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Tolkien levou 12 anos para escrever o maior épico do nosso tempo, “O Senhor dos Anéis”.
Tolkien levou 12 anos para escrever o maior épico do nosso tempo, “O Senhor dos Anéis”.| Foto: Pixabay

Nota do tradutor: Muitos dos livros listados nesta matéria ainda não ganharam edição em português, por isso estão com o títulos originais em inglês ou traduzidos. Quando o livro possui edição em português, indicamos a editora ao lado do título.

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Então você gosta do conservadorismo imaginativo e se pergunta de onde surgiu essa escola de pensamento. As raízes foram fixadas na primeira metade do século XX, depois que vários pensadores se puseram a lutar contra o populismo e o progressismo (de esquerda e de direita, pacífico ou violento) de todas as formas possíveis. São milhares os livros a serem escritos e lidos ainda, mas aqui estão dez que ajudaram a moldar o movimento.

Irving Babbitt talvez não seja o conservador mais lembrado da atualidade, mas ele foi um personagem fundamental no movimento. Juntamente com Paul Elmer More, Babbitt fundou o conservadorismo imaginativo. Seu livro "Romanticism and Rousseau" [Romantismo e Rousseau], de 1919, pode não ser uma leitura das mais fáceis, mas desconstrói totalmente a essência e as aparências desse grande bête noire, Jean-Jacques Rousseau. Como explica Babbitt (corretamente ou não), o romantismo do fim do século XVIII e começo do século XIX se inspirava nas ideias de Rousseau. Conservadores posteriores, como Barfield, Dawson e Kirk, respeitavam Babbitt, mas discordavam dele nisso.

O melhor livro de Willa Cather — e de certa forma o mais enganador, levando em conta a sutil reviravolta da última página —  e o romance "Death Comes for the Archbishop" [A morte vem para o bispo], de 1927. Ostensivamente acompanhando a vida do bispo Lamy, o romance explora as questões mais importantes da condição humana.

Se você colocar o "Poetic Diction" [Dicção poética] de Owen Barfield ao lado de qualquer um dos livros de Babbitt, talvez provoque uma explosão de matéria/antimatéria. Barfield, ao contrário de Babbitt, é um profundo romântico. Mas o romantismo dele está mais associado ao pensamento de Edmund Burke do que ao de Rousseau. Originalmente escrito como uma espécie de trabalho de conclusão de Barfield em Oxford, "Poetic Diction" nunca saiu de catálogo desde sua primeira edição, em 1928. Por mais jovem que Barfield fosse ao escrevê-lo, "Poetic Diction" tem todas as características de um trabalho genial. Ele é original em seu pensamento e envolvente no estilo. Sua teoria é a de que a imaginação não só é prazerosa, mas também compreende coisas objetivas, verdadeiras e reais.

Paul Elmer More escreveu "Pages from an Oxford Diary" [Páginas de um diário de Oxford] no leito de mote. E dá para ver. No livro, o grande conservador imaginativo reconsidera sua vida à luz da jornada rumo à ortodoxia cristã. Apesar de jamais tê-la alcançado, ele pedia perdão a Deus por ter se desviado tanto no mundo. As duas últimas páginas do livro talvez sejam uma das melhores jamais escritas desde o "Martírio de Perpétua".

Dedicado aos britânicos em meio à guerra, "O Julgamento das Nações" (Editora É Realizações), de Christopher Dawson, é tudo o que um livro de história deveria ser, mas raramente é. Com uma prosa rica e ideias inovadoras, Dawson reflete sobre o papel da Providência na história e cria uma versão contemporânea de "A Cidade de Deus", de Santo Agostinho. Males e totalitarismos contemporâneos, diz ele, são resultados da superficialidade do liberalismo e das fraquezas do progressismo, cada qual inspirando os homens a serem apenas rodas dentadas numa grande engrenagem.

Um dos rivais de Dawson como o mais imaginativo dos conservadores britânicos foi o grande apologista cristão C.S. Lewis. Os dois, por acaso, se conheciam, embora não fossem amigos. Apesar disso, Lewis está no auge com seu "Cristianismo Puro e Simples" (Editora Thomas Nelson Brasil). Na verdade, o livro é tão bom e honesto que até católicos o usam no catecismo de crianças. Em essência, o livro é uma análise da Lei Natural e uma espécie de sequência de seu livro mais filosófico, "A Abolição do Homem". Sinceramente, é preciso ler toda a obra de Lewis. Se você pretende obter a teologia e filosofia de Lewis de uma forma mais simples, leia "Uma Força Medonha".

Ainda que odiasse o rótulo de conservador e costumasse rir dos conservadores, cinicamente aceitando dinheiro das poucas instituições do tipo, em "A Nova Ciência da Política" Eric Voegelin conta a história da antiga heresia cristã do gnosticismo até sua forma contemporânea, incluindo o fascismo e comunismo. Assim como Dawson, ainda que menos teológico, Voegelin lamenta a corrupção dos antigos símbolos e a máquina contemporânea que mói e destrói tudo. Voegelin é o único autor da lista que não é um conservador imaginativo, embora seja um importante aliado — ainda que à sua revelia.

No mesmo ano, 1952, o editor de T.S. Eliot organizou seu "Complete Poems and Plays", 1909-1950 [Poemas e Teatro Completo]. Ainda que não tenha um grande escopo, é uma obra brilhante. O livro contém A dantesca trilogia formada por "A Terra Desolada", "Quarta-feira de Cinzas" e "Os Quatro Quartetos", e também a melhor peça de Eliot, "Murder in the Cathedral" [Assassinato na Catedral]. Maior poeta do nosso tempo, Eliot era realmente conservador e cheio de imaginação.

Na primavera de 1953, Russell Kirk publicou sua dissertação que viria a se tornar uma obra-prima, "A Mentalidade Conservadora" (Editora É Realizações). O livro é uma sequência romântica das obras de Irving Babbitt. Analisando 29 personagens históricos diferentes, de Edmund Burke e John Adams a nomes na época vivos, como T.S. Eliot, Kirk elabora seis preceitos conservadores, cada qual mudando de acordo com a época e o lugar. Para Kirk, o conservadorismo busca o transcendente, mas está sempre baseado em algo específico. O que conecta o divino e o mundano? A imaginação.

Ainda que ele tenha precisado de 12 anos para escrever, J.R.R. Tolkien finalmente publicou "O Senhor dos Anéis" em 1954 e 1955. Em questões políticas, Tolkien era conservador. Como artista, ele é absolutamente imaginativo — no melhor dos sentidos. Ele entendia a linguagem e a condição humana, ainda que tenha escrito sobre elfos e hobbits, como poucos desde Dante, Virgílio e Homero. Na verdade, "O Senhor dos Anéis" é considerado o maior épico do mundo contemporâneo e está ao lado de "A Divina Comédia", "A Eneida", "A Ilíada" e "A Odisseia", obras escritas numa outra época da civilização ocidental.

Bradley J. Birzer é cofundador e colaborador do site The Imaginative Conservative. 

© 2021 The Imaginative Conservative. Publicado com permissão. Original em inglês
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