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Mulher palestina segura bandeira  nacional durante confronto entre forças israelenses  e palestinos  na fronteira entre Faixa de Gaza e Israel  | MAHMUD HAMS/AFP
Mulher palestina segura bandeira nacional durante confronto entre forças israelenses e palestinos na fronteira entre Faixa de Gaza e Israel | Foto: MAHMUD HAMS/AFP

Nesta segunda-feira (14), concretizam a mudança de sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém, em uma manobra que está desencadeando protestos massivos e mortais entre palestinos e forças israelenses na fronteira entre Israel e Faixa de Gaza. Dezenas de palestinos foram mortos enquanto ameaçavam romper a cerca que divide os dois territórios.

Durante décadas, a maioria da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, declinou reconhecer oficialmente Jerusalém como a capital de Israel até que um acordo de paz pudesse ser alcançado entre israelenses e palestinos, uma vez que ambos os lados reivindicam a cidade como capital. Os mais recentes debates ameaçam reviver décadas de controvérsia sobre fronteiras internacionais, possíveis acordos de paz e reivindicações de terras.

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Mas a conversa sobre Jerusalém também é, inevitavelmente, uma conversa sobre fé — e, especificamente, sobre o controle de alguns dos locais mais sagrados para judeus, muçulmanos e cristãos. 

A geografia é rígida. No centro de Jerusalém, em uma área do dobro do tamanho do centro comercial de Washington, D.C., situam-se três grandes locais sagrados: a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do mundo para os muçulmanos; o Muro das Lamentações, parte do local mais sagrado do mundo para judeus; e a Igreja do Santo Sepulcro, que marca o lugar onde muitos cristãos acreditam que Jesus foi crucificado, sepultado e ressuscitou. 

Para saber o que está acontecendo em Jerusalém agora é essencial entender por que a cidade é tão crucial neste momento para muçulmanos, judeus e cristãos. 

Como todos esses lugares sagrados acabaram em um só local? 

Depende de quem você perguntar. Jerusalém é central para a geografia e eventos da Bíblia hebraica, e a Bíblia hebraica, de várias maneiras, exerceu uma influência profunda sobre o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. 

Entre 587 a.C. e 70 a.C., os judeus construíram — e depois viram destruídos — dois templos em Jerusalém que eram o centro de sua vida religiosa e comunitária. Quase 2 mil anos depois, Jerusalém e o Templo permanecem centrais para o pensamento e a religião judaica tradicional. 

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Em todo o mundo, os judeus rezam em direção a Jerusalém. Muitos judeus acreditam que o Messias virá, e o Templo será reconstruído em Jerusalém. E, hoje, um dos antigos muros de contenção do Templo — chamado o Muro das Lamentações — é o principal local de culto para os judeus. 

Para os cristãos, Jerusalém também é o lugar onde Jesus pregou, morreu e ressuscitou. Muitos também veem a cidade como central para uma iminente Segunda Vinda de Jesus. Jerusalém é agora um importante local de peregrinação para cristãos de todo o mundo. 

Para os muçulmanos, Jerusalém é um local de eventos importantes na vida de Jesus e outras figuras. É também o local onde, de acordo com as interpretações tradicionais do Alcorão e outros textos, o profeta Maomé subiu ao céu. Mohammed foi levado de Meca para Jerusalém, e depois de Jerusalém para os céus, onde conversou com os profetas antes de retornar à terra. Por mais de 1,3 mil anos, houve santuários muçulmanos em Jerusalém. 

Quem realmente controla os locais sagrados? 

É complicado. Ao longo dos anos, muçulmanos e cristãos lutaram pelo controle da cidade. Mais recentemente, a Jordânia esteve no controle. Em 1967, depois de uma guerra com a Jordânia, o Egito, a Síria e outros estados árabes, Israel capturou a metade oriental de Jerusalém, incluindo a Cidade Velha que abrange os principais locais sagrados. Israel rapidamente arrasou os prédios em frente ao Muro das Lamentações e restabeleceu o local como sagrado. 

