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A atriz Catherine Deneuve assinou a polêmica carta junto com outras 99 mulheres francesas.  | JOHN MACDOUGALLAFP
A atriz Catherine Deneuve assinou a polêmica carta junto com outras 99 mulheres francesas. | Foto: JOHN MACDOUGALLAFP

Em carta publicada pelo jornal Le Monde, cem mulheres, incluindo a reverenciada atriz francesa Catherine Deneuve, criticaram o movimento que está ganhando força a partir dos escândalos de assédio, o qual chamam de novo “puritanismo”, e declararam que os homens são livres para “dar em cima” das mulheres. 

As autoras da carta lastimam a onda de “denúncias” que seguiu as acusações de estupro contra o famoso produtor de Hollywood Harvey Weinstein e falam que o movimento se tornou uma “caça às bruxas” que ameaça a liberdade sexual. 

“Estupro é crime, mas o flerte insistente ou desajeitado não é um delito nem o galanteio uma agressão machista”, escreveram. “Homens têm sido punidos sumariamente, forçados e deixar seus trabalhos quando tudo o que fizeram foi tocar o joelho de alguém ou tentar roubar um beijo”, continua o texto. Além de Deneuve, a escritora Catherine Millet, autora do bestseller “A Vida Sexual de Catherine M.”, também é uma das signatárias. 

A carta foi divulgada dois dias após várias atrizes vestirem preto na cerimônia do Globo de Ouro como forma de protesto contra a opressão e os casos de assédio sexual que abalaram Hollywood recentemente. 

O documento critica campanhas de movimentos feministas, como a #meetoo (#eutambém no Brasil), que dominaram boa parte das discussões na mídia e nas redes sociais em 2017. Segundo as autoras, o que era para ser uma libertação para dar voz às mulheres acabou se tornando o contrário pelo excessivo cuidado em utilizar os termos corretos quando se fala sobre o assunto - o politicamente correto - e por considerar “cúmplices e traidoras” as mulheres que pensam de forma diferente. 

“Os acidentes que podem tocar o corpo de uma mulher não atingem sua dignidade e não devem, por mais duros que às vezes sejam, necessariamente fazer dela uma vítima perpétua. Pois não somos reduzidas ao nosso corpo. Nossa liberdade interior é inviolável. E essa liberdade que nós prezamos não existe sem riscos nem sem responsabilidades”, conclui a carta, que foi traduzida para português pela jornalista Letícia González, idealizadora do Calma, site e canal do youtube voltado ao público feminino. 

Brasil 

Bem antes da #MeeToo, o Brasil também viu surgir campanhas de denúncia contra atos de abuso e assédio sexual, como a “Mexeu com uma, mexeu com todas”, sobre o caso de assédio envolvendo o ator José Mayer, e “Chega de Fiu Fiu”, criada pela ONG Think Olga para coibir o assédio sexual nos espaços públicos. 

A jornalista e fundadora do Catarinas, portal de notícias especializado em gênero, Paula Guimarães, acredita na importância desses movimentos que denunciam a agressão às mulheres. “É uma forma legítima que as mulheres encontraram para se manifestar contra a violência e ao mesmo tempo fazer a sociedade pensar sobre os tratamentos machistas mais sutis que acabam estruturando atos mais violentos”, afirma, acrescentando que o fato de os homens se sentirem prejudicados ou vitimizados é algo menos importante no momento. 

“Não considero que isso seja a principal questão sobre tudo isso que está acontecendo. É preciso mexer no caldo cultural do machismo para que homens comecem a reavaliar muitas de suas condutas. As mulheres sempre se sentiram prejudicadas”, conclui. 

Entretanto o assunto está longe de ser consenso no Brasil. Após a publicação da carta das francesas, a escritora e colunista do Globo Danuza Leão fez coro às críticas ao movimento #MeeToo e aos protestos que ocorreram durante o Globo de Ouro. “Espero que essa moda de denúncia contra assédio sexual não chegue ao Brasil. O que aconteceu no Globo de Ouro me pareceu um grande funeral. Apesar dos vestidos lindíssimos, acho que aquelas mulheres (que foram à cerimônia de preto) foram muito pouco paqueradas e voltaram sozinhas para casa”, disse ao Globo. E acrescentou: “É ótimo passar em frente a uma obra e receber um elogio. Sou desse tempo. Acho que toda mulher deveria ser assediada pelo menos três vezes por semana para ser feliz. Viva os homens”.

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