“Transição para uma economia de baixo carbono”, “desmatamento zero”, “emissão zero de gases de efeito estufa” são expressões bastante presentes nos discursos de Lula e de sua equipe de governo nos últimos meses. A “economia verde” também deve ser um dos temas centrais da visita de Lula à China neste mês. “A meta é atrair mais investimentos. Nós temos muitas possibilidades: energias renováveis, hidrogênio verde, infraestrutura, complexo da saúde, área aeroespacial, educação, ciência e tecnologia, agricultura. É possível avançar ainda muito mais", disse Alckmin. Embora termos caros à militância ambiental sejam apontados pelo PT como saída para a “reconstrução do desmonte das instituições e o reencontro do país com seu futuro como potência ambiental", experiências internacionais mostram que esses slogans ecológicos têm um bom efeito de marketing, mas poucos resultados economicamente sustentáveis.
O relatório final do gabinete de transição petista afirma que “a transição para a economia de baixo carbono é entendida como uma vantagem competitiva para o País, que tem condições de gerar negócios, produtos e serviços com menores emissões de carbono, além de oferecer soluções para as necessidades de mitigação e adaptação às mudanças climáticas”. De acordo com o governo Lula, o assunto é prioridade na área, depois que Bolsonaro “promoveu um desmantelamento deliberado e ilegal das políticas públicas, marcos regulatórios, espaços de controle e participação social, e órgãos e instituições públicas ligadas à preservação das florestas, da biodiversidade, do patrimônio genético e da agenda climática e ambiental”.
Diante da crise europeia de energia, o membro do Parlamento Europeu Daniel Hannan alerta, em artigo no jornal britânico Telegraph, que “o crescimento verde é uma falácia”. “Se realmente existissem tais oportunidades [econômicas], os investidores as encontrariam sem precisar que o estado proibisse algumas fontes de combustível e subsidiasse outras”, argumenta.
Para ele, a corrida para emissões zero de gases de efeito estufa colocou o Reino Unido e a Europa em uma situação energeticamente difícil, caminho que o restante do mundo agora parece querer imitar. “Estamos nessa confusão porque, durante a maior parte do século XXI, ignoramos a realidade econômica em busca da descarbonização teatral. A descarbonização acontecerá eventualmente, à medida que as fontes alternativas de energia se tornarem mais baratas do que os combustíveis fósseis. É apropriado que os governos busquem acelerar esse processo. Mas isso vai muito além de emitir menos CO2. Nossos líderes intelectuais e culturais – produtores de TV, romancistas, bispos, o resto – veem o próprio consumo de combustível como um problema. O que eles querem não é crescimento verde, mas menos crescimento”, critica Hannan.
Economia verde em queda
Dados do Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido mostram que a economia de baixo carbono e de energia renovável não cresceu no país entre 2014 e 2020, período em que também foi registrada queda nos empregos verdes. De acordo com uma reportagem do jornal inglês The Guardian, o número de negócios verdes operando no Reino Unido caiu 13% nos seis anos analisados. Já o volume de negócios combinado para a economia de baixo carbono caiu quase 6% no mesmo período.
Em alguns setores, como o de veículos e infraestrutura de baixa emissão, os empregos mais que dobraram no intervalo analisado (totalizando 19 mil), mas não chegou a compensar o declínio de vagas em outros lugares, como a fabricação de produtos energeticamente eficientes (que perdeu 32 mil postos em seis anos).
“Os empregos 'verdes' são os primeiros a desaparecer quando os tempos ficam difíceis, porque não produzem energia ou valor suficiente”, assegura Andrew Follett, analista de pesquisa na Club for Growth, organização com foco em questões econômicas americanas, governo limitado e políticas públicas conservadoras. “Políticos de esquerda prometem que milhões de bons ‘empregos verdes’ estão chegando, mas as empresas continuam anunciando demissões nesse setor extremamente improdutivo”.
A madeira segue sendo a maior fonte de energia renovável da União Europeia, superando com ampla margem as gerações eólica e solar. O bloco, que tem metas ambiciosas de neutralidade climática, oferece alguns incentivos para a queima da madeira como fonte renovável. Pesquisas recentes feitas pela agência da UE, porém, apontaram que o objetivo de mitigação de mudanças climáticas pretendido por esse meio não está sendo alcançado, já que a queima da madeira emitiria mais dióxido de carbono que a dos combustíveis fósseis. Um documento recente da Agência de Investigação Ambiental (EIA, na sigla em inglês), em colaboração com o Greenpeace Romênia, também mostrou que florestas protegidas da Europa Oriental estão sendo transformadas em granulados de madeira (pellets) para aquecimento.
Cavalo de troia socialista
“Produzir 100% de eletricidade a partir de fontes renováveis é uma impossibilidade prática no futuro próximo”, afirma um relatório divulgado pelo Comitê de Política Republicana do Senado americano, analisando as propostas da esquerda com o Green New Deal. O analista Jarrett Stepman, do jornal conservador Daily Signal, define o plano ambiental dos democratas como uma espécie de cavalo de troia socialista, com sua ideia de “‘tributar os ricos’ a fim de pagar por um enorme programa governamental de combate às mudanças climáticas”.
Longe de “incentivar o setor privado” a adotar políticas mais verdes, o projeto propõe uma intervenção direta do governo, para concluir a transição climática em apenas uma década. “Não é exagero dizer que, se implementado, o Green New Deal derrubaria nosso modo de vida e destruiria a liberdade e a prosperidade que os americanos, de todas as origens, desfrutam atualmente”, alerta.
