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Manuela d'Ávila (PCdoB), ex-candidata à vice-presidência da República.
Manuela d’Ávila (PCdoB), ex-candidata à vice-presidência da República.| Foto: Evaristo Sá/AFP

Manuela D’Ávila, candidata à vice-presidência pelo Partido Comunista do Brasil nas últimas eleições presidenciais, está virando à direita. Calma, ela não ingressou no Novo, nem deu sua assinatura para a criação do Aliança pelo Brasil, tampouco pediu sua desfiliação do PCdoB. Mas resolveu abrir uma simpática loja virtual, que se chama “E se fosse você”, para levantar fundos contra o capitalismo.

Pelo menos, é o que indica a sua apresentação:

“Durante a eleição, todos os dias vocês me pediam para comprar as camisetas que vestia. Elas são camisetas que ganhei ou comprei de muitas mulheres legais que produzem em todos os cantos do país. Estamos lançando agora uma linha própria de camisetas. [...]

Não somos uma loja. Quando você escolhe uma camiseta, você está auxiliando na resistência e lutamos juntos para combater essa maré de ódio infelizmente instalada em nosso país”. (grifos meus)

Ou seja, Manuela pode alegar que a finalidade da loja não é o lucro, mas o financiamento de seu projeto esefossevc.online (analisaremos seu conteúdo mais adiante), mas o site é, de fato, uma loja. Afinal, o “instituto” tem tudo o que uma loja virtual deveria ter:

Na seção “Camisetas”. Encontramos peças de vários tamanhos e cores, todas com frases à moda progressista, como “Em tempo de ódio, é melhor andar amado”, “Tire sua raiva do caminho, que eu quero passar com o meu amor” e congêneres. O preço é o mesmo para todos os itens (R$ 60,00) e o produto é unissex. Mas, talvez por uma concessão à lei da oferta e da demanda, atualmente é possível adquirir a camiseta VazaJato e Orange is the new Queirós por R$ 40,00.

(Em outras lojas de esquerda, como na do PCO e do PT, cuja finalidade também é financiar o partido, é possível encontrar preços menores. O mesmo vale para as lojas de “camisetas conservadoras”, cujo fim é apenas a prosperidade de seus donos.)

Também é possível adquirir os dois livros de Manuela D’Ávila, Por que lutamos? e Revolução Laura. Bem como a Coleção Filosofinhos, livros infantis sobre a filosofia de Rousseau, Descartes, Marx, Sartre, mas também Platão, Aristóteles e Kant. No momento em que essa matéria estava sendo feita, o material custava mais do que em outras livrarias.

Talvez os preços praticados por Manuela possam ser justificados pelo tamanho do empreendimento, que é bem menor que seus concorrentes. Contudo, como boa vendedora, ela pensou em como dar aquele empurrãozinho para fechar com seu contribuinte/cliente: os kits promocionais. E, para espanto do comunismo raiz, até kit de Natal.

Às compras

Muito bem, se você decidiu comprar algum item, você vai financiar o projeto esefossevc.online, mas o que é isso afinal?

O site anuncia: “Manuela foi nas eleições em 2018 o principal alvo de fake news e ódio nas redes. O instituto trabalha essas duas temáticas, disponibilizando conteúdo de qualidade sobre essas questões e dando subsídios para homens e mulheres resistirem aos tempos sombrios que vivemos.” (grifos meus)

Em suma, é uma plataforma de produção de conteúdo como tantas outras que há por aí, com a diferença de ter uma temática “social” e política em tom esquerdista. Ao acessar o link “podcast”, você encontrará “Em breve.” Em “vídeos”, você encontrará três (de propaganda do próprio projeto). Mas, se você clicar em Apoie, poderá encontrar alguns vídeos de YouTube feitos por Manuela e, é claro, contribuir espontaneamente para que ela possa produzir mais. Até agora apenas 68 pessoas a estão apoiando, sendo o vídeo de abertura de 26 de dezembro de 2018. Pouco para quem ficou na chapa vice-campeã do pleito presidencial.

O grosso da produção audiovisual do instituto está mesmo no YouTube (há apenas uma referência a isso no site). Ali os vídeos estão bastante atualizados, mas há 3 meses estão custando para alcançar mil visualizações.

Lojas online e a produção do conteúdo podem ser percebidos como o estado mais moderno da produção capitalista. E Manuela parece ter abraçado o meio para continuar o seu trabalho político de esquerda.

Curiosamente, o programa do partido do PCdoB, apesar de postular que “o essencial deste Programa é a transição do capitalismo ao socialismo nas condições do Brasil e do mundo contemporâneo”, prevê também que “por surgir das entranhas do modo de produção capitalista [...], a transição para a nova sociedade ainda terá uma economia mista, heterogênea, com múltiplas formas de propriedade [...]. Todavia, progressivamente devem prevalecer as formas de propriedade social sobre os principais meios de produção.”

O único problema é que, como já demonstrou Ludwig von Mises, a transição para o socialismo nunca chegará (simplesmente, porque é impossível a planificação de todo o mercado sem o próprio mercado).

A aventura capitalista de Manuela D’Ávila nos faz lembrar de outra socialista empreendedora, a ex-presidente Dilma Rousseff, que na década de 1990 abriu uma loja de R$ 1,99 e quebrou em um ano e cinco meses. O capitalismo, apesar de suas imperfeições, ainda é o melhor sistema econômico. Talvez, se Manuela abraçá-lo definitivamente, possa escapar do mesmo destino de sua companheira de luta.

PS. Tentamos entrar em contato com Manuela D’Ávila para que ela nos contasse mais sobre o seu projeto, mas não conseguimos resposta.

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