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Selina Soule, 16, reclama de ser obrigada a competir contra meninos biológicos em Glastonbury, Connecticut.
Selina Soule, 16, reclama de ser obrigada a competir contra meninos biológicos em Glastonbury, Connecticut.| Foto: The Daily Signal

Quando dois estudantes atletas que nasceram homens, mas que dizem se identificar como mulheres, ficaram em primeiro e segundo lugar no campeonato de atletismo indoor de Connecticut, a história não ficou restrita à cidadezinha.

Para alguns, foi uma história de triunfo e coragem. A vencedora, uma caloura da Bloomfield High School, estabeleceu o recorde estadual feminino de 6,95 segundos para os 55 metros rasos indoor e chegou a vencer o campeonato regional tanto nos 55m quando nos 300 metros rasos.

Para outros, foi uma história de espanto e decepção: isso representa o fim dos esportes femininos?

Para Selina Soule, corredora de 16 anos de Glastonbury, a história a afetou pessoalmente.

Caloura, Selina não conseguiu se classificar para a corrida de 55m nas disputas regionais da Nova Inglaterra. Seu lugar, disse ela, foi ocupado por meninos biológicos.

Se os meninos que se identificam como meninas não tivessem recebido permissão para competir, Selina teria ficado em sexto lugar, se classificando para correr os 55m diante de olheiros de faculdades nas disputas regionais da Nova Inglaterra.

Mas ela ficou em oitavo lugar e teve de assistir à corrida dos 55m da arquibancada, classificando-se apenas para o salto em distância, competição na qual atletas transgêneros não entram.

“É muito frustrante e sofrido quando as meninas estão na linha de largada e já sabem que esses atletas vão vencer, por mais que elas se esforcem”, disse Selina ao Daily Signal. “Eles tiraram vagas de meninas, atletas que mereciam… entre elas, eu”.

Apesar de o debate sobre os atletas transgêneros e a equidade no esporte ser complexo, a situação em Connecticut trouxe à tona outro complicador: muitos pais e estudantes meninas do ensino médio parecem se opor à participação de meninos biológicos em esportes femininos, mas temem a retaliação pública e, por isso, não se manifestam.

Ao menos não publicamente.

O que está em jogo em meio ao silêncio é grave: diretrizes estão sendo criadas em tempo real nas cidades, estados e também no governo federal para tratar de indivíduos transgêneros, estudantes atletas e esportes.

Em 13 de março, a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, apresentou o HR5, também chamado de Lei da Igualdade, um projeto que pretende acrescentar “identidade de gênero” e “orientação sexual” às classes protegidas pela Lei Federal dos Direitos Civis.

A legislação vai dar um direito civil a atletas homens que se identificam como mulheres em qualquer situação, dizem os críticos, sem que haja qualquer sinal de alterações físicas em seus corpos.

Uma voz para os sem-voz

Quando a Conferência Atlética Interescolar de Connecticut, CIAC, disse que meninos biológicos que se identificam como meninas podiam competir como meninas nos esportes, a maioria das corredoras ficou em silêncio.

Connecticut é um dos 17 estados que permitem que atletas transgêneros do ensino médio disputem eventos esportivos sem quaisquer restrições, de acordo com o Transathlete.com, site que monitora as políticas estaduais quanto aos esportes estudantis em todo o país.

Encorajada pela mãe, Bianca Stanescu, que assumiu a dianteira para questionar a política estadual, Selina é uma das poucas alunas, se não a única, a dar voz a incontáveis outras que parecem sentir a mesma coisa.

“Todos têm medo de retaliação da mídia, dos jovens da escola, de outros atletas, treinadores, escolas, diretores”, explicou. “Elas não querem chamar atenção para si e não querem ser vistas como alvo de bullying e ameaças”.

Numa visita a Connecticut, o Daily Signal conversou com quatro outras corredoras de duas escolas de ensino médio. Ecoando os sentimentos de Selina, elas pediram para permanecer anônimas.

“Acho muito importante que as pessoas entendam o que estamos querendo dizer em vez de simplesmente nos acusarem de sermos transfóbicas”, disse uma delas. “Nossa sociedade é construída de tal forma que ela ataca as pessoas imediatamente”.

“Vivemos num mundo muito cruel e às vezes é difícil compreender a sociedade”, disse outra menina ao Daily Signal. “Você nunca sabe qual vai ser a reação. É difícil, porque às vezes você quer se fazer ouvida... Mas como você vai saber se o que você diz terá um impacto positivo e que as pessoas não vão torcer o que você disse, fazendo com que suas palavras se voltem contra você?”

“Um problema de igualdade”

Os pais das meninas também manifestaram um alto grau de preocupação em proteger as identidades das filhas e não quiseram nem que as identificássemos pela escola.

Connecticut é composto por cidadezinhas, explicaram os pais, e, levando em conta que as atletas afetas são relativamente poucas, as pessoas podem unir os pontos.

“Não há mesmo nada que se possa fazer, exceto ficar frustrada e revirar os olhos”, disse a primeira menina. “Porque é muito difícil aparecer e falar em público por causa da extrema-esquerda e de como você será imediatamente silenciada”.

