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Museu do Holocausto na cidade de Curitiba. Inaugurado em 2011, foi o primeiro do Brasil. | Leticia Akemi/ Gazeta do Povo
Museu do Holocausto na cidade de Curitiba. Inaugurado em 2011, foi o primeiro do Brasil.| Foto: Leticia Akemi/ Gazeta do Povo

Um vídeo publicado pela Embaixada da Alemanha no Brasil em suas redes sociais para mostrar como a Alemanha lida com a história do nazismo gerou muitos comentários. Alguns brasileiros contestaram as informações do vídeo e até negaram que o holocausto tenha acontecido. Entre os comentários, também houve os que disseram que o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista, era de esquerda.

O objetivo do vídeo é mostrar que os alemães não escondem o seu passado. Pelo contrário, desde cedo “eles são ensinados a confrontar os horrores do holocausto. O pensamento é ‘conhecer e preservar a história para não repeti-la’”, informa o vídeo. 

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O filme conta ainda que os alemães começam a aprender sobre o nazismo na escola quando têm entre 13 e 15 anos, e que a maioria das pessoas presencia a história do Terceiro Reich nas ruas, no turismo e nas memórias da família. 

Uma das maneiras pelas quais os alemães contam a história das vítimas do holocausto são as “pedras-obstáculo”, placas douradas fixadas nas calçadas em frente às casas de judeus que foram mortos nos campos de concentração ou em deportações. 

Outros memoriais fazem homenagem às vítimas do holocausto, como o Memorial aos Judeus Mortos da Europa, de 19 mil metros quadrados no centro de Berlim. 

É crime na Alemanha negar o holocausto, exibir símbolos nazistas e fazer o “Hitlergruss”, a saudação nazista feita com o braço esticado. Na sexta-feira (14), um alemão de 34 anos foi condenado a cinco meses de prisão por ter feito o gesto durante uma manifestação da extrema direita em 27 de agosto, segundo o jornal Süddeutsche Zeitung

O vídeo da Embaixada da Alemanha fala também sobre o crescimento do movimento de extrema direita no país. Desde o final de agosto, manifestações foram feitas por militantes da extrema direita após um alemão ter sido assassinado, supostamente esfaqueado por imigrantes. A cidade de Chemnitz, no leste do país, foi palco de várias manifestações e contra-manifestações que reuniram milhares de pessoas. 

No dia 1º de setembro, cerca de 4.500 pessoas atenderam à convocação de grupos de direita para se manifestar contra a política de refugiados, enquanto 3.500 manifestantes se reuniram para denunciar a xenofobia, segundo a emissora internacional alemã Deutsche Welle

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“Quando a saudação de Hitler hoje volta a ser mostrada em nossas ruas, isso é uma vergonha para o nosso país”, afirmou Heiko Maas, Ministro das Relações Externas na Alemanha. As afirmações foram reproduzidas no vídeo da Embaixada.

“Devemos nos opor aos extremistas de direita, não devemos ignorar, temos que mostrar nossa cara contra neonazistas e antissemitas. Então temos que nos levantar do sofá e abrir nossas bocas. Os anos de estado vegetativo discursivo devem chegar ao fim”, continuou Maas. 

Muitos internautas sentiram a necessidade de pedir desculpas à Embaixada pelos comentários dos seus conterrâneos. “Eu admiro a audácia do jovem brasileiro que vem na página da embaixada da Alemanha falar que a Embaixada da Alemanha não sabe sobre a história da Alemanha”, disse um comentarista. 

“Embaixada da Alemanha, peço desculpa em nome dos professores e futuros professores de História deste país, em algum momento houve falha, mas como vocês falaram no vídeo, ondas fascistas também desembarcaram por aqui, se valendo de um terreno fértil, que foi a falta de investimento em educação. Milhões de desculpas.”, disse outro. 

Ensinar a História 

A jornalista alemã Theresa Locker, editora sênior na Vice Media em Berlim, contou à Gazeta do Povo que os estudantes alemães aprendem sobre o Terceiro Reich de diversas maneiras durante o período escolar. “Nós aprendemos não apenas sobre os motivos econômicos e políticos pelos quais uma antiga democracia (a Alemanha na época da República de Weimar) acabou se tornando uma ditadura completa, mas também testemunhamos o legado desse período: visitando campos de concentração, pesquisando em arquivos e convidando e entrevistando sobreviventes do Holocausto”, disse. 

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“Os meus professores garantiam que nós estivéssemos em total contato com o passado recente, e isso nos ajudou tremendamente a compreender os desafios do presente: que precisamos de uma sociedade civil ativa e alerta para prevenir a ascensão do fascismo”, explicou Locker. 

A jornalista conta que o método que mais fez os alunos compreenderem esse período da história foi também o mais dolorido. Os alunos tiveram que pesquisar em suas próprias famílias o que aconteceu com os seus avôs e outros antepassados durante o Terceiro Reich, e compartilhar as descobertas em um café da manhã na casa da professora. “Descobrimos que ainda havia tanta negação e silêncio. Tantas histórias deixavam de lado partes críticas e assombrosas em que as pessoas estava ativamente apoiando Hitler, traindo os seus vizinhos, ou simplesmente ignorando quando não deviam”. 

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Para Locker, a negação de eventos históricos acontece porque a tendência de encobrir e esquecer o que aconteceu é uma tendência humana. “Mas atitudes xenófobas e antissemitas não desaparecem com o tempo. De fato, nos últimos anos, elas se intensificaram enquanto outros conceitos científicos passaram a ser atacados. Assim, qualquer democracia precisa de lembretes públicos do passado, e pessoas que falem abertamente contra qualquer tentativa de manipular e distorcer a verdade bem documentada. Todos temos a responsabilidade de trabalhar para as democracias, e isso começa com a consciência de como pode ser fácil e confortável permanecer em negação”, comentou.

Confira algumas das reações ao vídeo publicado pela Embaixada da Alemanha:

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