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Sarah e Mike Verardo, com suas filhas Grace (3), Mary Scott (2), e Elizabeth (9 meses) | Lindsay HartThe Washington Post
Sarah e Mike Verardo, com suas filhas Grace (3), Mary Scott (2), e Elizabeth (9 meses)| Foto: Lindsay HartThe Washington Post

Grace Verardo, 3 anos, voltou da pré-escola um dia e falou para sua mãe: “Alguém disse que o Papai é feio”. 

Sarah Verardo resolveu tomar uma atitude. Os ferimentos de guerra de seu marido estavam tendo um efeito maior sobre suas filhas do que ela se dera conta. Mike Verardo sofreu duas amputações, mas Grace sempre o conheceu simplesmente como um “herói bonito”. 

“Percebi que eu precisava dar às minhas filhas ferramentas para lidarem com algo que eu já vinha encarando havia anos – as perguntas, os olhares de espanto”, falou Sarah Verardo, 33 anos, cujas filhas têm três anos, dois anos e nove meses de idade. 

Então ela escreveu e publicou de modo independente um livro infantil, “Hero at Home” (Herói em casa), sobre um veterano de guerra que tem uma perna protética, um braço ferido e uma lesão cerebral que às vezes o leva a “colocar as chaves na geladeira e o leite no armário”. 

Vida após a guerra

Seu público alvo, disse Sarah, eram suas filhas, os coleguinhas delas e pessoas em todo o mundo que queiram entender melhor a situação dos veteranos que sofreram lesões e ferimentos graves em guerras. 

“Eu sou a cuidadora e a responsável por meu marido, mas a coisa mais importante que faço é zelar pela dignidade dele e a de minhas filhas. Isso estava sendo ameaçado”, disse Sarah. “Minha intenção foi explicar às pessoas como é conviver com a guerra”. 

Mike Verardo, 33 anos, era soldado da infantaria do Exército americano, parte da 82ª Divisão Aerotransportada, quando foi atingido por uma bomba improvisada no sul do Afeganistão, em 2010. Ele ficou inconsciente e seriamente contundido, mas a maioria dos ferimentos foi na cabeça. 

Alguns dias mais tarde, sentindo-se apto a trabalhar novamente, ele decidiu voltar para sua unidade, em vez de voltar para casa para se recuperar. Quinze dias mais tarde, foi atingido por outra bomba improvisada. Desta vez a bomba arrancou seu braço e sua perna esquerdos e o deixou com 30% do corpo queimado. 

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Os ferimentos e lesões em seu corpo e cérebro foram tão extensos que a expectativa era que ele não sobrevivesse. 

“Dia Vivo”

O ataque ocorreu no dia 24 de abril de 2010, de modo que esta data neste ano foi seu oitavo “Dia Vivo” anual, um aniversário comemorado por alguns militares veteranos para lembrar um ataque que quase os matou. Os Verardo estiveram em Washington na semana passada para uma cerimônia no Capitólio com a participação dos deputados republicanos Phil Roe, do Tennessee, presidente do Comitê da Câmara para Assuntos dos Veteranos, Devin Nunes, da Califórnia, e outros. 

Sarah e Mike estavam namorando na época do ataque de abril de 2010. Eles se casaram três anos mais tarde. Grace nasceu no ano seguinte, e suas duas outras filhas vieram pouco depois. Sarah disse que a vida da família não é fácil, mas que “nossas bênçãos superam em muito nossos sofrimentos”. Eles vivem nos arredores de Charlotte, na Carolina do Norte. 

Os lucros das vendas do livro vão para o Fundo Independence, organização sem fins lucrativos que dá apoio a veteranos de guerra gravemente feridos e suas famílias. Sarah Verardo é a diretora executiva da entidade e disse que ela, através de programas de cuidadores e defesa das reivindicações dos veteranos, ajuda a atender às necessidades dos veteranos não cobertas por outros organismos. 

Recuperação

No início de seu livro, ilustrado por Inna Eckman, os leitores são apresentados a Grace, seu pai e a guerra que o deixou ferido. 

“Este é o pai de Grace... Ele foi mandado ao Afeganistão para proteger a América e foi ferido em ação enquanto combatia por nosso país... Ele usa uma perna especial que parece uma perna de robô. Seus braços foram reconstruídos com muitas ferramentas”, diz o livro. 

Em seguida se vê um desenho de Grace sentada nos ombros de seu pai, que anda com sua perna protética, usando uma capa vermelha. Há também uma cena dele na praia, com uma das irmãzinhas de Grace em seu colo, em uma cadeira de rodas própria para andar em qualquer tipo de terreno. 

A página seguinte é crucial, porque diz algo que Sarah Verardo observa que muitas pessoas não entendem: “O pai de Grace ainda está trabalhando duro para melhorar”. 

Mike Verardo já passou por mais de cem cirurgias e tem muitas outras em seu futuro. Ele não usa sua perna protética desde dezembro, porque fez uma cirurgia e a ferida ainda está sarando. Seu braço esquerdo foi reconstruído para finalidades estéticas, mas está paralisado. As lesões cerebrais traumáticas que ele sofreu o impedem de funcionar plenamente no dia a dia e de ter um emprego. 

A ideia de recuperação contínua é algo que Sarah diz que vive explicando às pessoas. 

“As pessoas me dizem coisas como ‘A Administração de Veteranos não comprou uma perna para Mike?’ ou ‘conheci um amputado que participou de uma maratona’”, ela contou. “Mike é um caso medicamente muito complicado, ele sofreu uma lesão cerebral traumática grave. Ele é um dos veteranos mais gravemente feridos na guerra. Isto é algo com o qual vamos ter que lidar pelo resto da vida dele.” 

Sarah disse que seu marido, que tem personalidade tímida e é avesso aos holofotes, gostou do livro e de sua mensagem empoderadora. Uma página o mostra no cemitério de Arlington fazendo uma saudação militar diante das lápides de três de seus amigos mortos no Afeganistão. 

A vida da família Verardo não é fácil, mas Sarah e Mike sentem que têm sorte por ele ter voltado da guerra vivo, apesar de seu corpo hoje ser diferente de antes. 

O papai de Grace lhe diz que às vezes as pessoas se ferem e seu corpo muda, diz o livro. Mas elas ainda têm o mesmo coração.

Sarah disse que suas filhas também adoram o livro. Quando Grace o viu pela primeira vez, falou “este é o livro sobre eu e o papai!”. Ela quer mostrar o livro a todos seus amiguinhos. 

“Ela conta a todo o mundo, com orgulho, que seu pai lutou contra os bandidos e ganhou”, disse Sarah Verardo.

Tradução de Clara Allain

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