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Mais de quarenta democratas que concorreram a um cargo nas eleições legislativas de novembro se declararam orgulhosamente “socialistas”, incluindo a carinha nova do partido, Alexandria Ocasio-Cortez | Scott Eisen/AFP
Mais de quarenta democratas que concorreram a um cargo nas eleições legislativas de novembro se declararam orgulhosamente “socialistas”, incluindo a carinha nova do partido, Alexandria Ocasio-Cortez| Foto:

Se o futuro do país fosse uma questão de lógica, então os conservadores teriam uma vida bem fácil.

Não é preciso usar nenhum banco de dados. Na escolha entre os dois modelos conflitantes que a civilização judaico-cristã nos deu, com os argumentos socialistas em nome do “governo interventor” por um lado e o sistema de mercado que privilegia a liberdade individual sobre o poder do Estado de outro, não haveria qualquer dúvida.

Na verdade, não haveria uma dúvida formal, já que somente um dos modelos foi colocado em prática no mundo em que vivemos.

Adam Smith, Friedrich Hayek, Ludwig von Mises e Milton Friedman talvez tenham credenciais impecáveis no que diz respeito à teoria, mas o argumento central do trabalho deles é que tudo ocorreu dentro da realidade do livre mercado.

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A Curva de Laffer nunca esteve destinada a ficar presa a uma torre de marfim para ser lida apenas nas páginas de periódicos acadêmicos. As ideias desses grandes nomes da filosofia e economia já foram empregadas no mundo real por estadistas e líderes democraticamente eleitos como Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Essas ideias realmente funcionaram na prática. O mesmo não pode ser dito das teorias de Karl Marx, Friedrich Engels ou Mao Zedong.

Desde que “O Manifesto Comunista” e, mais tarde, “O Capital” foram publicados, o sistema por eles imaginado jamais foi implementado como planejado em nenhum lugar do planeta.

Ah, sim, mais de quarenta países culturalmente diversos como a União Soviética, Venezuela e Vietnã já se consideraram estados “socialistas” ou disseram terem implementado as teorias de Marx, Mao e Lenin.

Mas nenhum deles jamais alcançou o objetivo alardeado de se tornarem um “Paraíso do Operariado”. Nenhuma dessas experiências jamais resultado no objetivo que Marx propôs em sua teoria de 1875: “de todos, de acordo com sua capacidade, para todos, de acordo com sua necessidade”.

Nenhum.

Ao contrário, em todos os lugares onde o socialismo foi tentado, de Moscou a Pequim, de Havana a Pyongyang, o mundo testemunhou o mesmo resultado: opressão das massas, poder e riqueza para os líderes do partido e, em geral, colapso econômico. Isso aconteeu até mesmo na terra natal do comunismo, a União Soviética, que implodiu no Natal de 1991 sob o peso das contradições inerentes ao marxismo.

A reação conservadora

Como resultado, o marxismo e o socialismo continuam sendo apenas teorias, enquanto a democracia e o capitalismo se tornaram realidades inacreditavelmente vibrantes da Grã-Bretanha à Polônia, dos Estados Unidos ao Japão, da Estônia à Índia.

Essas realidades pegaram países pobres como Singapura e os transformaram, em menos de duas gerações, em histórias internacionais de sucesso que Marx, horrorizado diante das chaminés e da exploração dos trabalhadores da indústria têxtil na Revolução Industrial, jamais poderia ter imaginado.

Como os conservadores deveriam reagir aos gritos dos millennials que queriam tanto que o senador Bernie Sanders fosse eleito o 45º. Presidente os Estados Unidos e que argumentam: “E quanto à Escandinávia e os estados nórdicos? E quanto à Suécia, Noruega e Dinamarca, e quanto aos estados socialistas da Europa que promovem a igualdade e o bem-estar social?”

Bom, esses estados valorizam o indivíduo em detrimento do coletivo e realmente criam uma rede incrivelmente generoso de proteção assistencialista. Mas isso não tem nada a ver com “economias planejadas” e partidos únicos.

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Na verdade, o Primeiro-Ministro dinamarquês Lokke Rasmussen se cansou dessa calúnia tão repetida contra as nações do norte da Europa. Numa palestra recente aqui nos Estados Unidos, ele disse: “alguns norte-americanos associam o modelo nórdico a uma espécie de socialismo”.

E ele continuou: “Quero deixar uma coisa bem clara. A Dinamarca está longe de ser uma economia planejada socialista. A Dinamarca é uma economia de mercado”. Ele acrescentou que seu pais é “uma economia de mercado bem-sucedida com liberdade para que as pessoas realizem seus sonhos e vivam a vida como bem entenderem”.

Conhece algo assim?

A verdade é que os países nórdicos e escandinavos criaram sociedades incrivelmente igualitárias com recursos destinados aos necessitados por causa de sua história notadamente não-socialista e graças ao livre mercado. Todos os países têm uma história como economias capitalistas bem-sucedidas, geralmente com base em séculos de concorrência mercantilista, sendo que a Noruega é também um dos maiores exportadores de petróleo do mundo, o que permite que ela financie seus generosos benefícios.

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Para o bem da verdade, a maioria das pessoas desses países são vistas como populações que construíram estados assistencialistas criados sobre os lucros do passado e que agora pressionam seus cofres públicos, uma vez que, à medida que a população envelhece, os custos dos programas assistencialistas consomem os impostos limitados que o Estado consegue arrecadar. Como resultado, é de se esperar ouvir mais declarações como as do Primeiro-Ministro dinamarquês.

