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Ashley Paré (esquerda) e Danielle Lucido em Boston. Elas coordenam voluntariamente oficinas de negociação de salário para mulheres | TONY LUONGNYT
Ashley Paré (esquerda) e Danielle Lucido em Boston. Elas coordenam voluntariamente oficinas de negociação de salário para mulheres| Foto: TONY LUONGNYT

Em uma manhã recente, fria e ensolarada, o prefeito de Boston, Martin J. Walsh, subiu ao pódio em frente a uma plateia de 150 executivos reunidos em um hotel no centro para saber como os homens podem ser aliados melhores das mulheres no trabalho. E mais que depressa começou a contar uma de suas histórias favoritas, sobre uma mulher que o abordou em um elevador para agradecê-lo pelo aumento de salário de US$20 mil.

O detalhe: ele não é chefe dela, que recebeu o aumento depois de participar de uma das oficinas gratuitas de negociação salariais que Boston oferece às mulheres desde 2016. 

O que acontece quando uma cidade inteira tenta acabar com a diferença salarial de gênero? Nos últimos anos, Walsh redobrou o compromisso feito em 2013, por seu antecessor, Thomas M. Menino, para trazer a equidade de pagamento à força de trabalho da cidade. O Conselho da Força de Trabalho Feminina de Boston se uniu a empresas e instituições da área, incluindo as maiores, como Morgan Stanley, Zipcar e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), para ajudá-las a elaborar maneiras de melhorar a situação das funcionárias com ideias que compartilham entre si em reuniões trimestrais de boas práticas. 

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A prefeitura também treinou mais de sete mil mulheres em negociação salarial, com o objetivo de alcançar outras 78 mil até 2021. Um prazo mais imediato: a Lei de Salário Igual de Massachusetts, aprovada em 2016, entra em vigor em julho. 

A legislação declara que nenhum empregador, no pagamento de salários, pode discriminar com base em gênero, ou pagar menos do que recebem seus empregados de outro gênero na mesma função. Além disso, proíbe que discipline os funcionários que falarem sobre salário com os colegas ou pergunte a candidatos a empregos sobre seu histórico salarial. 

Com empregadores, trabalhadores e a política trabalhando juntos pelo mesmo objetivo, Boston está buscando o sucesso em uma arena onde décadas de defesa, pesquisa e boas intenções falharam. 

"Se tivéssemos apenas a legislação e os empregadores não estivessem agindo e as mulheres não estivessem exigindo, a lacuna diminuiria um pouco, mas não o suficiente. Tem que ser todas essas coisas juntas", disse Megan Costello, diretora executiva de avanço das mulheres do gabinete do prefeito. 

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Um relatório do ano passado da parceria público-privada Conselho da Força de Trabalho Feminina de Boston, examinou dados de 114 empresas que se comprometeram a acabar com quaisquer diferenças internas, cobrindo 16 por cento dos trabalhadores da cidade, ou quase 167 mil pessoas. Ele mostrou que as mulheres ganhavam uma média de US$73.327 e os homens US$97.062, ou 76 centavos para o dólar masculino, menos do que a média nacional de aproximadamente 80 centavos. (Como com dados de salários na Inglaterra recentemente divulgados, a diferença pode parcialmente ser explicada pela concentração mais elevada de homens em cargos superiores.) 

Longo caminho

Se o progresso na diminuição da lacuna salarial ao longo das últimas cinco décadas continuar no mesmo ritmo, as mulheres nos Estados Unidos só vão atingir a paridade em 2059, segundo cálculos do Instituto de Pesquisa de Políticas Femininas. 

Mas a população de Boston diz que a mudança em sua cidade pode vir mais cedo. "Quatro anos atrás, tínhamos 37 empresas, e estávamos lutando para chegar a 60. Agora estamos com 223", disse Costello, referindo-se aos participantes da oficina. 

"Hoje, em vez de sussurrar, estamos realmente falando sobre isso", disse Ashley Paré, coach de carreira e especialista em negociação que lidera as oficinas em Boston como voluntária. 

Em uma noite de abril, no espaço Back Bay, bem perto das lojas elegantes da Newbury Street, Paré e sua colega mediadora, Danielle Lucito, conduziram um grupo de 16 mulheres através dos fundamentos da negociação. Paré, que se voluntaria como parte do Work Smart, programa nacional administrado pela Associação Americana de Universitárias, começou lembrando a todos que as companhias tinham boas razões para tratar as funcionárias de forma justa. 