“Não estamos dizendo que não gostamos de transgêneros”, acrescentou ela. “Só que há uma questão de igualdade, já que as meninas estão dando o seu máximo para competir e conseguir coisas boas em seus currículos, e isso é simplesmente tirado delas porque há um homem biológico correndo contra elas”.

As atletas dizem que não têm medo apenas de serem confrontadas ou retratadas como preconceituosas. Elas também esperam entrar para uma universidade e temem que suas opiniões politicamente incorretas possam prejudicá-las.

“Eu pessoalmente quero um futuro como atleta universitária”, disse uma terceira menina ao Daily Signal. “Mas sinto que, se houver um treinador que discorda da minha opinião ou um conselho de admissão que discorda de mim, eles já terão uma visão preconcebida e isso afetará meus treinos ou minha capacidade de entrar naquela universidade”.

“Temos a faculdade pela frente. Tenho medo de que isso possa causar algum impacto”, disse uma quarta menina. “Às vezes os treinadores simplesmente olham as listas e, se você não é a número um, eles não a escolhem”.

“Já ouvi gente dizer que os treinadores simplesmente olham os tempos e não se importam com a sua colocação”, acrescentou a primeira menina. “Mas treinadores universitários vão a esses campeonatos enormes e, se não veem você ali, não prestam atenção a você. Eles prestam atenção às pessoas que estão ali”.

“Essa coisa toda impediu a Selina de participar do campeonato regional da Nova Inglaterra, no qual ela tinha oportunidade de correr diante de treinadores universitários, o que é muito injusto”, acrescentou.

Opiniões incômodas

A hesitação das atletas em se manifestar publicamente levanta uma questão: como a sociedade chegou ao ponto em que estudantes do ensino médio agora sentem que suas opiniões incômodas podem impedi-las de serem admitidas em instituições onde opiniões incômodas deveriam ser exploradas?

Seja qual for a resposta, poucos podem pôr a culpa nas meninas, levando em conta a virulência hoje vista na esfera pública.

A revista Business Insider removeu um artigo que defendia a escolha de Scarlett Johansson para interpretar um homem transgênero num filme. A publicação disse que o artigo violava seus “padrões editoriais” e o autor mais tarde pediu demissão.

Autoridades canadenses supostamente ameaçaram prender um pai se ele chamasse a filha biológica de menina, em particular ou em público, porque ela se identificava como menino.

Nas escolas, o Daily Signal já relatou vários casos de meninas biológicas sendo obrigadas a dividirem vestuários e banheiros com meninos, apesar de preocupações com a segurança e do desconforto.

Mas novamente as pessoas do “lado errado” do debate estão com medo de falar abertamente.

“As portas estão escancaradas nos outros esportes”

A mãe de Selina, Stanescu, disse ao Daily Signal que ela fez “todo o possível para resolver isso e simplesmente abrir um debate” sobre o que aconteceu em Connecticut e o que poderia acontecer se o Congresso aprovasse a Lei de Igualdade.

“As portas foram fechadas repetidas vezes”, disse Stanescu. “As pessoas têm medo de falar”.

Além de criar uma lei nacional de uso dos banheiros, tratamento de saúde e “pronome preferido” com base na identidade de gênero, a Lei da Igualdade consagraria na lei federal o direito de meninos biológicos competirem como meninas em todos os esportes.

Se o projeto foi aprovado, Stanescu alertou que “as mulheres serão erradicadas dos esportes”.

O que está acontecendo em Connecticut, acrescentou ela, acontecerá em todo o país – e não apenas nas pistas e nas quadras.

“Sim, isso está afetando as pistas e as quadras de Connecticut, mas as portas estão escancaradas nos outros esportes, e isso também é algo que se tornará uma questão de segurança”, disse Stanescu. “Isso está tirando a oportunidade de vitória das meninas, mas nos esportes também temos contato físico, e isso pode se tornar um problema sério de segurança”.

“Pode ser potencialmente perigoso ter uma mulher transgênero competindo no basquete, futebol, lacrosse e hóquei de grama, porque elas são fisicamente superiores às meninas”, disse sua filha Selina.

Selina diz tudo isso fazendo questão de deixar claro que defende que os atletas “sejam fieis a si mesmos”.

“Tenho amigos na escola que são transgêneros e sei que, quando eles sofreram para sair do armário ou para decidir sair do armário, estive lá para apoiá-los”, disse ela. “E, quando eles finalmente saíram do armário, eu tive todo o cuidado do mundo com eles. Nunca fui grosseira nem desrespeitosa”.

Mas a situação no esporte não tem “nada a ver com a identidade de gênero e como eles se sentem”, disse Selina. “Tem a ver com o que é certo e justo no esporte”.

Na expectativa por seu último ano no ensino médio, Selina disse que espera correr na faculdade. Ela se referiu ao salto em distância como “um paraíso” no qual “os resultados são justos, porque são meninas competindo contra meninas”.

“Mas agora, infelizmente”, disse ela, com uma expressão de decepção, “um desses atletas começou a competir no salto em distância. Então agora nenhum dos esportes que pratico é seguro”.

Kelsey Bolar é produtora sênior do Daily Signal e coapresentadora do podcast “Problematic Women”.

© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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