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Ao contrário do que pensa o senso comum, no capitalismo moderno a concorrência não é predatória. Nele, as empresas competem pela oportunidade de colaborar.
Paul Rubin: Ao contrário do que pensa o senso comum, no capitalismo moderno a concorrência não é predatória. Nele, as empresas competem pela oportunidade de colaborar.| Foto: Reprodução/ Youtube

A livre concorrência é parte fundamental do livre mercado, mas resumi-la a isso é uma simplificação perigosa. Para o professor de Economia da Emory University e pesquisador no The Independent Institute, Paul Rubin, essa definição é equivocada: o capitalismo existe porque os seres humanos desenvolveram organicamente um sistema elaborado, baseado na confiança e na colaboração, que permite que consumidores, produtores, distribuidores, financiadores e o restante dos participantes do sistema capitalista prosperem.

Seu livro “The Capitalism Paradox: How Cooperation Enables Free Market Competition” [“O paradoxo capitalista: como a cooperação habilita a concorrência no livre mercado] aponta como o livre mercado existe e prospera com base em um sistema de colaboração - derrubando o senso comum que afirma se tratar de um sistema de concorrência desenfreada.

“A competição é importante porque escolhe os melhores colaboradores, mas a colaboração é o motor do livre mercado”, afirma Rubin. Em entrevista à Gazeta do Povo, Rubin explica a base colaborativa do capitalismo e aponta os principais erros dos sistemas socialistas. Confira:

Em seu livro você descreve o conceito de capitalismo colaborativo. Como o capitalismo é colaborativo e não predatório?

Toda transação de mercado envolve colaboração entre milhões de indivíduos, direta e indiretamente. Essa rede gigantesca de produção e consumo ocorre impessoalmente, mas colaborativamente, sem nenhuma coordenação consciente. Além disso, todas as transações de mercado são colaborativas (cooperativas), pois ambas as partes devem concordar e, portanto, devem esperar obter ganhos.

O capitalismo é um sistema complexo de trocas de mercado, envolvendo muitas pessoas e entidades, mas todas essas trocas e transações são colaborativas, pois todas se baseiam em trocas voluntárias.

Como surgiu o capitalismo como conhecemos hoje? O capitalismo “colaborou” em suas origens?

O capitalismo evoluiu à medida que o sistema jurídico começou a permitir trocas cada vez mais voluntárias. Uma doutrina importante foi a criação de “responsabilidade limitada”, o que significa que os investidores em empresas são responsáveis ​​apenas pelo valor investido. Muitas doutrinas relacionadas estão envolvidas na criação do capitalismo moderno.

O livre mercado não é um sistema baseado em concorrência? Como a colaboração funciona neste sistema?

Na verdade, a maioria das relações econômicas é cooperativa e não competitiva. Em um sistema de livre mercado, entidades (empresas, indivíduos) competem pelo direito de colaborar. As empresas competem pelo direito de colaborar com os clientes. Os trabalhadores competem pelo direito de colaborar com os empregadores. A competição é importante porque escolhe os melhores colaboradores, mas a colaboração é o motor do livre mercado.

Isso pode ser observado no empreendedorismo: o empreendedor reúne recursos (pessoas, máquinas, capital) e depois organiza a colaboração entre eles. A economia capitalista livre é o sistema cooperativo mais bem-sucedido que o mundo já viu. 

Então como devemos pensar sobre mercados e economia em uma base colaborativa?

Devemos perceber que empresas de sucesso são aquelas que fazem um trabalho melhor de cooperação com os consumidores. Pode parecer que as empresas de sucesso superaram os rivais, mas na verdade elas tiveram muito sucesso em cooperar melhor com os clientes e com os funcionários. Devemos nos concentrar na cooperação, não na competição.

Quais são alguns dos maiores problemas que o capitalismo enfrenta atualmente? E quais as alternativas para resolver esses problemas?

Primeiramente, é necessário destacar que todos os sistemas de mercado são baseados no capitalismo colaborativo. Os sistemas comunistas e outros sistemas ditatoriais que não permitem o livre comércio não permitem a colaboração e acabam por prejudicar os consumidores.

Considerando isto, os maiores problemas para o capitalismo são os limites que vários governos colocam na colaboração. Isso geralmente ocorre por regulamentos e restrições ao comércio, como licenças ocupacionais excessivas e limites ao comércio exterior. No entanto, alguns governos (como Venezuela e China) controlam todo o sistema e limitam bastante a colaboração.

Com os benefícios óbvios dos mercados sobre o socialismo, por que tantos ainda se opõem aos mercados? Preocupo-me com esse problema há muitos anos. Dado o estado atual da política americana, a questão é ainda mais importante do que quando comecei o livro. Nos Estados Unidos, muitos candidatos a presidente querem eliminar completamente o mercado colaborativo e substituí-lo por um sistema socialista, o oposto da colaboração livre.

As políticas regulatórias que interrompem a colaboração - restrições nos contratos que empregadores e trabalhadores podem negociar ou sobre os tipos de produtos que as pessoas podem vender, por exemplo - reduzem o tamanho do bolo e acabam prejudicando os próprios trabalhadores e consumidores que eles pretendem proteger. Essas ações do governo, por definição, forçam as pessoas a transações involuntárias ou impedem-nas de realizar transações voluntárias.

Ideias socialistas continuam presentes, não só nos Estados Unidos, mas também no resto do mundo. Por que as pessoas ainda se opõem ao capitalismo de livre mercado?

Os seres humanos não são bons economistas intuitivos. Nossas mentes evoluíram em um cenário simples, onde a economia era simples, com pouco comércio, pouca especialização (exceto por idade e sexo) e pouco capital. Nesse mundo não havia necessidade de nosso cérebro evoluir para entender a economia. A principal conclusão foi que nossas mentes evoluíram para ver o mundo como soma zero - seria necessário tirar de um para dar a outro. O pensamento de soma zero é o equívoco por trás da maioria dos erros de política econômica.

Em muitos casos, quando os economistas estão discutindo questões de eficiência (como tributação), os ouvintes estão ouvindo questões de distribuição. Portanto, nós, economistas, faríamos melhor em começar uma discussão mostrando que há efeitos de eficiência (“tamanho do bolo”) antes de mostrar casos específicos.

Ou seja, devemos mostrar que a tributação pode afetar a renda total antes de mostrar como ocorre em um caso específico. Chamo isso de “economia realmente básica”, que deve ser ensinada antes da economia básica. Diz-se às vezes que os especialistas entendem tão bem seu campo que ficam “cegos” ao básico, e essa é a situação aqui.

Como abordagens colaborativas representam o futuro do capitalismo?

À medida que o escopo da livre colaboração aumentar, o capitalismo prosperará e os seres humanos se tornarão mais felizes e satisfeitos. Se o mundo se tornar mais socialista e ditatorial, o capitalismo irá fracassa e os seres humanos se tornarão mais pobres e infelizes.

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