempo necessários, a diretora mantém o otimismo. “São pequenos passos que foram dados em direção a algo grande.”
* especial para a Gazeta do Povo

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