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No cartaz, Jean-Marie Le Pen | ac/rixPIERRE VERDY
No cartaz, Jean-Marie Le Pen| Foto: ac/rixPIERRE VERDY

Desilusão com partidos tradicionais, temor dos efeitos na economia da chegada de levas de imigrantes, dificuldade de se reerguer da crise de 2008, aversão ao islã (associado com frequência ao terrorismo), desconfiança de projetos e órgãos de governança supranacional, receio do esfacelamento de identidades locais e valores tradicionalistas diante de relativizações multiculturais. 

Extensa, a lista de razões para o fortalecimento do campo conservador na arena política global varia segundo a região que se analisa. Mas a ascensão da direita é hoje um fenômeno de escala planetária, que se construiu paulatinamente, ao longo dos últimos anos. 

Há quem aponte a trinca de surpresas eleitorais de 2016 -a vitória do "sim" no referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, a do "não" na consulta sobre o acordo de paz com as Farc na Colômbia e a que levou Donald Trump à Casa Branca--como pista de decolagem do jato direitista. 

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É fato, no entanto, que ele já taxiava ao menos uma década e meia antes, quando, em 2002, Jean-Marie Le Pen, da Frente Nacional, desbancou Lionel Jospin, do Partido Socialista, para aceder a um segundo turno 100% conservador contra o eventual vencedor, Jacques Chirac (do antigo RPR, hoje chamado Republicanos). 

Naquele mesmo ano, Viktor Orbán, atual porta-voz-em-chefe da retórica anti-imigração (e da ofensiva sobre o Estado de Direito) na Europa central, terminava seu primeiro mandato como premiê da Hungria. 

Na América Latina, por outro lado, uma "onda vermelha" alçava ao poder naquele período Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Ricardo Lagos/Michelle Bachelet (Chile), Alan García (Peru), Tabaré Vázquez (Uruguai) e, mais tarde, Fernando Lugo (Paraguai) --Hugo Chávez comandava a Venezuela desde 1999. Vários deles, aliás, deixaram um legado de escândalos de corrupção. 

O quadro na região agora é bem diferente: conservadores presidem Argentina (Mauricio Macri), Chile (Sebastián Piñera) e Paraguai (Mario Abdo), a esquerda equatoriana vive sob uma luta fratricida e a Venezuela socialista colapsa num caos socioeconômico capitaneado por um ditador. A vitória de Jair Bolsonaro como presidente do Brasil aumenta o time de direita na América Latina.

Na Europa, a direita chegou neste ano ao comando da Itália pela associação sui generis entre a Liga e o Movimento Cinco Estrelas, que se diz antissistema. O país tem eriçado os vizinhos europeus nos últimos meses com medidas como a aprovação de um orçamento que prevê déficit elevado em relação ao PIB e a recusa em receber refugiados resgatados no Mediterrâneo por organizações humanitárias. 

Orbán voltou a ser chefe de governo da Hungria em 2010 e permanece no cargo desde então, posicionando-se cada vez mais como antagonista do eixo progressista que o francês Emmanuel Macron e a alemã Angela Merkel tentam encarnar. 

O húngaro ganhou um reforço neste ano na figura histriônica de Matteo Salvini, o ministro italiano do Interior e vice-premiê. A frente direitista conta ainda com o presidente da Polônia, Andrzej Duda, que lidera uma investida contra o Judiciário que incluiu um expurgo na Suprema Corte. O gesto motivou a abertura de um processo disciplinar pela Comissão Europeia. 

Na Alemanha, a legenda nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), criada há apenas cinco anos, já se tornou o principal partido de oposição à coligação governista, que combina conservadores cristãos e sociais-democratas --e não para de sofrer reveses. 

Neste domingo (28), segundo pesquisa de boca de urna, a AfD, anti-islã e anti-imigrante, conseguiu votação suficiente nas eleições do estado de Hesse para entrar no último Parlamento regional que lhe faltava acessar na maior economia da Europa. 

Na França, a Frente Nacional (depois renomeada União Nacional), capitaneada por Marine Le Pen (filha de Jean-Marie), voltou a disputar o segundo turno em 2017. Perdeu para a candidatura "nem de direita, nem de esquerda" de Macron. 

Na Áustria, ascendeu o Partido da Liberdade, nacionalista, como o sócio-júnior da coligação governista liderada pelos conservadores cristãos do Partido do Povo Austríaco. 

Por fim, na Suécia, onde a social-democracia dominou a cena política por décadas, os direitistas Democratas Suecos cresceram o suficiente, nas legislativas realizadas em setembro passado, para bloquear a formação de um novo governo. O impasse já dura quase dois meses.

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