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A comunidade internacional não reconhece a jurisdição de Israel sobre este território, e grande parte da população da Cidade Antiga é palestina. Mas toda a Cidade Antiga, incluindo seus locais sagrados muçulmanos, agora está dentro da área mais ampla onde Israel exerce o controle. 

No entanto, a Mesquita Al-Aqsa, a Cúpula da Rocha e toda a área que os muçulmanos chamam de Haram al-Sharif (muitos ingleses podem conhecê-lo como o Monte do Templo) são administrados pelo Waqf islâmico de Jerusalém - uma organização religiosa muçulmana, supervisionado pelo governo jordaniano, que lida com segurança e exerce considerável soberania sobre a área. As tentativas israelenses de exercer autoridade adicional na área são interpretadas por muitos muçulmanos como uma ameaça. Por exemplo, quando, no início deste ano, Israel tentou instalar detectores de metal nas entradas de Haram al-Sharif, houve protestos em massa e o governo finalmente recuou. 

O governo israelense e um grupo de poderosos rabinos ortodoxos — eles próprios controversos no mundo judaico — exercem controle direto sobre o Muro das Lamentações, que fica ao pé do Monte do Templo. 

E uma coalizão de grupos cristãos exerce a autoridade do dia a dia sobre a Igreja do Santo Sepulcro. 

O anúncio de Trump modifica qualquer desses arranjos? 

No curto prazo, não deveria. Mas a questão maior é sobre quem controlará Jerusalém no futuro — e sobre como a cidade poderia ser dividida em um acordo de paz. Se é que será dividida. Um lado ficará com toda a cidade, ou a maioria da cidade? Será uma zona internacional? 

Para muitas pessoas, essas são questões com profundas implicações religiosas. Para algumas pessoas, a decisão de Trump de reconhecer a cidade como capital de Israel oferece suporte para uma visão israelense de Jerusalém como a capital "eterna e unida" de Israel. Isso pode parecer uma visão pacífica e esperançosa do futuro. Mas também pode parecer um resultado em que um futuro Estado palestino não tenha jurisdição sobre nenhuma parte de Jerusalém, ou em que Israel exerça muito mais controle sobre a cidade e seus locais sagrados muçulmanos - o que, para muitos muçulmanos devotos, é inaceitável. 

A mudança fará alguns judeus religiosos e cristãos felizes? 

Sim. Muitos — mas não todos — judeus expressaram seu apoio à decisão de Trump. Assim como muitos evangélicos, o grupo religioso cristão americano que mais apoia Israel. Em julho, o vice-presidente Mike Pence disse durante a conferência anual da organização Christians United for Israel, o maior grupo cristão pró-israelense do país, que "este presidente está com vocês. E eu prometo a vocês que chegará o dia em que o presidente Donald Trump moverá a Embaixada Americana de Tel-Aviv para Jerusalém. Não é uma questão de se, e sim de quando.”

Para alguns evangélicos, o retorno de um grande número de judeus a Israel nos últimos 150 anos é evidência de ação divina na história e até mesmo um sinal da iminente Segunda Vinda de Jesus. Para outros evangélicos, muitas vezes se apegando a versos específicos da Bíblia, é uma obrigação religiosa apoiar o povo judeu. O resultado é que muitos evangélicos apoiam políticas mais agressivas em favor de Israel. 

No entanto, nem todos os líderes cristãos estão felizes: o Papa Francisco expressou "profunda preocupação" com a decisão de Trump. 

Por que todos não podem simplesmente compartilhar os locais sagrados? 

A geografia é extraordinariamente complicada. O desenho mais claro do quão complicada é a situação é o local do Templo: muitos judeus sonham em ver um dia o Templo reconstruído. Mas a terra onde ele ficaria situa-se exatamente onde hoje está a Cúpula da Rocha. 

Ainda assim, enquanto a história de Jerusalém é uma prova viva da violência religiosa, também é um laboratório do pluralismo. Para melhor ou pior, poucas cidades podem se orgulhar de tal diversidade religiosa. A questão agora é como a embaixada dos EUA influenciará o delicado equilíbrio pluralista existente hoje.

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