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Mês passado, um membro da minha congregação judaica ortodoxa me abordou na sinagoga para me contar uma história. Muitas das mulheres da congregação fazem exercícios numa academia só para mulheres, por vergonha. A academia é um sucesso; suas principais clientes são mulheres religiosas que não querem ser vistas por homens nem querem ver homens usando pouca roupa.

De acordo com o membro da congregação, neste mês, uma mulher transgênero – um homem biológico que sofre de disforia de gênero – se matriculou na academia. Esse homem, que mantém suas características biológicas masculinas, entrou no vestiário e começou a se despir. Quando a gerência lhe pediu para usar um vestiário privado, ele se recusou, dizendo que era mulher e que podia ficar nu diante de todas as outras mulheres.

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Este homem recebeu 167 cirurgias para mudar de sexo. Ele vive em um mundo de arrependimento

O resultado foi previsível: muitas das mulheres biológicas começaram a cancelar a matrícula na academia. Quando a gerência perguntou às esferas superiores o que fazer, eles simplesmente disseram que exigir que o homem usasse o vestiário privado ou cancelar a matrícula dele sujeitaria a empresa a um processo e possivelmente a um boicote. Então a academia vai simplesmente perder sua principal clientela por causa de um homem com um problema psicológico que acredita que tem o direito de ficar nu diante de mulheres.

O fato é que há consequências reais nas políticas públicas causadas pela questão dos pronomes transgêneros. Todas essas questões giram em torno de um tema central: a percepção subjetiva é maior do que a observação objetiva? Se a resposta for “sim”, a tirania do indivíduo se torna a norma. Todos nós vamos nos submeter aos desejos, necessidades e vontades de pessoas que precisam de proteção especial da realidade da vida. Temos de reeducar gerações de pessoas para que elas ignorem a ciência em nome dos sentimentos. Temos de forçar indivíduos a abandonar os valores centrais de sua moralidade em nome da sensibilidade.

Não são apenas as mulheres que querem evitar a exposição indecente. Os médicos também. Pegue, por exemplo, uma coluna publicada no mês passado pelo New York Times, escrita por uma mulher chamada Andrea Long Chu. O artigo, intitulado “Minha Nova Vagina Não Vai Me Fazer Feliz”, argumenta que a “cirurgia de redesignação sexual” – um eufemismo grosseiro, já que o sexo não é “designado” por alguém, exceto pela biologia – deveria estar à disposição de todos, com base apenas na vontade.

Chu reconhece que sua nova vagina não é de fato uma vagina, e sim uma “ferida” que “vai precisar de atenção constante e dolorosa para ser mantida”. Chu reconhece que sua disforia “aumentou desde que dei início à transição”. Chu admite: “eu não tinha pensamentos suicidas antes dos hormônios. Agora geralmente tenho”. Ainda assim, diz Chu, ele deveria ter direito à cirurgia de redesignação sexual com base apenas na vontade. “O princípio da não-maleficência é violado em sua própria observação”, afirma Chu. “Seu verdadeiro objetivo não é proteger os pacientes dos males da cirurgia, e sim consagrar os médicos como reizinhos do corpo alheio”.

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Enquanto isso, o Twitter anunciou no mês passado que tentará banir aqueles que usarem o gênero errado ou mencionarem o nome “de batismo” de transgêneros. Em outras palavras, se você disser que Chelsea Manning ou Caitlyn Jenner são homens, ou se usar os nomes “Bradley” ou “Bruce” para se referir a esses transgêneros, o Twitter pode bani-lo por “difamação repetida e/ou não consensual”. Então, ou você aceita a autodefinição subjetiva ou será censurado. O Twitter recentemente baniu uma feminista esquerdista apenas por ela notar que o sexo é uma questão biológica e que homens não podem ser mulheres.

Não para por aí. Como conta Walt Heyer, do Federalist, um caso de divórcio no Texas agora trata de uma mãe que veste seu filho de seis anos, James, como menina e que o chama de “Luna”, contra a vontade do pai, que a mãe acusa de abuso por se recusar a tratar James como menina. Heyer conta: “Ela também quer que o pai pague pelas consultas do filho com um ‘terapeuta de afirmação de transgênero’ e por alterações médicas de gênero, entre as quais esterilização hormonal a partir dos oito anos de idade”. James, por sinal, prefere ser chamado de James e ser tratado como menino pelo pai. Isso não detém a mãe. Se você se recusar a aceitar a opinião de um menino de seis anos – ou, neste caso, da mãe de um menino de seis anos – pode perder o filho num mundo que trata o gênero como algo maleável.

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Há consequências, no mundo real, ao se reescrever deliberadamente a biologia e ao se substituir a objetividade pela subjetividade. Isso quer dizer reescrever o funcionamento de empresas, os currículos escolares, os padrões de tratamento médico, as regras de censura e até mesmo a forma como educar os filhos. A solidariedade por aqueles que sofrem de disforia de gênero é obviamente necessária – ninguém quer que os transgêneros sejam alvo de violência ou perseguição. Mas a solidariedade por um problema psicológico não deveria ser maior do que a realidade objetiva nem do que as prioridades que se baseiam nessa realidade.

“A Roupa Nova do Rei” não é uma história sobre a incrível sensibilidade de uma população educada com base nos desejos subjetivos de um governante protegido pelas roupas que o definem. A mentira desmorona à luz do dia, por mais solidários que sejamos aos que queiram perpetuá-la – a não ser que a força se transforme na ordem do dia.

*Ben Shapiro é editor-chefe do Daily Wire. @benshapiro

Tradução: Paulo Polzonoff Jr.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

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