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Os sovietes prometiam ser uma experiência democrática como nenhuma outra. Mas o que se viu foi a concentração de poder nas mãos de Stalin.
Os sovietes prometiam ser uma experiência democrática como nenhuma outra. Mas o que se viu foi a concentração de poder nas mãos de Stalin.| Foto: Reprodução/ Facebook

Quando Bernie Sanders estreou no debate nacional norte-americano, em 2016, a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar em socialismo democrático (a ideia de que o governo detém os meios de produção, mas todos têm direito a voto). Nos quatro anos que se seguiram à derrota dele para Hilary Clinton, contudo, o tema do socialismo democrático se tornou um dos mais comentados da política norte-americana. O Partido dos Socialistas Democratas da América (DSA) ganhou muitos membros novos. Políticos abertamente socialistas, como Bernie e Alexandria Ocasio Cortez, hoje ocupam lugares de destaque no governo.

O socialismo democrático que esses políticos defendem são ideias radicais para os padrões norte-americanos, mas essas ideias estão longe de serem novas. Elas foram postas em prática há um século, do outro lado do mundo, na falecida União Soviética.

O poder dos sovietes

Em russo, “soviete” significa “conselho”. Na teoria, o sistema daria voz a todos os membros do proletariado (a classe trabalhadora) e guiaria o destino deles por meio do voto em seus representantes locais a fim de que seus interesses fossem ouvidos pelo governo.

As fábricas e aldeias compunham os sovietes em seu nível mais básico. As pessoas votavam em representantes que atuavam nos sovietes das cidades maiores. Os sovietes dessas cidades elegiam representantes que atuavam no soviete regional, que por sua vez elegia membros para o soviete provincial. A partir daí, os representantes eram eleitos para compor o Soviete da República Constituinte, que era o soviete responsável pela república específica dentro da União Soviética. Esse grupo enviava representantes para o Soviete Supremo da URSS.

Nos anos 1940, estimava-se que havia um milhão de cidadãos soviéticos participando do sistema. Na teoria, qualquer um podia subir no sistema e um dia chegar ao Soviete Supremo. No papel, esse era o melhor sistema de governo representativo. Os pequenos sovietes locais faziam uma lista do que queriam do governo e essa lista subiria na cadeia de comando. E se o soviete chegava à conclusão de que seu representante não estava fazendo um bom trabalho, ele tinha o poder de substituí-lo no posto.

Em teoria, os sovietes tinham autonomia completa sobre suas jurisdições. Eles podiam utilizar quaisquer recursos do governo como bem entendessem. Eles podiam também se autogovernar. A única exigência era que essas escolhas não entrassem em conflito com os interesses da nação.

Teoria na prática

Embora pareça um bom sistema de governo, a verdade é que o Soviete Supremo raramente se reunia e, quando não estava em sessão, cedia o poder à Presidência da União Soviética. Esse órgão era como os três poderes do governo norte-americano num só. A União Soviética era um Estado com apenas um político partido, o Partido Comunista.

Na chefia do partido, desde os anos 1920 até os anos 1950, estava Joseph Stalin (1878-1953). Em seus primeiros anos no cargo, ele consolidou seu poder, eliminou rivais e acabou se tornando o ditador mais repressivo do século XX. Como chefe do partido, os interesses de Stalin se transformaram nos interesses da nação. Assim, qualquer um que fosse contra ele estava indo contra os interesses nacionais — o que significa tortura e fuzilamento para si e para seus familiares.

Quem impunha os interesses nacionais era a NKVD, mais conhecida como a polícia secreta. Havia espiões por toda a sociedade, à procura de qualquer um que pudesse ser visto como uma ameaça à vontade do líder do partido. Eles procuravam pessoas com parentes no exterior ou capazes de falar mais de um idioma. E, para manter todos na linha, havia expurgos regulares em todos os níveis do governo e da sociedade. Os cidadãos eram executados, punidos e exilados não porque tinham cometido crimes, e sim porque as lideranças tinham de cumprir cotas de 20 mil “antirrevolutionários” castigados numa cidade qualquer e, para agradar aos seus chefes, acabavam por punir 25 mil.

A vida sob o comando de Stalin na URSS “democrática” era puro terror. Quando analisarmos o século XX, tendemos a pensar em Adolf Hitler como o homem mais deplorável da história. Estima-se que 14 milhões de pessoas morreram por causa de suas ações. Stalin o vence por uma margem estimada de 20 milhões.

Socialismo e comunismo: a mesma coisa?

Se um membro do Partido dos Socialistas Democratas da América ler este texto, ele provavelmente dirá que é apenas mais um ataque absurdo contra sua causa. Ele dirá que comunismo não é o mesmo que socialismo. Embora tecnicamente isso seja verdade, a diferença entre os dois não é tão óbvia assim. Eles são farinhas do mesmo saco.

Socialismo é quando a comunidade controla os meios de produção. Comunismo é quando a comunidade controla os meios de produção e consumo. Mas o controle dos meios de produção não pode existir com um consumo “controlado” pelo livre mercado sem que isso resulte na escassez. Isso terá como consequência inevitável, como já vimos em muitos outros países onde isso foi tentado, no controle do consumo por parte da “comunidade”.

E, infelizmente, não há nenhum indivíduo ou grupo inteligente o bastante, sábio o bastante ou capaz de gerenciar detalhadamente a sociedade. Algumas teorias parecem ótimas, mas, quando postas em prática, se provam equivocadas. Com tantos exemplos de fracassos do comunismo e do socialismo, é incrível que tantas pessoas nos Estados Unidos parecem dispostas a dar uma chance a isso.

Na Era da Informação, é muito fácil — e importante — que qualquer um de nós examinemos os erros do passado para que não os repitamos.

Daniel Kowalski é empresário.

© 2020 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês
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