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Há décadas, uma história circula pelos corredores da tradicional Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. No primeiro dia de aula da faculdade de Direito, o reitor teria entrado na sala dos calouros e dito a todos eles: “Olhem para a direita. Agora, olhem para esquerda. Um de vocês não estará mais aqui no final do ano”.

Até hoje, é uma incógnita se a cena de fato ocorreu, mas o relato é passado de geração em geração para simbolizar a competitividade que domina o ambiente da elite acadêmica norte-americana.

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Seja dentro das seculares universidades dos Estados Unidos, no mercado de trabalho ou até mesmo na glamourosa Hollywood existem pessoas que não precisam olhar para os lados para enxergar o futuro de fracasso. Elas ganham bolsas de estudos, são promovidas no trabalho, entram nas melhores universidades, terminam doutorados, mas, no final do dia, se autodenominam “fraudes”.

As pessoas que sofrem com a chamada síndrome do impostor acreditam que não merecem as próprias conquistas. O sucesso é atribuído a fatores externos como sorte, indicação, boa vontade dos outros, nunca ao próprio mérito. Elas convivem com o medo de serem “descobertas” por não serem tão habilidosas, competentes ou inteligentes como demonstram ser ou como a atividade que exercem exigiria.

As maneiras de lidar com esses sentimentos variam: alguns passam a buscar padrões inatingíveis de conhecimento e de performance, outros se escondem. Por trás desse sofrimento, pode estar uma tradição empresarial ou acadêmica altamente competitiva ou estereótipos socioculturais, como apontam especialistas.

Às vezes, a pessoa nem conhece o termo e menciona que se sente um impostor. Alguns dizem: ‘Vão descobrir que eu não sei nada’.

Fernando Elias José psicólogo.

A síndrome do impostor foi classificada como fenômeno psicológico há mais de 30 anos. Atrizes como Michelle Pfeiffer, Kate Winslet e Emma Watson já revelaram em entrevistas que se sentem desconfortáveis quando são reconhecidas por seus trabalhos como atrizes. E esse é um dos sinais: a insegurança sobre a própria capacidade não permite que os ganhos durante a carreira ou na vida sejam desfrutados.

Quem mais sofre com a síndrome?

Homens e mulheres em diferentes áreas e de diferentes idades sofrem com esses pensamentos, mas a síndrome pode ter um impacto maior em mulheres e em outros grupos socialmente oprimidos. A realidade sociocultural tem grande peso nessa equação. Durante os anos de pesquisa, Valerie Young, autora do livro “Os Pensamentos Secretos das Mulheres de Sucesso” (Saraiva), constatou que as mulheres procuram ajuda em maior número e assumem a esmagadora autoria das publicações científicas sobre o tema – cerca de 90% das dissertações, por exemplo. Além disso, segundo a especialista, elas tendem a se culpar pelas falhas e pelos fracassos de modo mais pessoal e intenso do que os homens.

Tem a ver com auto-estima?

Não. A síndrome do impostor não tem relação com baixa autoestima, e sequer é um termo rebuscado para isso, de acordo com os especialistas. Os sinais da síndrome do impostor se tornam mais incômodos na execução de atividades em que há expectativas. A baixa autoestima tem a ver com a percepção da própria imagem em todas as situações. “Você não se sente como um impostor quando passeia com o seu cachorro, por exemplo. E sim quando é contratado para um novo emprego ou precisa fazer uma apresentação”, diz a pesquisadora Valerie Young.

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No Brasil

Por ela ser tratada como um fenômeno, e não um quadro clínico, a maior parte dos profissionais de saúde mental no Brasil ainda ignora a síndrome do impostor.

Nos EUA

O termo “síndrome do impostor” surgiu em 1978, quando pesquisadoras americanas publicaram um artigo sobre o comportamento, que julgavam ser exclusivo do sexo feminino.

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