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Intelectuais convenientemente omitem o caráter político e esquerdista da ascensão do antissemitismo na França.
Intelectuais convenientemente omitem o caráter político e esquerdista da ascensão do antissemitismo na França.| Foto: Bigstock

A arte da omissão é fundamental. Voltaire dizia que o chato é aquele que se manifesta sobre tudo. O grande escritor austríaco Stefan Zweig cortava dois terços de tudo o que escrevia. Mas às vezes omissões têm outros objetivos que não os artísticos e se traduzem em negligência, quando não coisa pior.

O jornal francês “Le Monde” publicou recentemente uma entrevista com o historiador Pierre Birnbaum sobre o livro que ele escreveu a respeito da ascensão do antissemitismo nos Estados Unidos. De acordo com Birnbaum, em grande medida os Estados Unidos escaparam do antissemitismo europeu, com umas poucas exceções, como o caso de Leo Frank, um jovem empresário judeu linchado na Georgia em 1915, e a restrição à entrada de judeus nas universidades de elite norte-americanas imposta nos anos 1950.

Com a ascensão do populismo trumpista e a proliferação de grupos de extrema-direita como o Proud Boys, contudo, o antissemitismo explícito ganhou força, de acordo com o historiador, de modo que as sinagogas agora têm de ser protegidas de uma forma antes inimaginável.

Comparando a situação norte-americana com a da França, Birnbaum diz o seguinte: “Nos Estados Unidos, assim como na França, as manifestações populistas raciais, com seus preconceitos antissemitas, estão em ascensão, só que na França as consequências dos conflitos no Oriente Médio geram vários ataques antissemitas letais”.

Não falta algo aqui? É como se alguém estivesse tentando falar do antissemitismo na Alemanha dos anos 1930 sem mencionar o nazismo ou dos gulags na União Soviética sem mencionar o comunismo.

A omissão, sintomática da cegueira ideológica ou de uma elegância equivocada, é ainda mais notável porque o filho de Birnbaum, Jean, jornalista do “Le Monde”, tem publicado livros eloquentes sobre a recusa da esquerda francesa em reconhecer o elemento religioso do terrorismo islâmico, entre eles “A Religious Silence: The Left in the Face of Jihadism” [Um silêncio religioso: a esquerda diante do jihadismo] e “The Religion of the Weak: What Jihadism Says about Us” [A religião dos fracos: o que o jihadismo diz sobre nós].

A discordância geracional assume mais do que uma forma.

Theodore Dalrymple é editor-colaborador do City Journal, membro  Manhattan Institute e autor de vários livros.

© 2022 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês 
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