“Só mais uma vez”

Mas e quanto à outra reação, a de que as “experiências” socialistas do passado fracassaram apenas porque pessoas erradas as puseram em prática? A lógica aqui é a de que você precisa de elite “certa” para tornar o sonho de Marx realidade, e não de igualdade.

Talvez sim. Talvez não.

Como Einstein nos ensinou, a repetição sistemática do erro na esperança de se alcançar resultados diferentes é a própria definição da insanidade. Depois de um século de tentativas, com centenas de milhões de pessoas usadas como cobaias, onde está a justificativa moral e realista para se tentar “só mais uma vez”?

Além disso, veja os fatos que os historiadores de esquerda nos deram no “O Livro Negro do Comunismo”, no qual relatam todas as tentativas de se criar estados marxistas que funcionassem. Os autores concluíram que as tentativas de tornar “estados socialistas” uma realidade causaram a morte programática de mais de cem milhões de seres humanos, desde os gulags na Sibéria até os campos de extermínio no Cambodja.

Como resultado, outra tentativa de concretizar o sonho marxista não seria apenas imoral, e sim um desrespeito à memória das pessoas que foram mortas em nome de uma utopia artificial.

Então por que o argumento conservador para o sonho norte-americano ainda não é vitorioso? Porque é que, dentro todos os democratas que concorreram a um cargo nas eleições legislativas de novembro, mais de quarenta se declaram orgulhosamente “socialistas”, incluindo a carinha nova do partido, Alexandria Ocasio-Cortez?

E por que é que, de acordo com a mais recente pesquisa da Fundação pela Memória das Vítimas do Comunismo, impressionantes 52 por cento dos millennials gostariam de viver num Estados Unidos socialista ou comunista? Como isso é possível?

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Simples. Mais do que nunca, a política hoje em dia é menos uma questão de realidade e mais uma questão de conexão emocional. Uma sensação de autenticidade, e não de retidão, quanto a qualquer política proposta.

Não foi por acaso que o presidente Donald Trump estrelou seu próprio reality show durante catorze temporadas antes de entrar numa campanha presidencial na qual derrotou dezesseis rivais pela nomeação do Partido Republicano, sendo que catorze deles eram políticos consagrados.

Além do mais, como membros da comunidade filosófica que compartilha do mesmo comprometimento aos princípios econômicos e políticos que definem nossa visão de Estados Unidos, fomos profundamente incapazes de compreender o papel da terrível palavra “narrativa”.

Do zero

A maioria dos norte-americanos é politicamente alienada e não saberia dizer a diferença entre Matt Drudge e Paul Krugman. Eles querem pagar as contas ao fim do mês e terem segurança quanto ao próprio futuro e o futuro de suas famílias. Mas até mesmo o cidadão norte-americano mais alienado associa certas características básicas aos dois lados do espectro político.

A esquerda é vista como o lado que detém o monopólio da solidariedade, da preocupação com os mais necessitados. A direita é hoje vista somente por seu lado negativo: falta de solidariedade, ganância, exploração por parte das grandes empresas. Até mesmo o capitalismo é visto como uma palavra suja, que cheia a compadrio e ao lucro desenfreado.

Para aqueles que não só acreditam como também sabem que o livre mercado e a democracia deram poder a centenas de milhões de pessoas que vivem livremente e saem da pobreza, na verdade mais do que nunca a filosofia política tem que voltar à estaca zero.

Nosso desafio não tem a ver com fatos e números, e sim com emoções, com falar de uma forma que se conecte às almas aprisionadas pelas soluções utópicas de ídolos e falsos profetas.

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Os antigos gregos que estabeleceram as bases da nossa civilização e que inventaram a filosofia política escreveram quase que exclusivamente sobre uma coisa: o que é o “bem”? O que é a “boa sociedade” e o que torna o homem “bom”?

Desde o fim da Guerra Civil até a presidência de Ronald Reagan, os conservadores permitiram que as ideias fatais e perniciosas da esquerda se transformassem em algo exclusivamente associado ao “bem”.

Nosso trabalho é simples, mas difícil. Temos que mostrar – não contar – aos nossos compatriotas que o bem está intrinsecamente ligado à liberdade, ao Estado mínimo, ao livre mercado e ao sucesso meritório, e que vidas cheias de limitação, governo interventor, economias planejadas e esmolas federais destroem a alma e sugam o sangue de sociedades saudáveis.

Com sua capacidade de se conectar aos norte-americanos esquecidos, aos metalúrgicos desempregados do Cinturão do Aço, com sua capacidade de convencer as comunidades negras de uma forma que não se via há décadas, Donald Trump criou uma oportunidade para o movimento conservador do século XXI.

Agora cabe a nós convencermos nossos compatriotas de que os princípios da nossa Independência são melhores do que qualquer versão de socialismo para eles, que o excepcionalismo norte-americano é verdadeiro e “bom” e que todos nós podemos fazer parte do sonho norte-americano, não importa quem somos.

Sebastian Gorka, ex-estrategista do Presidente Donald Trump, é apresentador do programa “America First” da Salem Radio Network”. Ele também é o estrategista de segurança nacional da Fox News, colaborador do site The Hill e autor dos livros “Defeating Jihad: The Winnable War” e “Why We Fight: Defeating America’s Enemies With No Apologies”. 

Tradução: Paulo Polzonoff Jr.

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