"As empresas estão conscientes, especialmente agora com o #MeToo e todos esses movimentos de igualdade. Têm que fazer a coisa certa, porque o talento não vai ficar com elas", disse ao público, cujos membros variavam em idade entre os 20 e os 40 e tantos anos.

Boston foi a primeira cidade a se juntar oficialmente à Associação Americana de Universitárias, que agora também oferece treinamento de trabalho inteligente em Tempe, no Arizona, Washington, San Francisco, Long Beach, na Califórnia, e outros locais em Massachusetts. O grupo diz que planeja treinar 10 milhões de mulheres de todo o país em negociação salarial até 2022, com a adição de um curso de trabalho online da Work Smart em inglês e espanhol, segundo a executiva-chefe, Kimberly Churches, que notou que 39 estados estavam considerando a legislação sobre igualdade salarial este ano. 

Mas reconheceu que, até agora, as oficinas de Boston haviam alcançado principalmente profissionais assalariadas com mais formação do que a força de trabalho feminina da cidade como um todo. 

"Mesmo com o sucesso, precisávamos também ter certeza de que estávamos incluindo bolsões da cidade onde havia um aumento no número de mulheres não-brancas e de assalariadas por hora, para não criarmos uma disparidade ainda maior no status socioeconômico", disse Churches. 

Diferenças

Para as hispânicas, a diferença salarial aumenta para 54 centavos por cada dólar ganho por um homem branco, e para as negras é de cerca de 63 centavos, com base na média de ganhos anuais, de acordo com o Instituto de Pesquisa Política das Mulheres. 

Um relatório sobre os resultados do primeiro ano recomendaram a publicidade em espanhol, crioulo haitiano e outras línguas para atingir as minorias, e o trabalho através de canais como organizações religiosas ou centros de saúde comunitários, para alcançar as mulheres fora dos grupos da indústria. 

Desde janeiro, a prefeitura vem diversificando tanto as participantes quanto os facilitadores, aumentando o número de oficinas realizadas fora do centro em 20 por cento; mantendo-as em 11 filiais da biblioteca pública de Boston, com outras sendo elaboradas; e o trabalho com organizações como a We, Ceremony, uma plataforma de contação de histórias para mulheres de grupos minoritários, e a Latina Circle, uma rede de profissionais. 

Mais da metade dos 166.705 funcionários cujos empregadores apresentaram dados de pagamento ao Conselho da Força de Trabalho Feminina de Boston são "profissionais", em comparação com 32 por cento na grande Boston como um todo, de acordo com o relatório de 2018 do conselho. Em parte, isso é porque muitas das empresas participantes são do setor financeiro, de seguros, de seguro-saúde, farmacêutico, de engenharia e sem fins lucrativos. As companhias envolvidas, conhecidas como 100% Talent Compact, se comprometeram a enviar os dados salariais a cada dois anos. 

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Mas algumas entraram para o conselho porque precisam de mais mulheres. O evento trimestral de abril, que falou sobre os aliados masculinos, apresentou dois representantes da indústria da construção, que é cerca de 9 por cento feminina, de acordo com a Associação Nacional de Mulheres na Construção Civil. David Margolius, executivo de projetos da Shawmut Design and Construction, e Robert Petrucelli, presidente e CEO da Associated General Contractors of Massachusetts, falaram ao lado de Paul Francisco, diretor de diversidade da State Street, uma firma de serviços financeiros. 

Petrucelli disse que inicialmente havia insistido com a diretora de comunicação do seu grupo, Lisa Frisbie, que uma comissão feminina não era necessária, especialmente porque duas delas haviam presidido a diretoria da organização nos últimos anos e que algumas estavam ativas e conduzindo outras comissões. 

"Perguntei por que precisávamos de uma comissão de mulheres. Por que não deixar que se juntem às nossas comissões, que se integrem? Mas, Frisbie e Stacy Roman, outra funcionária na indústria que acabaria presidindo a comissão de mulheres, me disseram por que achavam que a medida era necessária", contou Petrucelli. 

"Elas disseram: 'Não, você não sabe como é difícil, Bob, porque não entende que estamos operando em um vácuo e estamos todas desconectadas'", recordou-se ele. 

A Comissão de Formação de Mulheres na Construção é agora a que mais rápido cresce na organização. 

"Há um conselho que posso dar a meus pares: ouçam. Ouçam e prestem atenção porque os tempos estão mudando", disse Petrucelli. 

 ©2018 The New York Times. Publicado com permissão. Original em inglês

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