Stepman salienta que “mudar a economia dos combustíveis fósseis para 100% de energia renovável” exigiria a expansão massiva do orçamento americano “já inchado que está nos enterrando em dívidas”. Para arcar com isso, a única saída seria “aumentar massivamente os impostos e, em seguida, tomar empréstimos e, finalmente, imprimir dinheiro. Em seguida, usar bancos públicos administrados por burocratas irresponsáveis para realizar tudo”, prevê.
Crise no campo
O diretor executivo do Instituto de Reforma Urbana (organização sem fins lucrativos baseada no Texas que trabalha para que cidades gerem oportunidades para a maioria de seus cidadãos), Joel Kotkin alerta que “os sonhos verdes urbanos” devem provocar crises na área rural, dividindo ainda mais campo e cidade. “Embora os [militantes] verdes possam apoiar a noção de pequenos agricultores usando métodos artesanais, e os ricos certamente possam pagar os preços muito mais altos dos alimentos, a agricultura de nicho não pode sustentar a maioria das comunidades agrícolas ou fornecer aos consumidores comuns mantimentos a preços razoáveis”, aponta.
Autor do livro A chegada do neofeudalismo: um alerta para a classe média global (em tradução livre, sem edição no Brasil), Kotkin aponta a Holanda como um exemplo de agricultura bem-sucedida que tem padecido com tentativas recentes do governo de impor reduções de emissões e proibir fertilizantes químicos. O governo holandês promete comprar e fechar até 3 mil fazendas para cumprir metas verdes. Estima-se que os fechamentos cheguem a 11 mil nas próximas décadas e que outras 17 mil propriedades precisem cortar seus rebanhos. “Os governos com foco ambiental estão se concentrando na redução da produção agrícola. Há uma certa ironia no fato de que isso atingirá os agricultores da Holanda , um modelo de eficiência, tanto agrícola quanto em termos de redução de emissões”, lamenta.
Kotkin também chama a atenção para o risco de que a geração de energia solar e eólica consuma “uma fração cada vez maior da superfície do planeta, particularmente em áreas rurais ou selvagens”.
Segundo os cálculos de Jesse Jenkins, professor assistente da Universidade de Princeton, para atingir um “zero líquido” em emissões de carbono, a América precisaria de cerca de 800 gigawatts de capacidade eólica e solar. Acomodar essa estrutura demandaria “aproximadamente a área do Tennessee, então não é brincadeira, ou 15 por cento da área do Texas”, afirma.
Acordos verdes na Namíbia
Um artigo publicado no City Journal em dezembro mostra que uma transição energética planejada da Namíbia, na África, tem potencial de empobrecer o país, ou pelo menos de impedir seu crescimento, além de não resultar em contribuição real para as reduções globais de emissões. Com um consumo per capita dez vezes menor que o dos EUA, o país importa combustíveis fósseis (que representam apenas 6% da demanda total), mas poderia explorar reservas de gás natural suficientes para abastecer sua economia por dois séculos, nos atuais níveis.
Também há reservas promissoras de petróleo na parte oriental da Namíbia, mas acordos verdes (de Kyoto e Paris) levaram o país a formular um plano se comprometendo com a redução de 90% das emissões de carbono até 2027 e com zero emissão até 2050. O impacto global é quase nulo, uma vez que a nação africana responde por apenas 0,003% das emissões mundiais. Ainda assim, o país vem investindo na expansão de fontes eólicas e solar, que representam apenas 4,7% e 0,5% respectivamente da capacidade de geração nacional.
Crescimento econômico como saída
Um editorial publicado no último mês pela revista conservadora americana National Review acentua que o “fundamentalismo climático” se assemelha a uma religião, à medida que não abre espaço para mudanças de ideias. “Da mesma forma, para aqueles convencidos de que comando e controle é a maneira de administrar uma economia, sociedade ou ambos, a crise climática – uma Covid perpétua – está se transformando em um aríete para destruir as defesas que a democracia liberal.”
Defendendo a engenhosidade humana e a capacidade de adaptação da espécie, desencadeadas sobretudo pelo livre mercado, a publicação não nega a existência dos custos das mudanças climáticas, mas afirma que não podem se sobrepor a questões econômicas, políticas e geopolíticas.
“Não faz sentido perseguir políticas climáticas que deveriam produzir um planeta ligeiramente mais frio em meio século, ao mesmo tempo em que tornam o mundo de hoje mais vulnerável a Moscou e Pequim. O mesmo se aplica a políticas que arriscam danos sociais e econômicos significativos por pouco ganho climático óbvio”, escreve. “Acima de tudo, acreditamos que a melhor forma de proteger as sociedades das vicissitudes do tempo e do clima é através da criação de riqueza. Na medida em que a política climática inibe o crescimento econômico, ela é autodestrutiva”, completam os editores.
Pesquisadora do Manhattan Institute e autora do livro Um economista entra num bordel e noutros lugares inesperados para compreender o risco (Vogais, 2019), Allison Schrager reforça que a ideia de que o crescimento econômico destrói o meio ambiente é equivocada. “Mesmo que você aceite a premissa de que temos apenas algumas décadas para atingir emissões zero ou que o planeta está condenado, o crescimento continua sendo nossa melhor esperança. Claro, o crescimento não é perfeito; pode ser irregular e causar perturbações ou degradação ambiental. Mas a alternativa é muito pior”, acentua.
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